Maíra Charken escreve carta para o filho Gael: “Haja esperança! Brasil em ruínas e esse vírus dizimando os nossos”


Segundo o levantamento realizado pelo Instituo Ipsos, com entrevistados de 16 países, quatro em cada dez brasileiros (41%) têm sofrido de ansiedade como consequência do surto da Covid-19. Em nossa nova série ‘Carta às Filhas e Filhos’, que pretende abrir espaço para reflexões e troca de experiências, convidamos a atriz e apresentadora para escrever para o filho Gael, de 3 anos, como um registro do momento para ser lido no futuro: “Seja qual for a resolução disso tudo, saiba que estivemos juntos, ensinando e aprendendo (quebrando a cara também, por que não?) e deixando o melhor registro de nós mesmos nesse fim e início dos tempos. Falo de um passado tão próximo, mas espero que bem longe de todo o caos. Que hoje você seja o homem que começou lá, principalmente em 2020, no auge dos seus 2 para 3 anos, cheio de criatividade, curiosidade e energia para mudar o mundo”

*Por Brunna Condini

Desde que seu filho Gael nasceu há 3 anos, fruto da sua união com o atleta Renato Antunes, Maíra Charken compartilha com seus fãs e seguidores as maravilhas e desafios que a experiência da maternidade tem colocado diante dela.

Nos últimos tempos, a atriz e apresentadora tem se dedicado quase que integralmente à maternidade, e também descobriu sua verve influenciadora nas redes. Maíra é a nossa convidada de hoje da série ‘Carta às Filhas e Filhos’, que pretende abrir espaço para reflexões e troca de experiências sobre a maternidade e a paternidade, e também, falar desta intensa convivência imposta pelo isolamento social, que traz suas benesses e dificuldades.

Gael e Maíra, que escreve carta para o filho em nossa série ‘Carta às Filhas e Filhos’ (Reprodução Instagram)

Se por um lado, a pandemia do novo coronavírus aproximou pais e filhos que passaram a conviver mais em casa, por outro, impôs a necessidade de acolher medos e dúvidas dos pequenos sobre o cenário, isso, quando eles próprios, os pais, estão imersos em incertezas, como todos nós. Além disso, diante do futuro nebuloso, eles precisam lidar ainda, com a própria vulnerabilidade emocional coexistindo muitas vezes, de maneira intensa, com a ansiedade e o medo dos filhos e filhas. Segundo o levantamento realizado pelo Instituo Ipsos, com entrevistados de 16 países, quatro em cada dez brasileiros (41%) têm sofrido de ansiedade como consequência do surto da Covid-19.

Renato Antunes, Gael e Maíra que intensificaram os laços durante a quarentena (Reprodução Instagram)

Maíra escreveu uma carta para Gael ler no futuro. Ela fala das dúvidas e medos, mas também das descobertas e grandes esperanças. Ela entende e reflete em suas palavras a complexidade da maternidade. Do amor incondicional ao cenário apocalíptico que vivemos. Do esforço para elaborar as experiências, passando pela torcida por dias melhores no futuro, vivendo aos poucos mesmo, e alegrando-se por poder ver tão perto o crescimento do seu pequeno, saudável.

“Retrocedemos anos e evoluímos décadas em meses. Voltamos à origem ao mesmo tempo que aprimoramos nossa tecnologia. Ó, vai ser difícil explicar isso tudo para os seus filhos, Gael! “(Reprodução Instagram)

Com a palavra, Maíra Charken:

“Eu realmente não sei as consequências desses tempos sombrios, meu filho. Não sei mesmo! Tudo mudou bruscamente!

 Após seu nascimento, passamos um ano sendo praticamente um (onde um terminava, o outro começava e vice-versa) e aí você ingressou na escola. O mundo passou a ser seu! E você, que já era meu mundo todo, passou a ser parte dele também! Sua curiosidade, energia e entusiasmo com o novo de cada dia me fizeram mais viva do que antes! 

 E foi um ano lindo! Um ano de novas descobertas e amizades, de muitos planos e de uma escola que virou sua segunda casa. Confesso que foi meu renascimento também. A mãe estava precisada desse ‘break’ para voltar a ser mulher novamente. Quando eu estava quase aprendendo a ser ‘gente’ de novo…BAM!! O rompimento! Um ‘pega pra capar’ todo de novo: o ‘mamá’ voltou com tudo, o apego, o aconchego, o desespero! “Nossa, mãe, mas foi assim desesperador voltar a ficar comigo o dia inteiro, novamente?” O desespero vem do não saber! Filho meu, cada dia a seu lado é uma aventura, mas como proceder quando não sabemos o dia de amanhã?

 Retrocedemos anos e evoluímos décadas em meses. Voltamos à origem ao mesmo tempo que aprimoramos nossa tecnologia. Ó, vai ser difícil explicar isso tudo para os seus filhos, Gael! 

 Sabe a internet que a gente não respira sem? Então, Tutu, foi na pandemia que ela se tornou item de primeiros socorros. Nossa janela para o mundo! Nosso meio de transporte em direção às pessoas que amamos. E virou nossa fonte de renda quase que 100% e isso você já sabia! Você já olhava o celular, o ipad e o computador e dizia “vai fazer reunião agora, mamãe?”. 

 Nosso trabalho veio pra casa e nosso lazer também. Que doideira foi definir o fim de um e o começo do outro! Mas estamos conseguindo (aos trancos e barrancos, sim, mas conseguindo)! Graças a esse amor que tem sido combustível para nossos esforços e para a tão necessária esperança. 

 E haja esperança, filhote! Brasil em ruínas, sendo desgovernado com requintes de crueldade, esse novo/antigo vírus que tem dizimado os nossos, e vidas desnorteadas por um ano, que, sei não, capaz de ser apagado do calendário ou até marcar o início de um diferente. 

 Mas seja qual for a resolução disso tudo, saiba que estivemos juntos, ensinando e aprendendo (quebrando a cara também, por que não?) e deixando o melhor registro de nós mesmos nesse fim e início dos tempos. Falo de um passado tão próximo, mas espero que bem longe de todo o caos. Que hoje você seja o homem que começou lá, principalmente em 2020, no auge dos seus 2 para 3 anos, cheio de criatividade, curiosidade e energia para mudar o mundo e fazer dele um lar melhor para os seus filhos e netos. Te amo infinito!”.

“Que hoje você seja o homem que começou lá, principalmente em 2020, no auge dos seus 2 para 3 anos, cheio de criatividade, curiosidade e energia (Foto: Rodrigo Lopes)