Isabela Garcia fala sobre preconceito etário na dramaturgia: “Não há espaço para esse absurdo no audiovisual”


Em entrevista exclusiva, a atriz, aos 54 anos e com 50 de carreira – sim, Isabela começou aos 4 anos! – está em quatro reprises de novelas de grande sucesso e fala sobre o etarismo: “Isso é algo que vai ter que acabar agora! Não há espaço para esse absurdo no nível de mudança que estamos vivendo no setor do audiovisual”. Comenta o marco de novelas como ‘Bebê a Bordo’, disponível no Globoplay e revela que deseja investir no trabalho como diretora. “O aprendizado de ter começado tão cedo foi a responsabilidade, o profissionalismo e a ética que me acompanham. O outro lado disso foi não ter vivenciado muito a infância e adolescência, o que fez falta”

*Por Brunna Condini

Quem estava com saudade de assistir Isabela Garcia na TV, pode aproveitar o ‘cardápio’ de reprises da atriz no momento. Ela está em ‘Sonho Meu‘ (1993) e ‘Paraíso Tropical‘, ambas no canal Viva, e também em ‘Cama de Gato‘ (2009) e a icônica ‘Bebê a Bordo‘ (1988), disponíveis na Globoplay. “A última novela que fiz foi ‘O Sétimo Guardião‘ (2018). Nem dá para sentir saudades com essa quantidade de reprises (risos)”. Aos 54 anos e com 50 de carreira – sim, Isabela começou aos 4 anos! -, ela lamenta sobre algo que infelizmente ainda acontece na dramaturgia, o preconceito etário: “Isso é algo que vai ter que acabar agora! Não há espaço para esse absurdo no nível de mudança que estamos vivendo no setor do audiovisual”.

"Não há espaço para esse absurdo de preconceito etário no nível de mudança que estamos vivendo no setor do audiovisual" (Foto: Kaká Tribuzy)

“Não há espaço para esse absurdo de preconceito etário no nível de mudança que estamos vivendo no setor do audiovisual” (Foto: Kaká Tribuzy)

Feliz com sua trajetória, ela analisa: “O aprendizado de ter começado tão cedo, foi a responsabilidade, o profissionalismo e a ética que me acompanham. O outro lado disso, foi não ter vivenciado muito da infância e adolescência, o que fez falta”. E revela um sonho ainda não realizado na carreira: “Quero trabalhar por trás das câmeras”.

Na pele de Ana, a protagonista libertária de ‘Bebê a Bordo‘, Isabela celebra a possibilidade de rever o trabalho que marcou sua carreira. “Foi uma novela super moderna para época! A maior parte das lembranças vem do trabalho com Roberto Talma (1949-2015), diretor com quem trabalhei em várias obras, que também foi um grande amigo”, conta, sobre a trama que analisa as relações familiares, com temas como maternidade, paternidade e afetividade.

A atriz ao lado de Beatriz Bertu, que vivia sua filha na trama de 'Bebê a Bordo': "Eu simplesmente vivia a Ana, com Paixão. E aí ele era muito verdadeiro, e chegava no coração das pessoas" (Divulgação/ Globo)

A atriz ao lado de Beatriz Bertu, que vivia sua filha na trama de ‘Bebê a Bordo’: “Eu simplesmente vivia a Ana, com Paixão. E aí ele era muito verdadeiro, e chegava no coração das pessoas” (Divulgação/ Globo)

Para relembrar: Sem muitas opções na vida e grávida, Ana participa de um assalto e se esconde no carro de Tonico (Tony Ramos). No momento da fuga, ela dá à luz Heleninha, com o auxílio dele. Depois do parto, Ana some para escapar da polícia e deixa a filha recém-nascida com Tonico. Nisso, acaba repetindo a história de sua mãe, Laura, vivida pela inesquecível Dina Sfat (1939-1989), que também a abandonou no nascimento. Mas dessa vez, Laura acolhe a neta e vai disputar sua guarda. Em paralelo, vários personagens masculinos disputam a paternidade da criança, já que Ana não sabe quem é o pai: “Acho que eu era muito nova e cheia de responsabilidades naquela época para compreender o quanto aquele personagem era grande. No sentido da sua liberdade. Eu simplesmente vivia a Ana, com paixão. E aí ele era muito verdadeiro, e chegava no coração das pessoas”, completa sobre a novela de Carlos Lombardi com narrativa inovadora e repleta de personagens interessantes.

Família, maturidade e autoconhecimento

A atriz é mãe de quatro filhos: João Pedro Garcia Bonfá, 31, com o ex-baterista da Legião Urbana, Marcelo Bonfá; Gabriella Garcia Wanderley, 27, sua filha com o fotógrafo André Wanderley; e os gêmeos Francisco e Bernardo Garcia Thiré, 14 anos, com o ator Carlos Thiré. Ela também tem dois netos, Luísa, 9 e Izzy, 3 anos, filhos de João Pedro. Muito ligada e apaixonada pela família que construiu, Isabela também afirma estar satisfeita com a pessoa que se tornou. “Sou uma mulher que acorda todos os dias com um sorriso no rosto, e que não abre mão de colocar as crianças em primeiro lugar sempre”, diz.

Budista desde 1990, Isabela Garcia compartilha de que forma a prática lhe auxilia a atravessar também os momentos difíceis, como o cenário em que vivemos: “Me ajuda de todas as formas! No meu exercício permanente para que todas as minhas palavras e ações estejam de acordo com o meu pensamento, ajuda no meu exercício de enxergar que todos temos o mesmo potencial para sermos pessoas iluminadas, e transformar assim o ambiente que  vivemos”. E completa: “Me restauro diariamente me conectando à minha espiritualidade e me mantendo unida às pessoas que amo. Essa também é uma das formas que encontro para lidar comas dificuldades”.

Exercitando a compaixão ao próximo e engajada em causas que acredita, ela revela ser conselheira de uma organização humanitária. “Há alguns anos conheci em uma reunião da ONG  IKMR (I Know My Rights) e a ACNUR, com um grupo preocupado  em colaborar com a toda a questão da criança refugiada, a Viviane Reis (fundadora da IKMR), e tive a oportunidade de presenciar todos os seus esforços para atender não só as crianças e familiares que conseguiram chegar ao Brasil, mas parte destas famílias que são separadas de filhos, esposas, que ainda não tiveram a mesma sorte. Luta também de todos os voluntários da IKMR! Desde então, caminho ao lado deles na função que me foi designada. Hoje posso estar como conselheira, mas isso é só um título. Eles sabem que podem contar comigo para tudo”.

"Me restauro diariamente me conectando a minha espiritualidade e me mantendo unida às pessoas que amo. Essa também é uma das formas que encontro para lidar comas dificuldades" (Reprodução)

“Me restauro diariamente me conectando a minha espiritualidade e me mantendo unida às pessoas que amo. Essa também é uma das formas que encontro para lidar comas dificuldades” (Reprodução)