Jacqueline Sato: ‘Prefiro pensar que intenções para engajamento das pessoas na causa animal não são egoístas’


A atriz e apresentadora é também ativista da causa animal fazendo sua parte através da ONG que fundou, a ‘House of Cats’, mas também disseminando informações e fazendo apelos constantes nas redes sociais para que as pessoas olhem pelos bichos no país. Ela afirma que a procura por adoções aumentou na pandemia, mas alerta que isso não tem sido o suficiente e que o abandono ainda é uma questão grave, além da desistência nas adoções, como aconteceu recentemente com a atriz Claudia Ohana, que foi muito criticada após devolver dois cachorros adotados na ONG Toca do Bicho, apenas cinco meses após o acolhimento. “O maior problema é que o número de animais em situação de rua, abandonados e precisando de ajuda também aumentou assustadoramente. E é horrível não podermos atender a todos os pedidos de ajuda. Dói muito, mas não temos como acolher mais no momento. Já estamos trabalhando acima do nosso limite desde o início da pandemia’, desabafa

Jacqueline Sato: "A reflexão pré-adoção precisa ser mais profunda e real. Ter um bichinho não é só algo fofinho. É responsabilidade por uma vida" (Reprodução)

Jacqueline Sato: “A reflexão pré-adoção precisa ser mais profunda e real. Ter um bichinho não é só algo fofinho. É responsabilidade por uma vida” (Foto: Arquivo Pessoal/ Gigi Kassis)

*Por Brunna Condini

Engajamento de fato ou modinha? Para Jacqueline Sato pouco importa. Até porque ela sabe o quanto ser solidário faz bem, mesmo que a ajuda de muitos neste mundo ‘instagramável’ esteja ligada a benefícios para a própria imagem. Não é o caso de Jacque. Ela é uma das atrizes brasileiras mais engajadas na causa animal e fundadora da House of Cats, que resgata gatos abandonados e em situação de maus-tratos, cuidando deles até que sejam adotados, e acredita que todo movimento ao redor do tema pode obter resultados positivos.

Ela conta que as adoções na ONG continuam com uma boa média de procura e afirma que muito se deve às medidas de distanciamento social adotadas durante a pandemia do coronavírus. Mas alerta que isso não tem sido o suficiente e que o abandono ainda é uma questão grave, além da desistência nas adoções, como aconteceu recentemente com a atriz Claudia Ohana, que foi muito criticada após devolver dois cachorros adotados na ONG Toca do Bicho, apenas cinco meses após o acolhimento.

“Ter propósito é tudo na vida. É o que nos move inclusive a lutar por causas tão desafiadoras e urgentes como essa. O caminho do acolhimento, união e conscientização me parece o melhor até mesmo para quem ainda não é engajado, mas queira mudar isso, aprendendo, aplicando na vida, e ajudando a difundir ideias positivas e necessárias. Acho excelente termos cada vez mais pessoas falando e agindo. Prefiro pensar que nem sempre as intenções são puramente egoístas. Todos que pudermos trazer para a causa são bem-vindos, mesmo que ainda dando seus primeiros passos”.

"Prefiro pensar que nem sempre as intenções são puramente egoístas. Todos que pudermos trazer para a causa, são bem vindos, mesmo que ainda dando seus primeiros passos" (Foto: Flora Negri)

“Prefiro pensar que nem sempre as intenções são puramente egoístas. Todos que pudermos trazer para a causa, são bem vindos, mesmo que ainda dando seus primeiros passos” (Foto: Flora Negri)

Sobre o caso de Claudia Ohana, a atriz alegou à instituição que não aconteceu a esperada adaptação entre os bichos e ela. “Trazer uma outra espécie para dentro de casa é algo que demanda dedicação, tempo e curiosidade pelo outro. Nunca será como você imagina. Sério. Mas calma, muitas vezes é melhor do que o que você poderia imaginar. Porém é essencial que haja vontade real de investir tempo e amor para tornar aquela relação a melhor possível. E, sim, afazeres diários aumentarão, mas a alegria e ocitocina também. Eu acho que quem decide que quer ter um animal de estimação precisa, cada vez mais, entender que é algo definitivo”, orienta Jacque.

“O ideal é que se tenha em vista sempre o bem-estar do animal, claro. Se for para ele sair do sofrimento, que se busque um novo lar. Mas quando o tutor desiste, acredito que na maioria das vezes não estava pronto. Por isso, acho que a reflexão pré-adoção é que precisa ser mais profunda e real. Ter um bichinho não é só algo fofinho. Isto está incluído, mas é responsabilidade por uma vida que é totalmente dependente de você. Tem tantos casos de tutores que fazem o impossível e conseguem os resultados comportamentais e de qualidade de vida que ambos. Humano e animal de estimação merecem. Estas são as histórias que a gente quer para todos os animais adotados. É este o nível de profundidade e conexão que acreditamos que eles merecem”.

"É horrível não podermos atender a todos os pedidos de ajuda. Dói muito, mas não temos como acolher mais no momento" (Foto: Flora Negri)

“É horrível não podermos atender a todos os pedidos de ajuda. Dói muito, mas não temos como acolher mais no momento” (Foto: Flora Negri)

Representatividade

Na vida como atriz, Jacqueline Sato apresenta a série ‘Bruce Lee: A Lenda’, na Band, e está no streaming com ‘Os Ausentes’, da HBO Max. Quando aborda a carreira, ela também fala de ocupação de espaços e equilíbrio na distribuição de papeis. “A representatividade asiática na TV, no cinema brasileiro e no teatro ainda é pequena e isto é injusto. Produtores de elenco e diretores, por exemplo, precisam entender que tendo mais representatividade em suas produções, atrairão ainda público, pois as pessoas gostam de ver a diversidade na tela. E também entender que isso gera uma reação positiva em cadeia, faz com que outras e outros se inspirem e se sintam capazes de também ocuparem estes espaços. A pluralidade só vem enriquecer qualquer obra”.

"A pluralidade só vem enriquecer qualquer obra. É preciso a oferta de personagens não óbvios e se permitirem se surpreender e surpreender os espectadores" (Foto: Flora Negri)

“A representatividade asiática na TV, no cinema brasileiro e no teatro ainda é pequena e isto é injusto” (Foto: Flora Negri)

E acrescenta: “Em qualquer profissão, todos nós sabemos, que só aprendemos e crescemos através do trabalho constante e consistente. Não em uma única oportunidade seguida de tempos enormes de desemprego, para depois ter outra oportunidade, ou então pior, ter uma única oportunidade e nunca mais. Mas, acima de tudo, é preciso buscar subverter a lógica vigente, diminuindo a desigualdade de oportunidades através de uma escalação não óbvia e que ajude a pluralidade étnico-racial presente no mundo a ser vista e valorizada”.

Jacqueline Sato é fundadora da House of Cats, que resgata gatos abandonados e em situação de maus-tratos (Foto: Repordução/Instagram)

Você pode ajudar? Então, ajude!

A atriz festeja a repercussão positiva do programa Encantadores de Pets, apresentado por ela, na Band, até porque para Jacque a causa animal se mistura na vida e na arte. E aproveita todo espaço para falar das lutas para que os bichos possam ser tratados com mais dignidade no país. “O maior problema é que o número de animais em situação de rua, abandonados e precisando de ajuda também aumentou assustadoramente. E é horrível não podermos atender a todos os pedidos de ajuda. Dói muito, mas não temos como acolher mais no momento. Já estamos trabalhando acima do nosso limite desde o início da pandemia’, desabafa, acrescentando: “São vários os motivos para que este número de animais precisando de ajuda tenha aumentado, entre eles, o fato de que os mutirões de castração foram paralisados por muito tempo por não serem considerados ‘atividades essenciais’, e com isto o número de animais nascendo nas ruas aumentou muito. É absurdo o a quantidade de animais sem cuidados por aí: mais de 30 milhões”.

"Há que se buscar equilíbrio, bem-estar, rever o conceito de maus tratos em todos os âmbitos e criminalizar mais severamente a crueldade que ainda continua ocorrendo em proporções gigantescas" (Foto: Flora Negri)

“Há que se buscar equilíbrio, bem-estar, rever o conceito de maus tratos em todos os âmbitos e criminalizar mais severamente a crueldade que ainda continua ocorrendo em proporções gigantescas” (Foto: Flora Negri)

A atriz lamenta que o cenário atual venha prejudicando ainda mais os animais: “Teve gente que por conta da crise financeira também abandonou. Não tem justificativa para quem abandona um animal na rua e para isso deveriam haver multas altas. É compreensível que uma família, por conta da pandemia, não tenha mais como dar a qualidade de vida necessária para o animal de estimação, sabemos da situação trágica, inclusive de fome em nosso país, mas é possível encontrar uma forma mais humana do que largá-lo por aí. Seja encontrando uma nova família, pedindo ajuda de outras pessoas, encaminhando-o para adoção através de alguma ONG, mas largar na rua não pode ser uma opção”.

E convoca a atenção para a causa no que considera urgente: “Há que se buscar equilíbrio, bem-estar, rever o conceito de maus tratos em todos os âmbitos e criminalizar mais severamente a crueldade que ainda continua ocorrendo em proporções gigantescas. Elevar a pena para quem comete maus-tratos e abandono, sem dúvida, é uma das principais lutas. Mas aproveito aqui para ampliar e jogar luz também à proteção dos animais silvestres, que na minha opinião, devem continuar silvestres. E, claro, não à caça! Que infelizmente, tem sido uma prática facilitada em nosso território ultimamente e que causa inúmeros danos”.

"Não tem justificativa para quem abandona um animal na rua não tem justificativa e para isso, deveriam haver multas altas" (Foto: Flora Negri)

“Não tem justificativa para quem abandona um animal na rua não tem justificativa e para isso, deveriam haver multas altas” (Foto: Flora Negri)

Jacqueline ainda comenta como as pessoas que não podem adotar um animal, mas querem fazer algo pela causa, podem ajudar: “Doando para ONGS e instituições que fazem trabalhos maravilhosos e divulgando o trabalho delas. Também divulgando os animais que estão para a adoção. Apadrinhando um bicho, que nada mais é do que doar mensalmente um valor fixo para ele. Isso ajuda muito, pois a ONG consegue ‘prever’ o quanto de verba que entra e assim pode administrar melhor seus próximos passos. Ser voluntário, oferecendo qualquer tipo de serviço, ou oferecendo tempo e amor aos animais que ainda aguardam por um lar. Pode ser uma hora por semana. Isso já faz diferença”.

Segundo ela, se houver mais tempo para a dedicação, recomenda oferecer ‘lar temporário’, porque, “além de ser uma prática transformadora, que é muito significativa, para quem acolhe e para o acolhido, é o que enxergo como solução para ajudar o maior número de animais possível, já que em algum ‘lar’ ele estará em condições muito melhores do que na maioria dos abrigos”.