Mariana Lima sobre vídeo no qual critica influencers por só venderem corpos nas redes: ‘Não vejo como estar isento’


Movida por indignação por quem tem visibilidade e milhões de seguidores nas redes sociais, Mariana conta que fez o vídeo num impulso, sem preparação e sem filtro. “”Não é possível. Se houver alguma humanidade verdadeira atrás desses corpos, tenho fé que ela vai aparecer. Ou então é isso que os corpos isentos afirmam: sou um objeto de consumo, não penso, não acho nada, sou só isso aqui. Mas eu acredito na humanidade. Ainda”

*Por Brunna Condini

Se esta matéria fosse um filme, poderia se chamar ‘Mariana Lima e os isentos’. Ou melhor, ‘e os não-isentos’. Já que através de vídeos e posts em sua página no Instagram, a atriz divide sua incompreensão com influenciadores que arrebatam milhões de seguidores, mas escolhem não utilizar sua visibilidade para falar de assuntos relevantes em plena pandemia, que só no Brasil matou 500 mil pessoas até agora.

A atriz, que sempre se posicionou ao longo de 30 anos de carreira, tem se indignado e colocado em pauta reflexões sobre o cenário, tanto que nesta terça-feira (22) virou assunto após postar um vídeo em que critica com fina ironia a performance dos influenciadores digitais neste sentido, e também os incentiva a usar as redes de maneira mais consciente. Mariana aparece de biquíni alertando para a importância do uso de máscaras na prevenção da Covid-19, usando apenas “seu corpo e sua bunda”, como ela mesma diz: “Oi, gente! Tudo bem? Entendi agora que o Instagram precisa de corpo e de bunda para conquistar seguidores. Então esse meu vídeo, de corpo e de bunda, é só para dizer para as influenciadoras e os influenciadores com 20 milhões, 30 milhões (de seguidores) que você pode usar seu corpo e a sua bunda para ajudar a sociedade a lembrar que a gente precisa usar máscara”, postou.

"Você pode usar seu corpo e a sua bunda para ajudar a sociedade a lembrar que a gente precisa usar máscara" (Reprodução)

“Você pode usar seu corpo e a sua bunda para ajudar a sociedade a lembrar que a gente precisa usar máscara” (Reprodução)

A atriz falou ao site sobre a postagem e o momento difícil que o país atravessa, além de exaltar os trabalhos que a alimentam. Mariana escolhe não se calar e faz bonito quando fala. O vídeo ironizando influenciadores e pedindo a atenção para o uso da máscara fez sucesso e vem atingindo seu objetivo. Esse tipo de comunicação nas redes é uma forma de minimizar um pouco da angústia deste momento? “Acredito que sim. Fiz o vídeo num impulso, sem preparação e sem filtro. Sempre me posicionei como artista e atriz, não é novidade pra mim. Sempre me expus, com cuidado, mas me expus. Acredito que sim, nós , artistas, somos canais de comunicação e temos responsabilidades sociais. Estamos vivendo o pico de um momento terrível no país, de profundo obscurantismo e desinformação e só minizaremos a angústia se agirmos nos opondo à essa realidade”.

“Não vejo como estar vivo no Brasil de hoje e estar isento. Isento de quê? De 500 mil mortes?" (Foto: Ana Alexandrino)

“Não vejo como estar vivo no Brasil de hoje e estar isento. Isento de quê? De 500 mil mortes?” (Foto: Ana Alexandrino)

E completa: “Não vejo como estar vivo no Brasil de hoje e estar isento. Isento de quê? De 500 mil mortes? Isenta da profunda desigualdade social que só aumenta?”, questiona. “Não é possível. Se houver alguma humanidade verdadeira atrás desses corpos, tenho fé que ela vai aparecer. Ou então é isso que os corpos isentos afirmam: sou um objeto de consumo, não penso, não acho nada, sou só isso aqui. Mas eu acredito na humanidade. Ainda. E aqueles que apoiaram e apoiam a barbárie, a censura, um dia possam olhar pra trás e refletirem sobre a própria participação no que está em curso. E o que significou ficar em silêncio”.

"Espero que os responsáveis sejam punidos. E aqueles que apoiaram a barbárie, o fascismo, a censura, um dia possam olhar pra trás e refletirem sobre a própria participação no que está em curso” (Foto: Ana Alexandrino)

“Espero que os responsáveis sejam punidos. E aqueles que apoiaram a barbárie, a censura, um dia possam olhar pra trás e refletirem sobre a própria participação no que está em curso” (Foto: Ana Alexandrino)

Dias melhores virão

No início deste mês, Mariana já havia se posicionado em vídeo direcionado à atriz Juliana Paes, que foi criticada nas redes e por outros artistas, quando postou em seu Instagram, que defendia o direito à uma neutralidade diante do cenário político no país. “Não existe comunismo no Brasil neste momento, não existe delírio comunista. O que existe é um país extremamente machucado, pisoteado por políticas públicas, de profundas desigualdades sociais, de muitas mortes por causa de comportamentos do governo de não comprar vacina com antecedência e estimular o tratamento precoce com cloroquina”, respondeu Mariana na ocasião. E reforçou também que todo posicionamento humano é político de alguma forma: “A educação, a arte, as vacinas, tudo é política, não dá pra você não ser político, somos todos seres políticos”.

Como têm sido seus dias ultimamente? “Estou cansada , exausta, mas sobretudo grata por estar viva e trabalhando, grata por ter condições de cuidar da minha família e de quem precisa da minha ajuda. Estar trabalhando hoje com saúde é um privilégio”.

“Estou cansada , exausta mas sobretudo grata por estar viva e trabalhando, grata por ter condições de cuidar da minha família e de quem precisa da minha ajuda" (Foto: Ana Alexandrino)

“Estou cansada , exausta mas sobretudo grata por estar viva e trabalhando, grata por ter condições de cuidar da minha família e de quem precisa da minha ajuda” (Foto: Ana Alexandrino)

A atriz é mãe de Elena e Antônia, de seu casamento de mais de 20 anos com o ator Enrique Diaz, e comenta como eles têm acalentado as angústias das filhas. “Conversamos sobre tudo com elas. Sobre a importância de perceber o que acontece ao redor, no país e no mundo. Sobre a vida mentirosa das redes. Sobre respeito à opiniões contrárias, escuta e respeito às diferenças. Sobre tolerância. Sobre elas serem meninas brancas, plenas de privilégios de acesso à educação, saúde e bem-estar e de como esta é uma situação de privilégio de muito poucos no Brasil”. E sonha: “Gostaria que elas vivessem em um mundo menos desigual, menos racista mais amoroso e gentil”.

Mariana, enrique Diz e as filhas: "Gostaria que elas vivessem em um mundo menos desigual, menos racista mais amoroso e gentil" (Reprodução Instagram)

Mariana, enrique Diz e as filhas: “Gostaria que elas vivessem em um mundo menos desigual, menos racista mais amoroso e gentil” (Reprodução Instagram)

Retratando a vida com afeto

A arte tem abastecido e revigorado Mariana. Ela está no ar com ‘Onde Está Meu Coração’, série do Globoplay escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, comovendo o espectador na pele de Sofia, mãe de uma médica dependente química, vivida por Letícia Colin.“Foi difícil e lindo demais ver o trabalho pronto. Recebo mensagens todos os dias e sou muito grata por termos tocado no coração de um tema tão difícil e doloroso. Sou muito orgulhosa desse trabalho, me emocionei demais fazendo e depois assistindo. Sou apaixonada pela diretora (Luisa Lima), pela equipe e por meus colegas que se entregaram tão completamente”.

Fábio Assunção, Leticia Colin, Mariana Lima e a diretora Luisa Lima nos bastidores da gravação da série (Divulgação)

Fábio Assunção, Leticia Colin, Mariana Lima e a diretora Luisa Lima nos bastidores da gravação da série (Divulgação)

A atriz também já grava a próxima novela das 21h, ‘Um Lugar ao Sol‘, escrita por Lícia Manzo, em mais um papel que traz pautas de relevância para a roda. Mariana interpreta uma ex-modelo de 50 anos que repensa seu casamento quando se apaixona por outra mulher. “A novela é maravilhosa, o texto é incrível, a direção está fazendo um trabalho sobre-humano e impecável em uma situação de confinamento e protocolos de trabalho insanos. Os personagens são ricos e complexos. Estou vivendo a oportunidade de fazer uma personagem que está vivendo a crise da idade, do casamento, da maternidade e da sexualidade. E tudo isso com esses parceiros e parceiras que só me fazem crescer como atriz”, diz Mariana, que segue vivendo outras vidas na ficção com a mesma verdade, força e entrega, que o público espera dela. E mais: a atriz ainda vai lançar o livro de sua peça “Cérebro-Coração” pela Cobogó, e rodou os filmes “Ela e eu”, de Gustavo Rosa, e “A ruptura”, de Marcos Saboya, além de um longa com João Wainer.