De Caxias para qualquer lugar do Rio: Rosi Jardim, da Karamello, dá o recado com sua moda anti-regionalista!


Dona da marca que saiu da Baixada Fluminense para Ipanema nos conta como é fazer uma grife crescer em tão pouco tempo partindo do zero

Quando se conhece a história da diretora criativa da grife Karamello , Rosilane Jardim, muitos pensam: “Essa mulher deve estar há muitos anos na estrada”. Ledo engano. Vinte e três anos desde a abertura da fábrica é pouco tempo para uma grife estar tão consolidada como a Karamello, ainda mais para quem começou vendendo algumas peças na faculdade para pagar a mensalidade, sem nenhum capital inicial, só com a ajuda do marido. Oriunda do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a grife hoje tem 12 lojas no Rio, sendo uma delas, a flagship store em Ipanema, ao lado de monstros do varejo como Osklen e Farm. Só esta loja foi responsável por 15% de aumento nas vendas. Além disso, a Karamello investe pesado no e-commerce, que foi lançado junto com a coleção de Verão 2014. Para este Inverno, a expectativa é de que o crescimento nas vendas seja de 20% só na plataforma online, com a intenção de tornar a loja virtual a número 1 em vendas de todas as lojas Karamello.

Em conversa com a gente, a estilista garante que o seu segredo foi justamente na origem humilde, de uma família de costureiras, com técnica passada de mãe para filha, já que ela cresceu no meio de máquinas, tecidos e carretéis de linha. Foi justamente isso que fez ela dominar a relação produção versus varejo e vender um bom produto por um preço mais competitivo e que as cariocas adoram.

Sua história é muito simples, como ela mesma conta. Simples no sentido de não ter segredos mirabolantes. Rosi foi conquistando aos poucos os espaços com esforço e ajuda do marido, seu sócio e maior incentivador desde o início, além do know how inegável que ela já tinha. Afinal, ela cresceu sendo por muitos anos fornecedora de grandes grifes. Ou seja, antes de se atirar em negócio próprio ela já sabia como era a correria para uma coleção ficar pronta, como deveria ser um bom acabamento, o que costumava dar certo… estava por dentro de prazos e parte de todo o processo de produção de uma marca. Daí, o próximo passo foi acreditar no potencial que tinha e ir em frente trabalhando muito. A estilista é a típica mulher batalhadora, que dá conta de tudo, tem dois filhos e um neto, e ainda tem 44 anos com cara de 22.

Outro detalhe que fez a diferença para uma mulher que não tinha recursos para abrir uma grife de sucesso foi o fato de a marca nunca ficar presa a uma estética da região x ou y. Diferente do que se acredita na parcela da Zona Sul que não conhece bem o estado do Rio, Duque de Caxias pode ter impulsionado muito bem a empreitada, já que não é apenas um lugar onde se dá para fugir e fazer tratamentos estéticos e cirurgia plástica a preço de banana, mas também um grande pólo da indústria e comércio têxtil. Embora existam, sim, inegáveis diferenças estéticas entre os dois extremos do túnel, há de se admitir também que a marca não sofre influência de uma ou outra região, é uma peça feminina que se usa em qualquer lugar. É urbana e folk durante o dia, como qualquer carioca, que pode sair à noite mulherão ou romântica. Simples e funcional. A estilista garante que as mesmas peças são vendidas tanto nas lojas da Baixada Fluminense como a Zona Sul, e hoje isto é apenas um detalhe da marca, que não alimenta regionalismos. Embora ela jamais negue as origens e é lá que ela continua produzindo suas roupas. Tudo isso Rosi nos conta em entrevista exclusiva, confira!

Rosilane Jardimok

HT: Embora esteja tudo no mesmo estado, é inquestionável a diferença na forma como as mulheres se vestem nos dois lugares. Tanto se vê pelo sucesso que foi a novela Avenida Brasil. A carioca da Zona Sul é mais urbana e mais praiana do que a da Baixada, que anda de brilho e salto alto durante o dia. Como foi conviver com essa diferença e fazer uma roupa que atende a essas duas mulheres?

RJ: Acho muito bom eu estar aqui para mostrar que isto é possível. Essas duas mulheres podem ter bom e mau gosto em lugares distintos e, ainda, o mesmo gosto. Mas a minha roupa também não é regionalista, meu produto nunca foi adaptado para atender um ou outro mercado, sempre foi o mesmo e atendeu aos dois lugares. Por isso, eu considero um detalhe, porque não faz diferença nesta parte, faz no meu sentimento, porque sei que foi aqui que tudo começou e me apego nisso. A minha fábrica foi construída no terreno da casa onde cresci e comecei a costurar. Para você ter uma ideia, o meu escritório está justamente onde era o meu quarto. E isso me faz muito bem, é o meu chão. Tenho muito amor ao meu passado e ao meu presente.

HT: Como foi este início?

RJ: Eu já era fornecedora de roupas, sei bem o que é ter prazo para entregar a peça e cuidado com acabamento ao mesmo tempo, talvez este seja o meu diferencial. Não faço só peças piloto na fábrica, produzo grande parte. Por isso tenho um bom produto a um bom preço. Quando eu entrei na faculdade, que na época nem era ligada  à moda, eu fiz umas blusinhas para vender e lá conheci meu atual marido. Que também passou poucas e boas, perdendo dinheiro na era Collor. Foi quando ele resolveu me ajudar e me incentivar e a coisa deu certo com muito, mas muito esforço. Eu nunca passei fome, mas não tinha recursos para começar essa empreitada. Só que deu certo, eu cuido de toda a parte de imagem e criação e ele da parte administrativa e financeira.

HT: Por que escolheu Ipanema para a flagship?

RJ: Ela chegou em um momento de consolidação do DNA da marca, feita para uma mulher extremamente feminina, mas não romântica, e sim forte, guerreira e bem resolvida, que existe em qualquer lugar do Brasil, não está presa a nenhuma região. Ela chega no momento em que estamos mudando o layout de todas as lojas, com elementos de decoração que lembram uma fábrica, a origem de tudo, mostrando a veia que nos norteia. E também é uma questão de determinação do mercado, havemos de ser pragmáticos.

HT: Quando pedimos uma foto sua nos assustamos. Vimos uma menina de vinte e poucos e com toda essa batalha. Que fórmula da juventude é essa?

RJ: Imagina, amiga! (risos). É a foto que favorece. Mas eu não faço nada demais, nenhum tratamento especial e mirabolante. Malho todos os dias, mas como o que quero. O que acho que o que faz a diferença é ser feliz e valorizar tudo o que eu tenho, o trabalho, o amor, os filhos e até as minhas imperfeições. Não quero ser linda, mas estar bem comigo. Além disso, como eu disse, me orgulho de tudo e amo muito, tanto o meu passado, como o meu presente, sem me prender a nenhum deles, abro espaço para o que está por vir.

Rosi