Cynthia Senek grava série da Netflix e mergulha no autoconhecimento: “Estou em um relacionamento sério comigo”


Depois de fazer sucesso em três temporadas da ´serie ‘3%’ da plataforma de streaming, a atriz grava “Temporada de Verão’ que estreia no final do ano. Cynthia fala sobre trabalhar em tempos pandêmicos, e também compartilha, sem tabus ou meias palavras, sua jornada de busca interna e externa, mirando contribuir para um mundo bem melhor do que o que habitamos hoje: “Precisamos entender nosso poder de escolha. Antes pensava muito só no presente, como muitas pessoas. Hoje penso também no futuro e mais no coletivo. Não tenho mais medo de inovar, ser julgada, das críticas. Não temo falar sobre coisas que a maioria das pessoas se poupam, deixando de se posicionar por isso. Não fico em cima do muro”

Cynthia Senek grava série da Netflix e mergulha no autoconhecimento: "Estou em um relacionamento sério comigo"

*Por Brunna Condini

Quem tem acompanhado o Instagram de Cynthia Senek nos últimos tempos, tem percebido que uma ‘vida nômade’, em busca de autoconhecimento, tem feito mais a cabeça da atriz de 29 anos. No entanto, quando o trabalho a chama e ela topa, faz concessões de ‘pouso’. Tanto que tem passado um tempo em São Paulo, onde termina as gravações de ‘Temporada de Verão’, nova série brasileira da Netflix, com previsão de estreia para o final deste ano.

O atual trabalho é fruto colhido do seu sucesso no elenco da segunda, terceira e quarta temporadas de outra série, a ‘3%’, disponível na mesma plataforma de streaming. “A minha personagem, a Gloria, foi ganhando mais destaque justamente pelo retorno. A produção escuta muito o público, que curtiu meu trabalho. E, quando ‘3%’ acabou, os fãs da série, que gostam de consumir o conteúdo brasileiro da Netflix, começaram a pedir o retorno dos atores do elenco em outra série”, recorda.

“Alguns projetos ficaram em suspensão, mas o nosso continuou sendo gravado, porque os atores e a equipe estavam cumprindo o protocolo de segurança anti-Covid-19 exigido muito com rigor. Tivemos que abrir mão de várias outros projetos para finalizar o ‘Temporada de Verão’ e ficamos bem isolados mesmo. Era isso ou parar totalmente de gravar. Para você ter uma ideia, começamos a preparação em outubro do ano passado e estamos terminando de gravar agora. Nunca vivi isso antes. Foram sete meses de trabalho ao todo. E a personagem é um reflexo de tudo que venho me transformando nos últimos tempos”.

Cynthia Senek está em 'Temporada de Verão', nova série brasileira da Netflix prevista para o fim de 2021 (Foto: Matias Terne)

Cynthia Senek está em ‘Temporada de Verão’, nova série brasileira da Netflix prevista para o fim de 2021 (Foto: Matias Terne)

Morando no mundo

Cynthia revela que vem passando por muitas transformações, mesmo antes da pandemia se instalar. “Há dois anos decidi que metade da minha vida iria trabalhar e a outra metade iria viver e também trabalhar, quando possível. Escolhi essa mescla de ficar uns meses em São Paulo gravando uma série, por exemplo, e em um outro período estar onde quero. Com o dinheiro invisto em uma viagem, vou conhecer lugares que desejo, pessoas, expando minha consciência, aprendo línguas e culturas novas. Claro que com a pandemia tive rever isso no momento”, divide Cynthia.

“Na mesma época, comecei uma mudança de hábitos alimentares, de consumo e em minhas formas de me relacionar também. Me abri mais para o novo. Então, hoje escolho não ter um lugar fixo para morar, meio que tenho morado no mundo (risos). Antes da pandemia, morei seis meses no México, fui estudar, viver o lugar. Aí veio a pandemia e foi uma loucura, porque planejei exercer a liberdade em um momento que o mundo se recolhia e eu também precisava me recolher. Comecei a ver a liberdade com outros olhos: me vi obrigada a olhar para dentro, a ficar comigo. Tive crises de ansiedade, retornei para a terapia. Foi aí que entendi que ser livre passava pela felicidade comigo, pelo autoconhecimento. Aprendi que a transformação começaria por dentro e não por fora. Percebi isso diante desse tumulto mundial”.

"Comecei a ver a liberdade com outros olhos: me vi obrigada a olhar para dentro, a ficar comigo" (foto: Matias Ternes)

“Comecei a ver a liberdade com outros olhos: me vi obrigada a olhar para dentro, a ficar comigo” (foto: Matias Ternes)

Conhecida também por ter vivido a Krica nas temporadas de ’Malhação– Seu Lugar no Mundo’ (2015) e ‘Pro Dia Nascer Feliz’ (2016), Cynthia recorda que quando a pandemia do novo coronavírus eclodiu no mundo, em março passado, ela ainda estava no México. “Estava lá, sozinha. Quis passar esse tempo comigo, até porque sempre estive muito cercada de gente. Percebi que precisava me voltar mesmo para mim e também resolver muitas questões que deixei para trás na vida, até porque sai de casa muito nova, aos 16 anos. De lá para cá, sempre morei sozinha, fiz minhas escolhas. Vi nesta situação da necessidade de recolhimento, uma oportunidade de voltar para as minhas raízes por um tempo, quis me reconectar”, lembra a atriz.

"Fui para o México sozinha. Quis passar esse tempo comigo, até porque sempre estive muito cercada de gente" (Foto: Matias Ternes)

“Fui para o México sozinha. Quis passar esse tempo comigo, até porque sempre estive muito cercada de gente” (Foto: Matias Ternes)

“Consegui embarcar no último voo do México para o Brasil depois que a pandemia se instalou. Fiquei em Guaratuba, no litoral do Paraná, durante 4 meses morando com a minha mãe, próxima do meu pai. Foi um processo de cura forte. Eles tiveram que conhecer uma mulher que ainda não conheciam. Minha mãe é uma mulher conservadora, cristã, frequenta igreja. Meu pai é uma pessoa que ainda vive dentro de muitos padrões. Então, ter uma filha com ideias tão liberais, tão expansivas, precisou abrir um espaço para o diálogo, escuta, compreensão. Hoje entendo que não precisamos concordar em tudo, mas curar mágoas passadas. E nos ajudarmos nessa jornada”, pontua a atriz.

Em busca da própria natureza

Entrevistei Cynthia Senek no início da carreira na TV, há alguns anos, quando ela fazia sucesso entre os adolescentes por conta do sua personagem em ‘Malhação’. Chamou a atenção de cara, a curiosidade e o desejo de se fazer compreender daquela menina. Nesta entrevista para o site Heloisa Tolipan, ela reafirma o desejo de ‘desbravar’ o mundo por fora e por dentro de si. Ou de ‘Cy’, como ela brinca nas suas redes, usando o apelido para fazer alusão ao movimento de busca interior.

O isolamento provocado pela pandemia do coronavírus provocou mudanças no cotidiano, mas muitas pessoas também vem aproveitando a ‘suspensão’ da vida ‘como ela era’ para entender como seu comportamento e suas escolhas podem afetar os outros e construir novas realidades. Cynthia revela que já vinha nesse movimento: “Ainda estava na casa da minha mãe e um dia contei para ela que tinha alugado uma casa no alto de um morro, em uma praia em Florianópolis, chamada Pântano do Sul, no caminho de Garopaba. Pretendia ficar por lá 10 dias, isolada, sem internet, tecnologia, redes sociais. Não queria nada que sugasse minha atenção naquele momento, era um momento só para mim”, lembra Cynthia.

“Falei para ela não se preocupar, estava tudo planejado e fui lá fui viver aquela experiência. Os primeiros dias foram muito difíceis, somos bem dependentes da tecnologia. Mas fui em busca dessa reconexão com a natureza externa e interna. No quarto dia, estava pintando um quadro na varanda e senti um vento forte vindo por trás de mim. Quando olhei, vi o maior fenômeno que já observei na vida, era o ‘ciclone bomba’ (o fenômeno causou estragos no Sul do Brasil em julho de 2020). A casa era de frente para o mar e o ciclone se aproximava da costa. Foi assustador”.

"Hoje olho para as redes sociais e a tecnologia de outra forma. Estou nesse ambiente com uma nova postura de comportamento, quero que esteja de acordo com a minha essência" (Foto: Matias Ternes)

“Hoje olho para as redes sociais e a tecnologia de outra forma. Estou nesse ambiente com uma nova postura de comportamento, quero que esteja de acordo com a minha essência” (Foto: Matias Ternes)

Sobre a experiência, a atriz acrescenta: “Fiquei bem, nada me aconteceu. Fui para essa viagem também para vencer medos: de ficar sozinha, de estar vivendo as experiências que a vida queria proporcionar, sem controlar muito. Então, quando pedi isso para o universo, ele trouxe junto a maior catástrofe ambiental do estado de Santa Catarina. Conclusão: a ilha demorou vários dias para se recuperar, ficamos sem internet, luz, sinal de telefone, por cinco dias. E nessa experiência entendi o poder de co-criação que nós temos. Aquilo que pensamos, emanamos, tem força, é o que recebemos. A partir daí comecei a olhar meus desejos, o que peço, de forma diferente. Mudou minha percepção. Fui para ficar 10 dias e fiquei 50. Quando voltei, foi com um olhar diferente. Isso é visível no feed do meu Instagram, por exemplo. Antes me comunicava ainda de uma forma padronizada. A partir dessa experiência, comecei a olhar para as redes sociais e a tecnologia de outra forma, com uma nova postura de comportamento, mais de acordo com a minha essência, de alguém que comunica, compartilha informações para a transformação que enxerga necessária no mundo, que não precisa mais agradar e ser aceita, porque se aceita e não precisa da validação do outro”.

Olho no coletivo e mudança de hábitos 

Cada vez mais ligada ao bem-estar e à saúde, Cynthia define sua trajetória nos últimos anos como uma “jornada mais consciente”. “É entender o seu poder de escolha. Vivemos em uma sociedade completamente egoísta. Esquecemos do todo, sem olhar para a imensa desigualdade desse país, entendendo que o sistema social é pensado só para uma parcela da população. O egoísmo está na política, no consumo, nas escolhas diárias. E só serve para cegar a nossa humanidade”, opina.

"Fiquei mais em paz quando entendi que estar em cima do muro não é uma escolha. É por conta de pessoas que veem coisas erradas e não falam nada, que o nosso mundo está como está" (Foto: Matias Ternes)

“Fiquei mais em paz quando entendi que estar em cima do muro não é uma escolha. É por conta de pessoas que veem coisas erradas e não falam nada, que o nosso mundo está como está” (Foto: Matias Ternes)

A revolução é feminina!

A atriz vem deixando aflorar sua potência e a essência da sua alma feminina, como instrumentos de libertação. Para ela, falar de feminismo salva. “Ele me abriu novas portas, para novas formas de vida. Me apontou novos caminhos e a ideia de quem eu poderia me tornar nesta sociedade. Comecei a perceber que alguns hábitos femininos, como a depilação, a maquiagem, determinadas roupas, saltos, tudo isso pode ter um único objetivo: controlar os corpos femininos por meio do capitalismo e do patriarcado”, reflete.

“O feminismo é igualdade de gênero, de oportunidades. Não é igualdade quando um homem pode sair com tranquilidade sem camisa na rua, e quando uma mulher sai, as reações são completamente diferentes. Não temos uma sociedade igualitária. O corpo feminino ainda sofre tabus, é sexualizado, por conta da sociedade patriarcal, da pornografia que vem moldando esses padrões. Então, por conta de tudo isso, é que o corpo, a sexualidade de uma mulher, incomoda tanto. Dentro deste lugar, vejo que o feminismo é uma das portas que me abrem expectativas maiores das que temos hoje. E é por isso que é um tema e uma bandeira que venho levantando na minha vida. E eu, como aquela menina curiosa que você conheceu há anos, gosto de ter opção de escolha e isso o feminismo dá”.

Hoje ela só quer paz. E liberdade, claro: “Nesse momento estou em um relacionamento sério comigo mesma. Praticando a minha solitude, meu amor próprio. Tem dois anos que estou só comigo. E estou fazendo por mim aquilo que sempre esperei que alguém fizesse. Neste momento não vejo espaço para estar com outras pessoas nisso. Estou feliz”.

"Nesse momento estou em um relacionamento sério comigo mesma (risos). Praticando a minha solitude, meu amor próprio. Tem dois anos que estou só comigo" (Foto: Matias Ternes)

“Nesse momento estou em um relacionamento sério comigo mesma (risos). Praticando a minha solitude, meu amor próprio. Tem dois anos que estou só comigo” (Foto: Matias Ternes)