Do boicote evangélico à aclamação das celebs, o poder que um beijo gay tem de balançar o país em pleno 2015!


As cenas de beijo entre Teresa e Estela, personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em “Babilônia”, provocaram a festa de uns, mas a ira de outros. Aos fatos!

*Com Lucas Rezende

Duas senhoras da melhor idade, ternas, dão um ligeiro selinho, na estreia do programa de maior audiência da televisão brasileira, a novela das 9 “Babilônia”. Seria uma cena normal, tratando-se de um take sóbrio, com as duas damas da dramaturgia brasileira, Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Seria. Mas, o “beijo gay” de “Babilônia” fez, mais uma vez, o país se engalfinhar entre conservadores e liberais. A igreja evangélica pede um boicote à novela, os simpatizantes querem mais selinhos e, em pleno 2015, um casal gay ainda incomoda e balança opiniões. Mas que poder é esse que um simples beijinho tem?

Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em "O Beijo que Sacudiu o Brasil" (Foto: Reprodução)

Fernanda Montenegro e Nathália Timberg em “O Beijo que Sacudiu o Brasil” (Foto: Reprodução)

Bem antes do início de toda essa polêmica, João Ximenes Braga, que completa a tríade de autores ao lado de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, avisou: “Vai ter gay na novela nova. Vai ter gay, muito gay. Mas relaxa, também vai ter muito imbecil retrógrado homofóbico”. O aviso, porém, não veio acompanhado daquele chamariz sensacionalista de como se estivesse avisando a chegada de uma catástrofe, de que haveria um beijo logo de cara. E também não precisava. “Não há necessidade de chupão nem cena de cama”, tratou de esclarecer Ricardo Linhares, que emendou: “o público está totalmente pronto para isso”. Quem dera, Ricardo, quem dera.

Depois do segundo beijo, exibido na quarta-feira, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, correu para o seu “Verdade Gospel” e afirmou que “a Rede Globo é a maior patrocinadora da imoralidade e do homossexualismo no Brasil”. Em paralelo, textos sem assinatura correm o WhatsApp afora pedindo um boicote ao folhetim.  “Até quando a Globo vai ditar e a todo momento perturbar a cabeça de nossos filhos? Estamos reféns da política suja e também da Rede Globo, que não fica atrás”, diz um trecho que pede um boicote de 35 dias.

E não para por aí: o líder do PRTB, Levy Fidélix, veio a público dizer que a novela “é uma agressão ao povo brasileiro” e que “não está regulamentado na Constituição Federal outra coisa que não seja que a família é formada por homem e mulher”.

Do outro lado da peleja, a própria Fernanda Montenegro já tratou de avisar que as cenas “não são só para passar tempo” e que cada uma “chegou plena de realização e proposta de história”. “É lógico que sempre tem alguém que não gosta, mas faz parte. É um casal de 40 anos de convivência, e os carinhos vêm naturalmente, com emoção e troca de experiência de vida e também de ajuda mútua”, explicou.

Teresa e Estela: o casal que está deixando os conservadores de orelha em pé (Foto: Divulgação)

Teresa e Estela: o casal que está deixando os conservadores de orelha em pé (Foto: Divulgação)

Dando coro, Nathália Timberg também comentou a ainda existência de todo esse furor em volta do beijo. A atriz chegou a dizer que as pessoas ficam “hipnotizadas por um momento que veio a coroar a ternura entre as duas [personagens]”. “O que é mais importante do que esse frisson de beija ou não beija é que é normal, entre duas pessoas que se amam, que o sentimento venha se expressar dessa maneira. Em qualquer relação – seja ela homossexual ou heterossexual – feliz e positiva, ela se consolida em um sentimento que vai se enraizando profundamente”.

Enquanto após a exibição da segunda cena, Timberg voltava a dizer que “essa realidade já está mais do que na hora de ser absorvida pela sociedade”, várias celebridades vestiram a camisa da diversidade. A cantora Ana Carolina chamou as atrizes de “divas”, e a atriz Leona Cavalli lembrou que Fernanda Montenegro estava “fazendo história novamente”. O deputado federal pelo PSOL, Jean Willys, comentou que a cena fez “Babilônia” começar bem, seguido por nomes como Paula Braun, Marcelo Arantes, Ingrid Guimarães e companhia.

Aproveitando a onda dos festejos da parte civilizada, Ricardo Linhares manda avisar que outros beijos estão previstos na trama. E, para finalizar, recorremos ao texto de Fernanda Montenegro em cena: “A sociedade, de vez em quando, ela tenta mudar, tenta esconder pessoas como eu [personagem]. Não consegue. Não vai conseguir nunca. Nunca”. Só para frisar: nunca.