Elba Ramalho durante live com Zezé Motta: ‘Quando cheguei ao Rio, dormi na praia e passei fome. Zezé me acolheu’


A cantora e a atriz falaram sobre conquistas do poder feminino no especial ‘Novos Caminhos’, do Teatro Claro Rio. Elas abordaram a questão do preconceito, realizações pessoais e coletivas e a vida na internet. “Sou paraibana. Sei como é passar pela rua e ser xingada e ofendida. A Juliette sofreu muito no BBB e foi muito bom entrar nessa discussão em um programa em TV aberta”, diz Elba. Já Zezé comentou sobre a cultura do cancelamento na web: “Todos os movimentos têm umas ‘cabecinhas’ mais estreitas”

Elba Ramalho durante live com Zezé Motta: 'Quando cheguei ao Rio, dormi na praia e passei fome. Zezé me acolheu'

*Com Bell Magalhães

Depois do sucesso de audiência, o Teatro Claro Rio, em Copacabana, apresenta a segunda temporada do projeto ‘Novos Caminhos’, gravado no palco do teatro e transmitido ao público pelo canal no YouTube do teatro e para os assinantes da Claro TV no canal 500. Durante três dias, o apresentador Frederico Reder media a conversa que tem como objetivo inspirar e realizar uma reflexão sobre novos caminhos e a busca da felicidade e renda revertida em prol do Retiro dos Artistas. No primeiro encontro, Zezé Motta e Elba Ramalho discutiram sobre ‘As Conquistas do Poder Feminino’, tema do programa. 

Zezé Motta e Elba Ramalho discutiram sobre 'As Conquistas do Poder Feminino' no programa 'Novos Caminho', do Teatro Claro Rio (Reprodução Instagram)

Zezé Motta e Elba Ramalho discutiram sobre ‘As Conquistas do Poder Feminino’ no programa ‘Novos Caminho’, do Teatro Claro Rio (Reprodução Instagram)

Após ‘Gostoso Demais’ na voz de Elba, a conversa se iniciou com a temática das mudanças e realizações e a cantora teceu elogios à amiga atriz, que a acolheu no período em que chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70. Na fala, disse que as mudanças foram essenciais para que se tornasse quem é hoje. “Quando cheguei ao Rio, dormi na praia e passei fome. Zezé Motta me acolheu. Caminhei e atravessei o rio a seco, mas acho que isso me fez muito forte. Desde então, não sou a mesma mulher, a mesma mãe ou a mesma cantora que eu era. Vamos juntando experiência e ficando cada vez menos ansiosa com os desafios da vida. Nunca imaginei que chegaria onde cheguei. Foram lutas fortes, principalmente essa que estamos vivendo hoje. A persistência é muito importante”, comentou Elba.

"Nunca imaginei que chegaria onde cheguei. Foram lutas fortes, principalmente essa que estamos vivendo hoje. A persistência é muito importante" (Reprodução Instagram)

“Nunca imaginei que chegaria onde cheguei. Foram lutas fortes, principalmente a que estamos vivendo hoje. A persistência é muito importante” (Reprodução Instagram)

Ao ser perguntada por Frederico sobre quais eram as conquistas femininas que achava mais importantes, Zezé ressaltou o direito ao voto, garantido no Código Eleitoral no ano de 1932 e presente na Constituição desde 1934. “Foi uma conquista para todas e foi o primeiro passo. Hoje, apesar de ainda termos algumas frustrações, as mulheres conseguiram ocupar vários espaços. Vemos que cada setor ou departamento de uma empresa é cada vez mais ocupado por mulheres. Tenho muita alegria de ver um set de filmagem com mais de 50% de mulheres ou uma divisão igualitária de cargos”, disse.

"Hoje, apesar de ainda termos algumas frustrações, as mulheres conseguiram ocupar vários espaços" (Reprodução Instagram)

“Hoje, apesar de ainda termos algumas frustrações, as mulheres conseguiram ocupar vários espaços” (Reprodução Instagram)

As oportunidades também são conquistas. A atriz fala sobre como uma bolsa de estudos mudou a sua vida durante a passagem pelo curso de Maria Clara Machado n’O Tablado: “Tive o privilégio de estudar com Maria Clara Machado. Como as coisas deram certo para mim, fiquei preocupada com os poucos negros com o espaço em cena, fora a questão social”. Por esse motivo, criou o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan), um curso de artes dramáticas em comunidades carentes fomentado pela iniciativa do projeto de Ruth Cardoso (1930-2008), que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Nobel da Paz coletivo em 2005. “Demos o curso no Cantagalo, Andaraí, Chapéu-Mangueira e outras comunidades. Quando vou ao cinema ou ao teatro, sempre me emociono. Alexandre Rodrigues, que foi o Buscapé em ‘Cidade de Deus’ (2002), se formou na primeira turma do meu curso. Foram 12 anos de projeto até acabarem com o patrocínio”. 

"Como as coisas deram certo para mim, fiquei preocupada com os poucos negros com o espaço em cena, fora a questão social" (Reprodução Instagram)

“Como as coisas deram certo para mim, fiquei preocupada com os poucos negros com o espaço em cena, fora a questão social” (Reprodução Instagram)

Por ambas as convidadas serem ativas nas redes sociais, não demorou para que o tópico da conversa se tornasse o ‘cancelamento’, ou ‘cultura do cancelamento’, que é o hábito de excluir uma pessoa ou um grupo, geralmente famosos ou influenciadores, por conta de atitudes consideradas questionáveis pelos usuários da web. Sobre o assunto, Zezé afirmou que ‘em todos os movimentos têm umas ‘cabecinhas’ mais estreitas’, e diz que alguns debates que surgem na sociedade são ‘absurdos’: “A discussão entre chamar de ‘negra’ e ‘preta’ é um absurdo que não leva a lugar algum. Não ligo de ser chamada de um ou de outro, só não gosto de ser chamada de parda, que é o que está no meu registro de nascimento (risos). Acho que é uma conversa de pessoas que não têm o que fazer”.

"A discussão entre chamar de 'negra' e 'preta' é um absurdo que não leva a lugar algum. É uma conversa de pessoas que não têm o que fazer" (Reprodução Instagram)

“A discussão entre chamar de ‘negra’ e ‘preta’ é um absurdo que não leva a lugar algum. É uma conversa de pessoas que não têm o que fazer” (Reprodução Instagram)

Sobre os movimentos das redes sociais, Elba relembrou o caso de Juliette Freire, vencedora do Big Brother Brasil 21 e que foi vítima de xenofobia dentro e fora do programa. “Sou paraibana. Sei como é passar pela rua e ser xingada e ofendida. A Juliette sofreu muito no BBB e foi muito bom entrar nessa discussão em um programa em TV aberta. Dessa forma, mais pessoas são educadas a não repetir pensamentos xenófobos e podem ver o quanto isso é errado e desumano”. Sobre o uso da própria naturalidade como um termo pejorativo, a cantora é direta: “Me chame de paraíba, porque é o que eu sou. Quanto mais regional, mais universal. Se sou chamada para cantar em outros países, é porque canto forró”, afirmou. 

"Sei como é passar pela rua e ser xingada e ofendida. A Juliette sofreu muito e foi bom entrar nessa discussão em um programa em TV aberta" (Reprodução Instagram)

“Sei como é passar pela rua e ser xingada e ofendida. A Juliette sofreu muito e foi bom entrar nessa discussão em um programa em TV aberta” (Reprodução Instagram)