Sabor de Hollywood retrô: Diogo Vilela e Sylvia Massari fazem cinema no palco em “Sim! Eu aceito!”, clássico da Broadway!


Com direção de Cláudio Figueira, atmosfera de longa antigo da MGM é um dos acertos na caprichada produção do musical, que percorre a trajetória de meio século de um casamento, do final da Belle Époque aos anos 1950!

* Com André Vagon

Clássico da Broadway,  “Sim! Eu aceito! – O Musical do Casamento” é encenado pela primeira vez fora dos Estados Unidos em montagem dirigida por Cláudio Figueira e interpretada por Diogo Vilela e Sylvia Massari no Teatro das Artes, no Rio de Janeiro em temporada que já começou esta semana. Na história, a trajetória de um casal é percorrida desde o seu casamento até a velhice, em mais de 50 anos de vida, o que justifica a estranheza do público nas primeiras cenas ao conferir um par de pombinhos recém-casados na pele da dupla de atores da meia idade. Mas, conforme a peça avança e cronologicamente o tempo dispara, fica claro que a escolha pelos atores se revela acertada, com palmas para os dois que, ao contrário de outros colegas de profissão, parecem se refestelar com o fato de a fila ter andado e, se não estão mais na flor da idade, conservarem outras cartas na manga, dispondo de bagagem cênica que lhes permite flanar neste tipo de papel. Bingo.

Naturalmente, o roteiro traz todas as alegrias e desavenças que podem existir na convivência de marido e mulher, e claro que esse mote é prato cheio para levar ao teatro incontável número de pares de todas as idades, todos encontrando semelhanças entre aquilo que se vê no palco e suas próprias existências, assim como aqueles grupos de velhinhas que também riem das desventuras dos protagonistas. Catarse perde.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Fotos: Miguel Sá (Divulgação)

Apesar de não ser (no Brasil), uma produção conhecidíssima do grande público, o musical tem tanta história quanto a de seus personagens. Começou na Broadway em 1951 como ““The Four Poster” de Jan de Hartog, uma comédia estrelada pelo casal da vida real Jessica Tandy e Hume Cronyn quem não conhece os dois, que veja ela nos clássicos “Os Pássaros” (The Birds, de Hitchcock, 1963) ou em outro um pouco mais recente, “Conduzindo Miss Daisy” (Driving Miss Daisy, de Bruce Beresford, 1989, que lhe deu o Oscar de ‘Melhor Atriz’), ou ambos em “Cocoon”, (idem, de Ron Howard, 1985). O sucesso foi enorme e a peça chegou a Hollywood no ano seguinte, com os papeis de Agnes e Michael agora vividos por Lilli Palmer (“A Rainha do Circo”, de Kurt Hoffmann, 1954) e Rex Harrison (“My Fair Lady”, de George Cukor, 1964), com o nome “O leito nupcial” (The Four Poster, de Irving Reis, 1952).

Em 1966, “I Do! I Do” musical baseado no original estreou na Broadway com  texto e letras de Tom Jones e música de Harvey Schmidt, encenado por Robert Preston (“Victor/Victoria”, de Blake Edwards, 1982) e Mary Martin, atriz que atuou no cinema somente do final dos anos 1930 aos anos 1940, mas que se tornou lenda da Broadway. Em a seguida, a turnê correu o país com Rock Hudson e Carol Burnett substituindo a dupla. É essa versão que é encenada agora no Brasil, com adaptação de Flávio Marinho.

A obra traz a proeza de manter em cena somente um cenário fixo e um par de atores que se desdobram em interpretar e cantar (com direito a um numerozinho de sapateado em que Diogo Vilela arrasa), ao invés da parafernália de tapadeiras que entram e saem de cena, palcos giratórios, escadarias que surgem do nada e um gigantesco número de coristas em cena. Nada disso. São só Diogo e Sylvia segurando as duas horas de entretenimento, na atuação e no gogó, com ele afinado e ela, claro, causando furor com sua voz privilegiada.

Ainda assim, mesmo com o talento dos dois, a peça perde um tiquinho de ritmo em algumas passagens, já que o roteiro piegas é algumas vezes previsível. Mas quem diz  que a plateia liga para isso, tamanha a identificação? Afinal, é preciso levar em conta que, ainda que as questões abordadas sejam sempre atuais na relação de um casal, o idealismo romantizado é condizente com a época em que o texto foi escrito e hoje o mundo é muito mais complicado. Okay. Motivo suficiente para enxergar a montagem com a mesma ingenuidade gostosa com que se assiste a um velho musical da MGM na televisão, e a delícia está justamente nisso.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Fotos: Miguel Sá (Divulgação) 

Nesse âmbito, os atores deitam e rolam, podendo brincar de cinema antigo no palco, trazendo à tona inclusive alguns cacoetes que costumam carregar, sem que isso atrapalhe nada. Soma-se a isso o capricho da produção, com cenografia e figurino primorosos de Clívia Cohen e destaque para os costumes confeccionados pelo alfaiate Macedo Leal, profissional com extensa lista de ótimos serviços prestados ao teatro nacional. O troca-troca de roupas é um deleite, com o entra-e-sai de Diogo causando um furor parecido com o que se tem quando se comparece a um desfile masculino de Alexandre Herchcovitch na São Paulo Fashion Week. Completando o requinte de carpintaria, o bom visagismo de Sergio Azevedo e a ótima luz de Marco Cardi. Até a contrarregragem cênica está inserida no contexto,  e seria injusto não mencionar a ótima música ao vivo a cargo dos pianistas Priscilla Azevedo e Marcelo Farias, que se encarregam de colaborar pra o esse clima de Hollywood retrô ao vivo.

* André Vagon é coreógrafo pós-graduado em psico-motricidade, diretor de cena em shows e eventos corporativos, estudioso e professor de dança, tendo atuado por mais 20 anos como bailarino profissional nos palcos e na televisão. Crítico de dança e espetáculos do HT, para ele a vida é puro movimento

Serviço:

“Sim! Eu aceito! – O Musical do Casamento “

Teatro das Artes: Shopping da Gávea, Rua Marquês de São Vicente, 52 – Gávea – Rio

Tel: (21) 2540-6004

De 5/12 a 29/3

Quinta-feira a sábado, às 21h

Domingos, às 20h

Preço:

Quintas e sextas, R$90

Sábados e dom,ingos, R$100

Duração 120 minutos

wwww.teatrodasartes.com.br