Exclusivo! Tatá Werneck fala sobre “Loucas Pra Casar”, projetos futuros e a censura ao humor no Brasil: “Deixo de fazer piadas diariamente”


Atriz que começou a ganhar o público nos tempos áureos da MTV comenta sobre os programas que participa no Multishow, a nova novela na qual será protagonista e o estigma dos comediantes no país

*Por João Ker

Hoje, Tatá Werneck é um nome nacionalmente conhecido. Depois de ter caído no gosto do público com a sua espevitada Valdirene, personagem com a qual Walcyr Carrasco a presentou na novela “Amor à Vida” (2013), a Rede Globo decidiu apostar alto no talento da atriz a convocando para participar de quase todos os programas da emissora, seja como convidada ou como apresentadora especial. Suas entradas no “Caldeirão do Huck” durante a Copa do Mundo são inesquecíveis. Conclusão: o talento de Tatá conseguiu se espalhar do Oiapoque ao Chuí. E a gente, que a acompanha por toda uma vida profissional, bate palmas!

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Rebobine essa fita (HT é vintage, não implique) alguns anos, e você verá que Tatá Werneck já era uma sensação entre os jovens que a conheceram no “Quinta Categoria” em 2010. Ao lado de gente como Paulinho Serra e Rodrigo Capella, a menina impressionava pela agilidade de pensamento, o tempo cômico e as personagens que se tornaram um clássico entre o imaginário da MTV à época, vide a tão engraçada quanto vesga Fernandona. Assim como aconteceu posteriormente na Globo, o canal musical investiu pesado no talento da atriz, que foi escalada para outros programas da grade, como o “Comédia MTV” – que já contava com Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Bento Ribeiro etc. -; o “Trolalá”, onde passava trotes aos amigos com Paulinho Serra; e o especial de verão “Tá Quente”, no qual dentre muitos episódios memoráveis, rendeu uma verdadeira batalha de MCs com o pessoal do ConeCrew, na qual não saiu devendo nada em relação aos rappers no quesito rima.

A visibilidade alcançada com o sucesso através da maior emissora do país lhe rendeu diversos contratos para campanhas promocionais e um interesse absurdo em sua vida pessoal, que ela milagrosamente conseguiu manter a privacidade. No ano passado, a GQ Brasil a elegeu como a Mulher do Ano, estampando-a na capa com um ensaio picante e sensual (que a própria brincou no Instagram depois). Hoje, ela está em cartaz nos cinemas com o filme “Loucas Pra Casar”, ao lado de Ingrid Guimarães e Suzana Pires (que já falou com HT, como você viu aqui) em uma produção do atual rei da comédia feminina no Brasil, Marcelo Saback. Ela também está no ar com Fábio Porchat à frente da segunda temporada de “Tudo Pela Audiência”, humorístico do Multishow, e participa regularmente com Samantha Schmutz e Paulo Gustavo no “Vai Que Cola”. Como se não bastasse, integrará o elenco principal da nova novela das sete, “Lady Marizete” (Alcides Nogueira), na qual na qual é protagonista ao lado de Bruna Marquezine. E, ufa! também já está trabalhando no próximo filme sobre uma menina que tem TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo.

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Em meio à agenda visivelmente lotada, Tatá conseguiu um tempo para falar com HT. A entrevista que você lê abaixo mostra uma mulher que, apesar do sucesso, não deixou a fama subir à cabeça e age com a mesma naturalidade e humor instantâneo que apresenta na TV. Entre descobrir que sua casa está sem água e receber trotes aleatórios (o carma do “Trolalá” pegou pesado), Tatá fala sobre a carreira, o humor no Brasil, a onda da censura no politicamente correto, o estigma dos comediantes e os projetos futuros. Leia:

HT: Você acaba de lançar “Loucas Pra Casar” no cinema. Como foi trabalhar em um longa-metragem com a Ingrid Guimarães, de quem você já se declarou fã? 

TW: Ela vai me matar quando ler isso, mas eu era bem novinha quando ela fazia [a peça] “Cócegas” com a Helô [Périssé]. Aquilo exalava comédia. No ano passado, eu recebi convite para fazer seis longas, sendo a protagonista de cinco. Como a minha agenda estava apertada (eu passei cinco meses sem um dia de folga), só dava para escolher um.  Escolhi esse por causa da Ingrid, já que, além de adorar o trabalho dela e ser fã, nós também somos amigas. Também queria trabalhar com o [Marcelo] Saback, porque ele sabe construir uma personagem mulher como ninguém. O bom desse filme é que ele tem um roteiro muito afiado. Parece que vai ser mais uma comédia romântica e não é, tem um final punk.

Tatá Werneck em "Loucas Pra Casar" (Foto: Divulgação)

Tatá Werneck em “Loucas Pra Casar” (Foto: Divulgação)

HT: O que você faria no lugar da sua personagem, caso descobrisse uma traição?

TW: Olha, eu nunca descobri nenhuma traição e nem nunca traí. Ainda mais agora, já imaginou? Se eu traíssea apareceria nos sites de fofoca: “Tatá Werneck e fulano flagrados..”.  É uma coisa que eu não admito. Claro que cada um tem o seu acordo, mas eu terminaria na hora e não voltaria para o cara.

HT: Muito tem se falado sobre o excesso das produções de comédia no Brasil. Você também acha que o gênero está saturado?

TW: O fazer rir não vai saturar nunca. O dia que perdermos a capacidade de rir para espairecer, a vida ficará muito difícil. A comédia se reinventa. Dentro dela, há uma época em que o besteirol bomba, depois a comédia de situação e por aí vai. Não dá para colocar tudo no mesmo saco. Quando eu estudava Artes Cênicas na UniRio, o gênero era muito discriminado. Depois do boom, creio que ele sempre se reinventa.

HT: Conte um pouco sobre o seu próximo filme, no qual você interpretará uma personagem com TOC.

TW: A ideia do filme é minha e o Teo Poppovic está escrevendo o roteiro com o Paulo Caruso. Sempre gostei muito de escrever, no “Comédia MTV” eu já era roteirista. Tenho mais dois filmes para fazer. É isso que eu amo: poder me reinventar. Já fui produtora de teatro, adoro participar da edição dos programas – vou para a ilha e tudo! – e também amaria dirigir um filme no futuro.

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HT: O “Tudo Pela Audiência” tem sido um sucesso estrondoso no Multishow. Qual foi a brincadeira mais inusitada que vocês tiveram que fazer?

TW: O Fábio conseguiu pegar um cara muito feio com chantilly nessa temporada. E nós também fizemos um diálogo de bundas com um convidado. Tudo ali é muito inusitado e espontâneo.

HT: Falando nisso, você sempre mostrou muita facilidade em improvisar, mas também trabalha bastante com roteiros em programas, novelas, teatro e cinema. Prefere a improvisação ou seguir o roteiro?

TW: Eu sempre amei improvisar, mas a minha formação é como atriz. Eu já fiz 18 peças no teatro, entre elas “Medeia”,  “Antígona” etc. Eu faço muito mais texto seguido à risca do que improviso. E amo as duas coisas. O legal é que muita gente acha que eu estou improvisando, quando eu estou seguindo roteiro e vice-versa.

HT: Hoje em dia, as redes sociais estão dando muito mais voz ao público, que está com a mania crescente de censurar o humor politicamente incorreto. Isso a atinge de alguma forma? Você já deixou de fazer alguma piada com medo da reação que o público possa ter?

TW: Deixo de fazer piadas diariamente por isso. O Dedé esteve no nosso programa e falou algo muito genial: “Eu tenho pena, porque vocês não podem errar e a gente podia”. Hoje em dia, um erro mínimo se torna uma catástrofe na carreira de alguém. Mas o humor é feito de erros. Essa coisa certinha é escrota. O humor pode, sim, ser de esquerda e pode falar contra a sociedade certinha ao mesmo tempo! É difícil não poder errar e não poder usar o riso como uma arma política. Falar contra alguma coisa é uma forma de criticá-la. Claro, existe gente que se apodera do humor para poder agredir as outras pessoas e depois age como se fosse só uma piada. O Millôr [Fernandes] disse, certa vez, uma frase que eu adoro: “O comediante não atira para matar”. A gente fala sobre o assunto, mas ninguém quer atingir ninguém com isso. Eu penso trinta mil vezes antes de fazer uma brincadeira, ainda mais porque eu tenho o humor ácido. Hoje em dia, gera muito medo. Eu tenho medo de falar algo que possa prejudicar a minha ONG [Escola de Gente], por exemplo. Até porque, as pessoas se tornam muito corajosas na internet e você nem sabe quem é.

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HT: Como será a sua personagem em “Lady Marizete”. Ela se parece muito com a Valdirene?

TW: Não, não. Ela chama Danda, que é apelido para Pandora, e é uma menina super sonhadora. Sonha alto e é impulsiva. Ela é a melhor amiga da Marizete (Bruna Marquezine) e parte daquela juventude que faz e acontece. Ma,s ela também tem esses momentos engraçados, esse nível de loucura, que se parece um pouco com a Valdirene.

HT: Você aceitaria fazer um papel completamente dramático, daqueles de se descabelar e fazer todo mundo chorar? Acha que é mais difícil do que a comédia?

TW: Eu aceitaria. Já fiz muito no teatro, por exemplo, com “Navalha na Carne”. Só que tem duas coisas aí que eu nunca entendo: comediante é uma atriz que adora fazer humor, mas não consegue fazer outras coisas? Porque sempre dizem: “Ah, fulana é muito boa em comédia, mas quero ver fazer drama”. Beleza. Mas nunca falam que falta para uma atriz consagrada fazer comédia. Eu não sei se um é mais difícil do que o outro. No teatro, eu fazia drama direto, em todas as minhas peças. Mas o termômetro do “ao vivo” é muito viciante, porque é algo imediato. Existe essa fama de que o artista só vai ser completo quando fizer isso ou aquilo. Eu já fiz improviso, 18 peças, cinema, novela, esquete, apresento programa… Acho que eu gostaria de interpretar uma vilã. Eu amo esse tipo de personagem, porque ele acaba tendo humor. Mesmo que seja sarcástico.