“Me arrisco a dizer que o BBB 20 está sendo a edição mais relevante em discussão social”, diz Suzana Pires


Em conversa exclusiva ao Site HT, a atriz e roteirista comenta a repercussão do seu post envolvendo a participante do BBB 20, Bianca Andrade, a Boca Rosa. E aproveita para falar do trabalho do seu Instituto, o Dona de Si, esclarecer o papel fundamental da sororidade nas escolhas femininas, e revelar que curte o reality da Rede Globo: “Sempre dou uma olhada no BBB, gosto do programa e acho que ali tem um raio-x social muito interessante. Gosto muito de tudo que o Boninho faz, é um cara que eu admiro. Essa edição, estou acompanhando e gostando. Acho que a mistura das pessoas gerou uma química e alquimia boa. A gente está vendo um debate sobre assuntos muito importantes”

*Por Brunna Condini

No Brasil, país em que aproximadamente 500 mulheres são agredidas por hora, o comportamento de uma participante em reality show, “passando pano”, no comportamento machista alheio, não deveria passar batido. E não passou.

Desde a última segunda-feira, quando a influenciadora digital Bianca Andrade, a Boca Rosa, integrante do elenco BBB 20, famosa por seus vídeos sobre maquiagem, e que sempre pareceu ter uma postura feminista nas redes, demonstrou comportamento que causou estranhamento, ficando “em cima do muro” quando algumas sisters revelaram planos machistas de Hadson e de outros participantes lá dentro, a influenciadora vem sendo criticada na web e já perdeu milhares de seguidores.

Suzana Pires faz post em sua página convidando Bianca Andrade a conhecer mais sobre sororidade (Reprodução Instagram)

E se muitos seguidores anônimos não perdoam mais o tipo de comportamento que não abraça a sororidade, a atriz e roteirista Suzana Pires, se junta a eles. Mas não para criticar simplesmente, e sim, para oferecer esclarecimento. Em post na sua página do Instagram, ela convida a participante, a quando sair, melhorar seu entendimento sobre o feminismo e suas ações. Suzana, fundadora do Instituto Dona de Si, que tem como um dos objetivos ajudar mulheres a descobrir o protagonismo em suas trajetórias, bateu um papo com o site, tentando jogar luz sobre o tema.

“Torço para que quando a Bianca sair, venha bater um papo com a gente aqui no Instituto. Acho que ela poderia fazer o nosso workshop Dona de Si” (Foto: Gustavo Nogueira)

Se a Bianca Andrade aceitasse, como você a auxiliaria no entendimento e nas ações para ter, de fato, a tal Girl Power? “Torço para que quando a Bianca sair, venha bater um papo com a gente aqui no Instituto. Acho que ela poderia fazer o nosso workshop Dona de Si e assistir a palestra, porque para a gente tudo começa aí”, esclarece Suzana. “Todas as mulheres que a gente recebe nos projetos, começam assistindo essa palestra, que é focada, mas com leveza, no entendimento do que é feminismo, no que é sororidade, como a gente pode entender errado essas questões e como você pode realmente ser uma mulher poderosa sem competir com outra”.

“Se a gente realmente não formar uma rede, uma aliança feminina, a gente nunca vai conseguir baixar as taxas de violência contra a mulher, melhorar nossos salários, melhorar nosso lugar na sociedade” (Foto: Gustavo Nogueira)

Há dois anos à frente das ações do Instituto, que pretende fomentar talentos femininos nas áreas do audiovisual, literatura, moda, gastronomia e games, a atriz e roteirista, faz questão de “trocar em miúdos” sobre o tema. “Acho essencial que a sororidade seja entendida como aliança entre mulheres. Você não precisa se tornar a melhor amiga de ninguém, para poder cuidar e ser parceira de outra mulher”, explica. “Foi isso que aconteceu dentro da casa do Big Brother Brasil. Não teve sororidade por parte da Bianca e a sororidade intrínseca ao Girl Power. Se a gente realmente não formar uma rede, uma aliança feminina, a gente nunca vai conseguir baixar as taxas de violência contra a mulher, melhorar nossos salários, melhorar nosso lugar na sociedade. Isso só acontece com a nossa união. A nossa divisão foi construída por um mundo patriarcal, misógino e machista, que sempre quis se colocar como superior as mulheres e um dos truques para isso foi fazer a gente acreditar que uma mulher tem que competir com a outra. Sororidade é a gente recuperar a nossa aliança como time, equipe e parceiras, é a aliança feminina”.

O que acha mais lamentável no episódio do BBB? “O que me fez me posicionar, é que todos os dias saem notícias misóginas, sobre atitudes machistas e eu não vou ficar me colocando sobretudo, eu realmente escolho minhas batalhas. Decidi me colocar diante desse acontecido, porque a Bianca está em um programa de repercussão nacional de muito sucesso. Do lado de fora da casa, ela fala sobre esse assunto e vende produto em cima dele, aí chega na casa e ela age contrário a tudo que fala. Então foi isso que realmente me incomodou demais’.

Ela revela ainda, que curte o reality da Rede Globo. “Sempre dou uma olhada no BBB, gosto do programa e acho que ali tem um raio-x social muito interessante. Gosto muito de tudo que o Boninho faz, é um cara que eu admiro’, revela. “Essa edição, estou acompanhando e gostando muito. Acho que a mistura das pessoas gerou uma química e alquimia muito boa. A gente está vendo um debate sobre assuntos muito importantes, me arrisco a dizer que o Big Brother Brasil 20 está sendo a edição mais relevante em termos de discussão social”.

“Acho essencial que a sororidade seja entendida como aliança entre mulheres. Você não precisa se tornar a melhor amiga de ninguém, para poder cuidar e ser parceira de outra mulher” (Foto: Gustavo Nogueira)

O que acha mais interessante neste tipo de atração? “Especificamente do reality, é como mostra as atitudes e respostas que as pessoas têm na casa e como o público reage às discussões que são levantadas. Por exemplo, essa discussão da Bianca Andrade que foi muito proveitosa, porque isso levanta um debate que é preciso ter. Para falar de um assunto tão sério como o Girl Power, você precisa entender e agir de forma coerente. Então, chega de achar que a coisa de “garotas poderosas” é somente sobre postar uma foto impactante na internet, não é só isso”, analisa. “Toda a questão da série Petrix, outro exemplo, que eu acho interessante, importante porque quando ele está bêbado e tem uma mulher bêbada, ele abusa, vai para cima. A postura do Babu (Santana) eu acho linda, acho um cara de coração imenso e um grande ganho dentro da casa, então eu estou gostando muito”.

Aos 43 anos, Suzana é dona, faz tempo, do seu caminho e escolhas. O que te fez ser a mulher que é hoje, assim tão “dona de si”? “Nunca aceitei que eu não teria as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa, independente do meu gênero. Nunca aceitei que eu não tivesse os mesmos direitos que os meninos. Sempre me vi como um ser humano digno de tudo que eu pudesse conquistar, então isso nunca me parou. Quando eu vi que as mulheres estão paradas em tentar saber seu autovalor e em tentar saber como se faz para serem donas das próprias vidas, parti para a ação, para realmente ajudar as mulheres a crescerem”.

E o que sonha para o Dona de Si? “Nossa, ainda falta muita coisa (risos). O Instituto tem dois anos de funcionamento e com os nossos projetos, com a coluna e com os produtos da marca, a gente já conseguiu impactar mais de 10 milhões de mulheres. Conseguimos acelerar mil mulheres, sendo que dez dessas, já estão bombando no mercado”, contabiliza. “É um trabalho com muito cuidado e zelo. A gente promove uma formação de empreendedoras de si mesmas, uma formação dona de si, para que a mulher saiba o seu valor e como gerir sua vida. Eu só quero continuar fazendo isso e aumentando o número de mulheres que passarem pelo Instituto, para que elas entendam o seu valor no mundo e consigam sair desse lugar que parece que é o que a gente merece, que é um lugar de segunda classe. Não podemos nos acomodar. A mulher que se acomoda não entende o feminismo, mas quem entende, sabe qual é o seu lugar”.

Por que acha que tantas mulheres ainda têm dificuldade de entender e praticar, o feminismo e a sororidade? “Acho que a dificuldade é normal. Vejo que ainda têm mulheres no Instituto, e que falam comigo nas redes e na rua, que não entendem o seu lugar feminino no mundo. Uma mulher que não entende qual o seu lugar e não está atenta, será subjugada socialmente de alguma forma. Você precisa sair do lugar de conforto para entender o que é poder feminino, qual o seu lugar no mundo e o que é de fato feminismo e sororidade. Entender que não é uma balela, e que não é simplesmente falar que são mulheres que não se depilam, não é isso. São mulheres que realmente sabem seu valor no mundo, são mulheres que querem que seu valor seja igual ao dos homens, é simples assim”, completa Suzana, que no próximo mês vai lançar nos cinemas “De Perto Ela Não é Normal”, em que assina o roteiro e também está no elenco ao lado de Ivete Sangalo, Angélica, Gabi Amarantos, Ricardo Pereira, Henri Castelli e Marcelo Serrado.

“Você precisa sair do lugar de conforto para entender o que é poder feminino, qual o seu lugar no mundo e o que é de fato feminismo e sororidade” (Divulgação)