Dr. Alessandro Martins tira dúvidas sobre a relação entre próteses de mama e incidência de câncer


Em sua coluna quinzenal no site HT, o cirurgião plástico afirma: “Além de ser extremamente raro, o linfoma associado à cápsula das próteses de mama tem um tratamento simples. Na imensa maioria das vezes, a cura se dá com a retirada da cápsula que reveste a prótese. Geralmente, retirando-se essa cápsula a paciente já está tratada, uma vez que a forma também é localizada”

*Por Dr. Alessandro Martins

O carcinoma anaplásico de grandes células é da linhagem das células T (células de defesa do organismo). Ele surge nas formas sistêmica (semelhante aos outros linfomas, com comprometimento de gânglios e alteração nos sistemas de defesa), cutânea (acomete lesões de pele) e na cápsula de algumas pacientes com implantes mamários.

A forma sistêmica tem uma incidência muito maior em homens do que em mulheres. E a incidência do linfoma anaplásico em pacientes com prótese de mama é extremamente baixa. A estatística é em torno de uma para 500 mil pacientes que possuem implantes de mama. Trata-se de uma estatística extremamente baixa.

 

A forma sistêmica tem comportamento de linfoma. Assim, também é tratada com quimioterapia. Ela entra na classificação dos linfomas não Hodgkin.

Além de ser extremamente raro, o linfoma associado à cápsula das próteses de mama tem um tratamento muito simples. Na imensa maioria das vezes, a cura se dá com a retirada da cápsula que reveste a prótese. Geralmente, retirando-se essa cápsula a paciente já está tratada, uma vez que a forma também é localizada.

Dr. Alessandro Martins (Foto: Sérgio Baia)

Dr. Alessandro Martins (Foto: Sérgio Baia)

A grande discussão é se existe alguma relação entre a prótese e sua cobertura com a doença. Temos três superfícies diferentes de prótese: lisas, texturizadas e de poliuretano. Questiona-se se a textura, ou seja, o tipo de cobertura da prótese, influenciaria ou não no desenvolvimento da patologia. Ainda não há uma conclusão a respeito.

Na verdade, o linfoma relacionado à prótese de mama depende de uma conjunção de eventos. Ele está relacionado ao atrito da cápsula que reveste o implante, estimulando, dessa forma, um processo inflamatório crônico; a contaminação do implante por um tipo específico de bactéria que, junto com o atrito, levaria a essa reação inflamatória crônica, podendo causar o aparecimento do linfoma.

Na França, questionou-se a possibilidade de a cobertura texturizada estar relacionada à maior incidência dessa neoplasia na mama. Esse tipo de prótese teve sua venda interrompida na Europa.  Entretanto, nos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, não apoia esta ideia e não considerou que o câncer estaria relacionado à superfície texturizada das próteses e não houve essa barreira da venda ou da utilização das próteses texturizadas.

Atualmente, o que sabemos é que se trata de uma doença muito rara. Não há uma relação definida com marca, cobertura (lisa, texturizada ou de poliuretano) ou textura de cobertura de prótese que nos impeça de utilizar os implantes ou condene um determinado tipo de implante como responsável pelo desenvolvimento da doença.

O mais importante é que, além de rara, é uma neoplasia de tratamento extremamente fácil – geralmente, consiste na retirada da prótese com a cápsula. Mas ainda são necessários mais estudos para entendermos melhor seu tratamento.

Não há motivo para pânico. As pacientes não precisam retirar ou trocar suas próteses se tudo estiver bem, se não houver imagem mostrando alteração ou presença de líquido. É necessário saber que a principal manifestação clínica da doença é o aumento da mama tardiamente, no pós-operatório tardio. Esse aumento se deve à produção de líquido entre a cápsula e a prótese e é um dos indícios de que alguma coisa pode estar errada. As pacientes que apresentam esse líquido em cirurgias tardias de prótese de mama devem ter um acompanhamento médico e fazer uma série de exames.

Existem outras causas de formação de líquido tardio em mama. Qualquer trauma, qualquer acidente que se tenha com a prótese pode levar a isso ou até a um sangramento, formando um hematoma. Por isso é importante diferenciar a causa e se houve algum evento que precedeu o aumento da mama, para não obter um diagnóstico diferencial incorreto e, muito menos, a incidência de uma doença neoplásica hiperestimada.

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