Gastronomia + arte: trio de chefs embala criações culinárias em mimos idealizados por artistas!


É mole? Anna Elisa de Castro, Mariana Vidal e Nelson Fonseca são daqueles que têm epifanias múltiplas, que vão de Adriana Varejão a Pierre Landry, além de temporada com Jamie Oliver!

Dizem que mais de um na cozinha vira zona. Dona Benta e Tia Nastácia já diziam isso, mas elas pertencem à old school, e não é o caso do 3 na Cozinha, o bufê bacana da trinca de chefs Anna Elisa de Castro, Mariana Daiha Vidal e Nelson Fonseca que, cheios de ótimas intenções, só trabalham com ingredientes brazucas em receitinhas que revitalizam a culinária nacional. E mais: ainda convidam um time de artistas plásticos da hora para inventar bandejas personalizadas e suportes-escultura para taças de espumante, levando o conceito de arte da gastronomia às últimas conseqüências. Sim, a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!

Mariana Vidal, Nelson Fonseca e Anna Elisa de Castro: fazendo arte na cozinha (Foto: Divulgação)

Mariana Vidal, Nelson Fonseca e Anna Elisa de Castro: fazendo arte na cozinha (Foto: Divulgação)

O grupo tem bagagem: Elisa tem bufê há mais de 20 anos, ama arte, tem mãe cozinheira de mão cheia e já cozinhava na cozinha de bonecas onde brincava, na antiga fazenda de sua avó. Daí que acabou estudando raw food no The Natural Gourmet Institute for Health and Culinary Arts, em Nova York, tendo servido festas e personalidades badaladas como Steven Jobs, Sting e Uma Thurman. E mais: atuou como food stylist em quatro livros: Tavern on the green, Everyday Raw, Entertaining in the raw, Melissa’s Bakery.

Mariana é ex-advogada defensora de causas politicamente corretas, estudou em Georgetown, em Washington, e trabalhou em um importante escritório de direito, mas, apaixonada por gastronomia, largou a balança de Minerva em prol dos hábitos pantagruélicos de Baco e sua trupe, se tornando amiga do renomado chef francês Pierre Landry, com quem fez workshops, além de publicar receitas experimentais no seu blog Saboreando Histórias. Em 2009 se juntou à Anna, com a dupla ganhando depois a adesão de Nelson, que já tinha sido estagiário da primeira. Este estudou arquitetura, é amigo de artistas plásticos e comunga da visão artística das duas, tendo também freqüentado as cozinhas da sua família quando era menino. Chegou a estagiar na Brasserie CT, de Claude Troisgros e foi sous-chef no Bistrô La Cigale, no Leblon, mas acabou indo se especializar em Amsterdam e na Itália, ficando uma temporada no restaurante Fifteen, do renomado Jamie Oliver, aquele do programa no GNT. Quando resolveu voltar ao Brasil, o circo armado.

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Fotos: divulgação

Entre os ingredientes usados pelos dos três, uma fornada de cremes queimados de cacau, queijos da Serra Canastra e baiões de dois, tudo made in Brazil, no lugar de brulês, bries e risotos, com destaque para a camupu, frutinha nordestina com nome de mulher jacutinga da vida, mas que confere alegria a várias receitas em forma de geléia, acompanhando biscoitinhos de parmesão com queijo nacional, um inesperado equivalente brasileríssimo do brie francês, no gosto e na consistência.

E, como tudo na vida vem de uma epifania daquelas que mudam a existência humana, Anna Elisa comenta que, em um curso de arte do qual participou na cultuada Inhotim, em Minas, sob a batuta de expert Charles Watson, bem em frente do pavilhão de Adriana Varejão, teve a ideia ímpar de unir – literalmente! – arte e comida. Bom, quem não teria um insight estupendo diante de uma obra da artista plástica, não é mesmo? “Se a gente já curte misturar os ingredientes, mixar arte e comida foi um pulo”, admite.

Assim, de volta ao Rio, ela se reuniu com suas caras-um terço (são três, ué!) e resolveram convidar um grupo de bambas dos pinceis para criar bandejas e suportes para o bufê. Entre os que toparam customizar bandejas, gente hype como Smael, Luluta Alencar, Mika Chermont, Peu Mello, Thomaz Velho, Lim Lima, Bia Sotter, Graziela Pinto e Gra Mattar, cujo resultado pode ser conferido nesta semana no rega-bofe promovido na Galeria Paçoca, na Gávea, no Rio, para apresentar o conceito. Deu tão certo que agora os chefs já pensam em aventais para abrilhantar o time de garçons. Afinal, a ideia tende a se expandir e os três entendem que nunca mais pode rolar aquele visual de “os pingüins do papai” para o staff.

Entre as finas iguarias que eles concebem, brigadeiros com cacau baianíssimo, daqueles que fala “Ô, meu paim!” ocupando o troninho que já foi esquentado pelos belgas e tortas onde a esnobe pecan desenrola o tapete vermelho para a castanha do Pará. Já o ravióli ganha uma versão com banana da terra, de deixar mulata com o vestidinho de chita ouriçado, não? “Fazemos questão de matérias-primas frescas, sem agrotóxicos, na levada do orgânico em cardápios que trazem de volta a memória afetiva da nossa infância, repleta de referências indígenas, africanas e portuguesas. Daí a valorização da nossa cultura”, enche a boca Elisa, batendo no peito da brasilidade. “Um mix entre a comfort food, com comidas que trazem à tona essas lembranças, e a slow food, que prioriza os ingredientes sazonais, vindos de fornecedores próximos e cuidadosamente selecionados, seguindo o princípio do “bom, limpo e justo”, completa cheia de segurança.