Dizendo que “nunca usou um tostão”, Erasmo Carlos: “Com verba da Rouanet ou patrocínio monstruoso dos bancos fica fácil fazer super espetáculo”


Em entrevista exclusiva antes de cantar no Espírito Santo no dia 12 de março, Erasmo ainda falou sobre o rock brasileiro: “O meu nunca foi rock autêntico. Brasileiro nunca fez rock autêntico. Ele não sente na alma. Quem sente rock autêntico são ingleses e americanos. Eu faço o rock do Erasmo, que tem uma coisa brega, de vanguarda”

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Erasmo Carlos, aos 74 anos, já avisa: “Tenho que manter a minha fama de mau. Queria ou não queira. A música está aí. Mas eu, particularmente, não mantenho”. A de tremendão, no entanto, nem se ele quisesse, mesmo com o 1,93m que ostenta.  O tempo, como se sabe, passa, babies, e ele não é mais o mesmo garanhão de jaqueta de couro e calça jeans apertada que tomou de assalto as atenções da cena do rock na década de 60. “Se você for procurar, a imagem do tremendão é do cara terrível, rude, forte, alto, safo, mercenário à la Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, bom de briga. Hoje, mudou. Eu sou mais maduro, não tenho mais a mesma força de antes. Mas ser tremendão é simplesmente ser o que você é. E eu sou o que sou. Agora, alguém tem que me dizer se eu sou ainda”.

Se os versos “perdão à namorada é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau” não saem do repertório de Erasmo e muito menos da boca de quem viveu a época da minissaia, o auge dos Beatles e viu o homem chegar à Lua; há outra canção que nunca esteve tão atual como agora. “Mulher” (ou “Sexo frágil”), mesmo datada dos idos da década de 80, corrobora com o atuante movimento feminista que, com o advento das redes sociais, engrossou a voz pelos direitos iguais entre sexos. Para Erasmo, “a mulher tem que impor suas possibilidades e suas habilidades para ser considerada finalmente, pelo menos, com igualdade”. “Ninguém é superior a ninguém. Não concordo com aquela frase que diz que atrás de um grande homem há uma grande mulher. É ao lado. Essa sim é uma verdade”. Ele ainda trata de colocar cada conceito no seu quadrado. “O machismo é uma concepção, o romantismo é um status de espírito e a virilidade é algo orgânico. O que não dá é para confundir”, disse.

Papo de quem, no tempo livre, anda ouvindo o som de duas bandas sangue novo do rock brasileiro: Suricato e Vanguart. “Ouço tudo por informação. O tempo vai dizer se o rock vai melhorar ou piorar. Mas o que ouvi são de qualidade. É muito fácil você gravar um bom disco hoje em dia por causa da aparelhagem disponível ao alcance de todos. Cantoras, por exemplo, têm umas 700 mil estreando no Brasil todo dia. Há uma massificação delas. Mas nenhuma cabeça do mundo sabe para onde vão as coisas. A gente sabe o que é para gente e eu me incluo nesse grupo”, admitiu ele, que tem suas próprias canções preferidas na ponta da língua: “Minha fama de mau” (o assunto inicial desse texto não foi à toa), “Festa de arromba” e “Gatinha manhosa”. “O meu rock nunca foi rock autêntico. Brasileiro nunca fez rock autêntico. Ele não sente na alma. Quem sente rock autêntico são ingleses e americanos. Eu faço o rock do Erasmo, que tem uma coisa brega, de vanguarda”, explicou.

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Com passagens compradas para pousar em Vila Velha, extensão da Ilha de Vitória (ES), no dia 12 de março, para cantar na área de eventos do Shopping Vila Velha, Erasmo Carlos falou mais de uma vez durante esse papo exclusivo que não fica preso ao passado. E essa informação serve quando ele fala, por exemplo, do poder dos serviços de streaming. “Esses serviços, eles mesmos vão ter que descobrir um jeito, no futuro, de melhorar. Assim como as gravadoras não deram atenção quando surgiu a internet e agora estão correndo atrás para conseguir sobreviver. Mas, para isso, há muitos reajustes. A remuneração é muito pouca. Mas isso vai demorar e, por enquanto, temos que dançar conforme a banda toca”, analisou. Mas Erasmo, qual o motivo dessa demora? “O processo burocrático. Os Steve Jobs (fundador da Apple, já falecido) da vida é quem vão decidir os caminhos disso tudo. A gente apenas acata, como sempre foi. Você pode ate reclamar uns tempos, mas você perde para eles. Não perco tempo para discutir coisas. Eu sigo meu caminho”.

E, no mesmo passo, fala da Lei Rouanet, semanas depois que Claudia Leitte foi autorizada a captar R$ 356 mil junto a empresas privadas sem dedução fiscal para lançar uma biografia – e, depois de midiatizada a permissão, recuou  – e do Jota Quest também poder captar R$ 3,1 milhões para uma turnê comemorativa dos 20 anos do grupo. “Nunca precisei da Lei Rouanet, não me interesso, nunca usei um tostão para nada. Mas eu leio algumas cosias como, por exemplo, disseram que o filme do ‘Chatô, o Rei do Brasil’, do Guilherme Fontes, teve a verba mal administrada. Mas não sei. Só sei que, na minha carreira, existe um planejamento para fazermos tudo dentro do possível. Nunca ganhamos dinheiro de patrocínio. Porque, com a verba da lei ou com patrocínio monstruoso dos bancos, fica fácil fazer um super espetáculo”, analisou.

Erasmo, que dessa vez economizou o “pô, bicho”, guardou a famosa expressão para o final, quando pedimos para ele falar de Chay Suede, o capixaba de 23 anos que vai interpretá-lo nos cinemas na cinebiografia “Minha fama de mau”, com direção de Lui Farias e produção de Marco Altberg. “É um bom menino, esforçado. Bom músico. Eu falei com ele: ‘Vai ter que tomar sol!”. O filme deve estrear no fim do ano. Talvez eu faça uma participação, mas ainda não me chamaram. Estou aqui. E não vi o roteiro, vi pouca coisa, logo no início, mas já mudou tantas vezes”, contou o tremendão – que, olha, fica só com a cara de mau. Está mais para “Gigante gentil”.

Serviço

Show Erasmo Carlos

Data: 12 de março, sexta-feira
Show às 22h30 (abertura dos portões: 21h30)
Local: Área de Eventos Shopping Vila Velha
Classificação: 16 anos
Informações: (27) 4062-9010