Fashion Rio # day 4: do Dia dos Mortos em Puerto Vallarta à estufa da Lenny, tudo são flores em noite memorável!


Em noite que terminou com pé direito, Herchcovitch arrasa na 2nd Floor, borboletas e sereias cativam e mulheres-hibisco provam que a moda praia do Rio não tem para ninguém!

* Por Alexandre Schnabl

Se a moda fosse um espetáculo teatral, com direito a roteiro, este quarto dia de Fashion Rio seria o grand finalle. Foi o que o público pensou quando assistiu, boquiaberto, ao desfile da Lenny Niemeyer, que encerrou o evento e, também, a temporada oficial de desfiles de Verão 2015. Mais do que uma coleção maravilhosa, a grife executou uma sinfonia de mais alto nível e os convidados puderam sentir aquele gostinho que é misto de catarse e sublimação no fundo da boca, com direito a palpitação no coração, tipo aquilo que se experimenta quando se sai de uma ópera esplêndida, de um filme maravilhoso, de um balé incrível, daquilo que faz sonhar.

O dia começou com o desfile externo da Ellus 2nd Floor no Centro Cultural Ação da Cidadania, aquele galpão majestoso no Centro do Rio, bem grandão. Outra marca, a Colcci, já havia feito um desfile ali há alguns anos, em um show que teve Gisele e cia fazendo tableau vivant em palco giratório, o que dá a pista das maravilhas que se pode fazer neste espaço privilegiado. Agora, a grife que tem a direção criativa de Adriana Bozon usa o mesmo espaço para viajar para as praias mexicanas. Tipo Puerto Vallarta? Bom, não exatamente. A 2nd Floor é jovem, tem um jeito transgressor e ainda conta nessa temporada com a mão firme de Alexandre Herchcovitch, que assina a edição e styling, o que já fica claro que nada precisa ser óbvio. Desta vez, há indicações de que os balneários do México estão ali através dos leggings por baixo dos bermudões – com aquele jeito de long john -, pelo recortes nos jeans que lembram os outfits dos surfistas, pelas estampas étnicas de inspiração asteca ou de folhas de palmeiras estilizadas e até pelas camisetas com localizados de caveiras e esqueletos, com aquele ar de Dia de Los Muertos, a celebração quase carnavalesca que o povo da região faz para homenagear seus ancestrais. O resultado da obra é o tipo de evento que faz valer a saída para um lugar bacana, mas um pouco longe e situado no meio do burburinho de repaginação da cidade.

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Fotos: Agência FotoSite | Divulgação

Mais tarde, já na Marina da Glória, a Triya bateu asas e borboleteou. Do casulo criativo de Isabela Frugiuele, a designer da marca, saíram estampas corridas de asas de borboletas, tema que tem sido recorrente na moda nestes últimos anos, mas que, pela riqueza desses lepidópteros, sempre permite novos voos. Por exemplo: os grafismos com linhas e bolas sobre colorido degradê podem significar as asas ampliadas sob a lente de um microscópio. Diante dessas referências, o beauty artist Max Weber optou por um pretão esfumaçado nas pálpebras que tem tudo a ver com a leitura desses insetos, assim como as peças com prints quadriculados e a sobreposição de malhas teladas pretas e multicor  – tão na ordem do dia – servem para aludir aos seus olhos multi divididos.

Assim, entre bodies, maiôs, biquinis, tops e hot pants gráficos, surgem peças com muitas tiras laterais ou alças subdivididas que, se não servem para o uso na praia ou piscina – sob risco de deixar a pele bronzeada parecendo uma teia de aranha – funcionam para criar o conceito da coleção na passarela e, depois, puxar a venda para a linha mais comercial.

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Fotos: Vinícius Pereira

Vídeo: Divulgação

Depois de a Pequena Sereia dar as caras no desfile de Victor Dzenk,  outra marca resolveu mergulhar nas profundezas oceânicas inspirada por esses personagens mitológicos. A Filhas de Gaia trouxe coleção baseada nesses seres meio-mulher, meio-peixe, revelando que o canto da sereia é muito mais hipnótico no meio da moda do que supunha a vã filosofia dos fashionistas até então. Para Marcela Calmon e Renata Salles, a dupla estilista, suas majestosas caudas são motivo para dobraduras, maxi babados e estruturas que mostram que as meninas estão mais afiadas, conseguindo não só resolver alguns probleminhas de modelagem vistos nas estações anteriores, mas dando um passo além no terreno da moda, talvez maior do que aquele que seria possível a uma filha de Tritão, caso esta saísse da água em direção à terra firme.  O show começa com três maiôs-conceito bem bacanas e avança por looks onde predominam vestidos e saias midi ou longas. Com que modelagem? Sereia, óbvio! No mais, seguindo uma marca que já é da grife, maxi estampas abstratas decoram as montagens, enquanto luvinhas em tela de metal e os calçados de Jorge Bischoff, parceiro de longa data, dão acabamento.

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Fotos: Vinícius Pereira

Vídeo: Divulgação

Lenny Niemeyer foi mais uma a beber da fonte das flores nesta temporada. Mas, claro, nada em que ela põe a mão deixa de causar, e a inspiração na botânica e em suas texturas rendeu um dos melhores shows que ela já fez em sua trajetória, deixando o show anos-luz à frente de tudo aquilo que se viu nesta estação. E olha que a grife coleciona desfiles antológicos, tipo menino que corre atrás de figurinha de jogador de futebol ou chapinha de refrigerante. As texturas das plantações de algodão comparecem nos crus, charutos e cáquis – nas peças em linho cru com acabamento desfiado, tela bordada e chifon – e peças em seda pintada à mão são veículo para surgirem delicadas flores na passarela, daquelas que fariam Margaret Mee rodopiar de alegria. No cenário que reproduz uma estufa de jardim, os terrosos paulatinamente vão se transformando em cores vivas, trazendo a alegria das corolas em lindas as peças onde os prints aquarelados ganham aplicações de organza, criando flores em efeito 3D. E, nesta beleza minimalista, mas visceral, as sandálias do Schutz arrematam esse visual arrebatador. De chorar de tão bonito!

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Fotos: Vinícius Pereira

Vídeo: Divulgação