Gabriela Alves: longe da TV, ela é terapeuta: ‘Cansei das máscaras, do ego. Não tem preço ajudar alguém’


Filha da atriz Tânia Alves, ela agora é mentora da arte do ser, terapeuta da alma e especialista em Constelação Familiar. “Um dos focos é a criança interior, que todos nós a carregamos. Ela nos traz alegria, leveza, espontaneidade, entusiasmo, sensibilidade, inocência, qualidades importantes. Mas essa criança na infância também teve experiências de dor. Então, ajudo pessoas a curarem a sua criança interior e não tem preço ver o sorriso no rosto de uma pessoa”, explica Gabriela que, durante o próprio processo de mudança profissional, teve em paralelo o de autoconhecimento. “Quando a gente trabalha como artista, temos uma cobrança muito grande em relação a nossa imagem. Então, passei por tudo, bulimia, anorexia, distorção de imagem, carências, compulsão”

Gabriela Alves: longe da TV, ela é terapeuta: 'Cansei das máscaras, do ego. Não tem preço ajudar alguém'

* Por Carlos Lima Costa

Gabriela Alves estreou na TV aos quatro anos interpretando um anjinho no Sítio do Picapau Amarelo. Na juventude, brilhou em novelas como Despedida de Solteiro (1992/1993), Mulheres de Areia (1993) e Tropicaliente (1994). Amor e Revolução, exibida até janeiro de 2012, foi sua mais recente aparição na televisão. “A questão da competitividade, do caras e bocas, das máscaras, do ego, do excesso da vaidade, tudo isso me cansou”, pontua. Insatisfeita e buscando outros caminhos, ela deixou os holofotes e vem atuando na área terapêutica. “O que faço hoje me preenche muito. Não tem preço ajudar a colocar o sorriso no rosto de uma pessoa”, acrescenta ela, que é formada em Constelação Familiar.

“Sou também Terapeuta da Alma, Mentora da Arte do Ser. Compreendendo que a maior parte dos nossos condicionamentos são programados na infância, um dos focos do meu trabalho é a criança interior, que todos nós a carregamos. Ela nos traz alegria, leveza, espontaneidade, entusiasmo, sensibilidade, inocência, várias qualidades importantes. Mas essa criança na infância também teve experiências de dor. Então, o meu trabalho é ajudar pessoas a curar a sua criança interior, acolhê-la. Todas as dores nos reservam aprendizados”, explica.

E prossegue: “São três passos para a vida adulta: acolher a sua criança, ressignificar a sua história e honrar os seus ancestrais, porque quanto mais fortes são as suas raízes, melhores são os frutos que você pode trazer para o mundo. Então, ajudo as pessoas a encontrarem dentro de si mesmas os recursos adormecidos, desenvolvê-los para que elas possam tomar plenamente as vidas em suas mãos e superar os desafios.”

Gabriela sempre buscou o autoconhecimento e a espiritualidade. Há uns 15 anos, iniciou uma jornada profunda de transformação pessoal. “Fui tendo uma compreensão melhor de mim mesma e dos meus próprios processos. E aí há mais de sete anos, a arte da cura realmente me pegou de jeito. Senti que estava na hora de colocar a serviço do próximo”, acrescenta ela.

"A perfeição é inalcançável tanto para homens quanto para mulheres e isso cria uma sensação de desencaixe, de inadequação que vai gerar uma série de outras disfunções como a própria depressão", avalia Gabriela (Foto: Reprodução Instagram)

“A perfeição é inalcançável e cria uma sensação de desencaixe, de inadequação que vai gerar uma série de outras disfunções como a própria depressão” (Foto: Reprodução Instagram)

Além de atendimento individual, ela oferece vivências de grupos, com retiros, workshops. Gabriela passou pelo processo de cura de sua criança interior. “Não existe certo ou errado e, sim, desafios que fazem parte da nossa jornada de crescimento. Tive infância atípica, comecei a trabalhar muito criança, fui criada pela minha avó e eu era a única criança na escola que tinha pais separados. Tudo isso cria marcas. Então, minha jornada de autoconhecimento me ajudou e por isso sinto a necessidade de compartilhar”, reforça.

Ela ressalta que percebe muitas pessoas com ansiedade, síndrome do pânico e depressão. “O estresse é uma desconexão consigo mesmo, com seu tempo interno, com as necessidades da alma. Muitos criaram um sistema no qual estão o tempo inteiro buscando cumprir protocolos sociais, que, às vezes, não são em harmonia com a essência. A perfeição é inalcançável tanto para homens quanto para mulheres e isso cria uma sensação de desencaixe, de inadequação que vai gerar uma série de outras disfunções como a própria depressão. Ela é mais comum em mulheres, porque vivemos em um sistema patriarcal que é muito opressor. Nós mulheres ficamos tão preocupadas em pertencer, em provar o valor, ser reconhecida, aprovada, que chegou um momento que nem nos reconhecemos mais. É como se a gente fosse se deformando para ser aceita. E o que é a depressão senão o vazio existencial”, pondera.

E relata a própria história: “Eu passei por tudo, bulimia, anorexia, distorção de imagem, carências, compulsão. Uma época, estava mais fortezinha e engordei um pouco mais. E ensaiando para gravar uma cena de novela, um diretor gritou alto, na frente de todos e meio que debochando: ‘Tá ficando gordinha’. Eu era uma menina! Pela forma como falou parecia que estava dizendo que eu estava perdendo talento. Bateu tão forte, que não conseguia me olhar no espelho. Ali foi a gota d’água e eu comecei a ter disfunção alimentar. Então, quando resolvi tomar o leme da minha alimentação nas mãos, ler o livro da minha mãe (Emagreça Feliz, da atriz Tania Alves), que já tinha o spa Maria Bonita e fiquei superbem. Foi quando fui fazer Tropicaliente e aí a vida imita a arte, a arte imita a vida. Minha personagem que era toda complexada, ganhou concurso de beleza. Vi que a relação com o corpo está ligada à alma, com a forma que você se nutre não só de alimentos, mas de amor”, avalia.

Gabriela Alves e a mãe, a atriz Tania Alves (Foto: Reprodução Instagram)

Gabriela Alves e a mãe, a atriz Tania Alves (Foto: Reprodução Instagram)

Segundo Gabriela, “a gente compensa nossas ansiedades, inquietações, carências e inseguranças com a comida. Ao ler o livro, vi que não era só uma questão estética de cuidar do corpo, mas da alma também. Cheguei a pesar 42 quilos por causa de estresse. O fato é que estava tendo disfunção da imagem, mas não conseguia perceber que estava tão magra”, relembra.

Ela não descarta retomar a profissão de atriz. “Não é que eu não pretenda voltar a atuar. Voltarei se tiver algo que me toque à alma. O meu chamado é resgatar o sagrado da arte, porque transforma, inspira. Por isso que a arte não interessa aos governos ditatoriais, porque eles não desejam que as pessoas pensem, sonhem, expandam as suas consciências. Senti que podia ajudar mais por trás das câmeras. Do teatro, eu sinto muita saudade e escrevo sobre minha jornada. Quando compartilho nas minhas redes sociais, eu sinto que dou voz à muitas pessoas. Então, tenho vontade de colocar o que eu escrevo no palco, mas estou muito criteriosa, seletiva”, avalia.

Outros fatores também estavam incomodando. “É um somatório, eu acho que esse excessivo culto ao corpo e à imagem. A questão da competitividade, do caras e bocas, das máscaras, do ego, do excesso da vaidade, tudo isso me cansou. Eu sou humana, vi que estava bem numa linha tênue de realmente me perder nisso também, porque a gente tem nossas carências e é um culto tão grande ao ego, à imagem, à vaidade que é muito fácil você cair nesse lugar, de acreditar nisso. Decidi que precisava resgatar minha essência e o que faço hoje me preenche. Não tem preço ajudar a colocar o sorriso no rosto de uma pessoa”, explica.

"O trabalho que faço hoje como terapeuta me preenche muito. Não tem preço ajudar a colocar o sorriso no rosto de uma pessoa”, explica Gabriela (Foto: Reprodução Instagram)

“O trabalho que faço hoje como terapeuta me preenche muito. Não tem preço ajudar a colocar o sorriso no rosto de uma pessoa”, explica Gabriela (Foto: Reprodução Instagram)

É com essa consciência que, em 1º de janeiro de 2022, Gabriela vai celebrar 50 anos. “Estou bem melhor, cada vez mais. Me sinto muito mais dona de mim. Vale dizer que não tem a ver com idade, mas como você processa as experiências da sua vida. Até fisicamente estou me curtindo também, tendo mais qualidade de vida”. Ela não teve filho. “Por uma série de circunstâncias. Cheguei a engravidar, mas enfim, perdi. Não foi por falta de querer e tenho vontade de adotar”, diz Gabriela que está solteira há quatro anos. “Já morei várias vezes com namorados. Tem uns que a gente ficou um tempo morando juntos, mas eu não considero tanto que foi casamento, foi meio que uma temporada. Seguindo a tradição familiar, casamento mesmo foram uns quatro. Nem é tanto. A minha mãe teve oito”, revela.

Gabriela Alves tem passado a pandemia recolhida no Spa Maria Bonita, em Nova Friburgo. “Nesse momento, agradeço ao universo por estar aqui. Geralmente viajo bastante pelo Brasil com meu trabalho terapêutico. Às vezes, ficava um mês longe. Como estava viajando muito, vinha sentindo vontade de me aquietar um pouco e veio a pandemia”, relembra ela, acrescentando que “por estar mais isolada em meio à natureza não impactou tanto. Já tenho um estilo de vida que é mais de solitude, diferente de solitário. Graças a Deus, agradeço de estar protegida nesse oásis, de poder receber pessoas e ajudar a passarem por momentos delicados, oferecendo qualidade de vida e um acolhimento psicoemocional, porque é realmente um momento onde a vida de todo mundo está numa balança, com as pessoas tendo que repensar suas vidas, se reestruturando financeiramente”, avalia.

"Às vezes, me sinto uma adolescente e em outras, uma anciã, acho que tenho todas as mulheres dentro de mim. Estou achando o máximo fazer 50 anos, meio século”, assegura Gabriela (Foto: Reprodução Instagram)

“Às vezes, me sinto uma adolescente e em outras, uma anciã, acho que tenho todas as mulheres dentro de mim. Estou achando o máximo fazer 50 anos” (Foto: Reprodução Instagram)

No início dessa crise sanitária internacional, o local permaneceu fechado. “Depois que recebemos autorização para reabrir, seguimos todos os códigos de conduta impostos pela vigilância sanitária e hoje em dia estamos abertos, mas sem o mesmo fluxo de gente e todo mundo de máscara, álcool em gel espalhado por tudo quanto é lado, sem aglomeração”, explica ela, contando que a mãe, Tania Alves, uma das donas do local, já está vacinada contra a Covid-19. E acrescenta: “Aqui no spa também ofereço terapias, vivências e estou cada vez mais dedicada também a atender online. E também escrevo sobre autoconhecimento para o site Personare”, conta. No Instagram de Gabriela, gabi.alves.toulier, existe conteúdo para os interessados em conhecer o trabalho terapêutico. “Eu fiz uma série linda chamada Homo Sapiens batendo um papo somente com homens que estão nesse processo de desconstrução dessa masculinidade tóxica. E, agora, estou com uma série linda chamada Natureza Feminina, só com mulheres. São bate papos sobre temas pertinentes a alma humana, a vida”, finaliza.