Monarca do lifestyle que conjuga etnia, virtuose e simplicidade, Sig Bergamin lança livro no Rio e vaticina: “Odeio extreme makeover”


Após badalada noite de autógrafos na Livraria da Vila, em São Paulo, o interior designer conversa com HT e aterrissa nesta quarta-feira (17/12) no Rio para apresentar “Sig Style”, alcorão dos xiítas que não abrem mão de viver bem!

Mestre absoluto do estilo grand monde, Sig Bergamin é responsável por revelar ao Brasil que decoração exuberante não precisa ser sinônimo de dourado com laca vinho e teto rebaixado com luz embutida. Muito menos é daqueles que se refugia no espírito clean de paredes brancas, funcionalismo sem tempero, móveis minimalistas de inspiração escandinava e uma serigrafia de Roy Lichtenstein bem colorida e com uma lâmpada dicroica direcionada para ela, posicionada em uma parede escolhida a dedo, só para dizer que se vive em ambiente criativo. “Se você reparar na paleta dos tecidos indianos, vai perceber que eles são muito mais pops do que o pincel do Andy Warhol“, alfineta.

Ao contrário de vários de seus pares, o às do lifestyle é figurinha fácil nas revistas de decoração que realmente importam com a mesma frequência com que se volta para a simplicidade do artesanato local – do Brasil e de lugarejos por onde circula ao redor do globo, fora do circuitão Elizabeth Arden – para aplicar no set design olhar semelhante ao de sofisticados exploradores de outrora que, em suas andanças pela África, Ásia e América Latina, se deparavam com a emoção do inusitado.

Sig, por exemplo, é autor do delicioso “Eu adoro o Brasil” (Editora A Girafa), fabuloso guia de preciosidades locais onde, como numa prosa de Guimarães Rosa com João Cabral de Melo Neto, dá dicas sobre aquilo que é bacana e para quem colonizados consumidores insistem em não prestar atenção, mesmo estando ao alcance das mãos. Achados imperdíveis como tecidos de chita, com florões que fariam a alegria de qualquer Rugendas. Agora, o designer de interiores dá mais um passo e lança hoje no Rio às 17h “Sig Style”, editado pela Toriba, na NK Store de Ipanema. Isso poucos dias após Cacá de Souza autografar seu livro #Carlos’s Places, caderninho de endereços sobre tesouros encontrados em grandes metrópoles. Sim, esta é mesmo a época dos bambas do savoir vivre dividirem sua expertise privilegiada com os meros mortais. HT tirou seu modelito cáqui de explorador belga no Congo, acrescentou vários colares garimpados em mercados populares planeta afora e, munido de sua verve investigativa, arqueólogica e antropológica (de pessoa que sai pelo mundo garimpando maravilhas por recônditos inesperados), bateu um papinho com o autor.

Sig Bergamin lança Sig Style: em semana de lançamento de publicações que contemplam o lifestyle, o decorador lança livro  que mistura diário,  compilação de projetos e trabalhos e depoimento de vida (Foto: Divulgação)

Sig Bergamin lança Sig Style: em semana de lançamentos de publicações que contemplam o lifestyle, o decorador assina livro que mistura memórias, memorabilia, compilação de projetos e depoimento de vida (Foto: Divulgação)

Difícil dizer que o livro surpreende. Pelo contrário, saborear em páginas impressas a obra de Sig não é surpreendente pelo simples fato que já se espera encontrar exatamente aquilo: imagens de tirar o fôlego criadas por alguém que sabe que ser superlativo não é coisa para qualquer um, mas que basta querer para poder alcançar esta visão de mundo. E ter história, cultura e respirar arte sem qualquer preconceito, mas sem abdicar da fleuma. E, óbvio, é exatamente isso que se vê folheando as 320 páginas do calhamaço. Afinal, na ausência de um sistema solar inteiro para repaginar e de povos alienígenas para difundir o seu trabalho, o decorador se contenta em ganhar o planeta Terra e conquista cada vez mais adeptos com seu estilo inconfundível.

Por isso, na nova publicação – além de fotografias incríveis de ambiente e detalhes – ele dá uma palinha esperta sobre aquilo que mais influencia o seu trabalho: ser ele mesmo. Tipo diário de vida. Ou de bordo. “Com meu Instagram e as mídias sociais, descobri que existe um interesse genuíno das pessoas pela minha personalidade. Nesse livro resolvi ir além e dedico páginas inteiras contando passagens sobre como vejo o mundo, sobre mim mesmo, acerca das coisas que me fizeram ser quem eu sou”, conta ele, como se fosse um intrépido caçador de leões no Quênia, cheio de causos para revelar. Ou um mercador que, de tanto ir a Zanzibar, conhece biroscas repletas de artesanato digno de frequentar átrios de palácios de marajá.

Em uma das passagens do livro, ele conta: “Estou vivendo o momento mais especial da minha vida e isso acentuou a vontade  de dividir o que tenho visto nessas andanças – dos coqueiros de Trancoso ao Rambagh Palace, do Morro do Vidigal à Place Vendôme”. Ou ainda: “A casa foi feita para a gente se divertir. Não podemos ser sisudos com o nosso espaço e é preciso estar atento aos sinais. Se uma criança consegue se entreter com um pompom costurado num pedaço de pano naquela calor insuportável do Butão, também podemos nos divertir com ele por aqui, não é?”

Sim, o criador é alguém que sabe que o ponto de partida para fazer um projeto sério é, antes de mais nada, exercitar aquele olhar de brincadeira de criança, prova de que Sig trabalha com verve de psicanalista lacaniano. Não adianta decorar casa de gente que não é bem resolvida internamente, não é mesmo? Tem que se conhecer bem por dentro para poder passear ludicamente os olhos em um cenário imaginado por ele. “As cores são fundamentais. Decorar um ambiente é fazer pulsar vida”, revela.

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Fotos (Reprodução)

Nascido na singela Mirassol, no interior de São Paulo, e graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Santos, ele se alimenta do ecletismo e da diversidade étnica e cultural, mas, na contramão de gente que só passou a olhar o mundo depois do advento da globalização digital, ele traz nas artérias aquele passado de quem se torna cidadão do mundo não porque nasceu em berço esplêndido, mas porque soube fazer do cosmopolitismo um leito para deitar e rolar. Sig é da mesma estirpe de personalidades privilegiadas como Diana VreelandIris ApfelPablo Picasso e Ferran Adriàilluminati para quem a origem é a base de tudo, para ser quem se é e para quem, independente do lugar onde foi concebido, o que importa é o passaporte carimbado para lugares onde Thomas Cook teria amado desbravar.  Por isso mesmo, ele se exaspera com as soluções fáceis daquilo que se pasteuriza na TV.

“Não existe um só programa sobre decoração bom de verdade na televisão aberta ou a cabo. Ali tudo se dilui, se codifica e se estereotipa. Nada mais horroroso do que entregar a chave da casa para uma equipe de extreme makeover, voltar depois e encontrar um ambiente remodelado sem sequer um traço da identidade de quem mora lá. Tenho medo”, ele conta, revelando que deve passar a ter sua própria atração eletrônica em breve. Delicinha.

De Mirassol para o mundo: com seu olhar global, Bergamin redescobre o Brasil sin perder la ternura jamás (Foto:(Divulgação)

De Mirassol para o mundo: com seu olhar global, Bergamin redescobre o Brasil sin perder la ternura jamás (Foto:(Divulgação)