Coronavírus: Artistas dão visibilidade à causas sociais e de bem-estar, fortalecendo o discurso de empatia


A solidariedade tem movido milhares de pessoas ao redor do país em tempos de pandemia. A convite do site HT, Nanda Costa, Flávia Alessandra, Angélica e Marcella Rica, contam como tem passado os últimos tempos e dividem suas ações para ajudar quem precisa. Empatia é a palavra de ordem! Vem saber!

*Por Brunna Condini

A pandemia causada pelo novo coronavírus vem espalhando uma onda de medo e incertezas em relação ao futuro. Só no Brasil foram registradas até agora 22.746 mortes provocadas pela Covid-19. Fora os 365.213 casos confirmados da doença. Crescem os casos e o cenário desolador. Mas, por outro lado, também cresce, uma onda do bem: de solidariedade e de empatia. E ela vem incorporando, inclusive, quem faz bom uso da sua fama para olhar para o outro. Convidamos Nanda Costa, Flávia Alessandra, Angélica e Marcella Rica para falar com exclusividade ao site sobre o momento e compartilhar de que forma elas vêm atuando em prol do que acreditam. A seguir, belos exemplos, de que quando o prestígio vem acompanhado de consciência, propósito e ação, ele ganha ainda mais valor.

Amor à flor da pele

Com a interrupção das gravações da novela das 21h que estava no ar, “Amor de Mãe”, em que vive Érica, Nanda Costa tem ficado em distanciamento social com sua mulher, Lan Lahn, na casa das duas. A atriz de 33 anos, empresta sua visibilidade para causas como a do Fundo Brasil de Direitos Humanos, em que artistas se engajam para criar um Fundo Emergencial, convidando fãs e admiradores a também doarem para fortalecer a luta contra o novo coronavírus em todo o país. “Eu acredito que nunca foi tão urgente e tão necessário ajudar. É uma forma de espalhar amor. E estando juntos nesse movimento, nessa campanha, vamos conseguir fazer chegar alimentos, material de limpeza, e também doações para custeios básicos das pessoas em vulnerabilidade. Isso é de extrema importância. Ainda mais em um momento como esse, de pandemia, que estamos precisando cuidar da gente para cuidar das pessoas também. Porque essas pessoas que se encontram mais expostas, estão precisando de atenção, carinho e ajuda. Temos que nos unir para ajudar quem precisa”.

Nanda Costa: “Eu acredito que nunca foi tão urgente e tão necessário ajudar. É uma forma de espalhar amor” (Reprodução)

Engajada, Nanda comenta ainda sobre o que a move: “Ações que eu acredito por direitos iguais para trazer visibilidade aos excluídos, contra qualquer tipo de violência, para ajudar as pessoas que mais precisam, para fazer uma corrente do bem. E eu só consigo ficar bem e com a minha consciência tranquila quando sinto que estou ajudando o próximo e posso alegrar um pouquinho a vida do outro. É impossível ajudar todo mundo, mas se cada um puder doar um pouquinho que seja, a gente consegue ter um Brasil melhor e um mundo melhor. É um momento de olhar para o lado e caminhar junto”.

Como tem se segurado neste recolhimento? “Dias sim, dias não vou sobrevivendo sem um arranhão… (cita trecho de “O Tempo não Para“, imortalizado na voz de Cazuza). Têm dias que acordo com mais esperança, outros, nem tanto, com notícias de amigos que estão doentes, de gente que faleceu. E aí vai oscilando, né? Mas tenho muita gratidão por ter o privilégio de estar em casa. Já estou sem sair desde que começou a pandemia, lá pelo dia 14 de março. Fui ao mercado uma vez, não tenho saído. Tenho rezado bastante, tentado manter a positividade. E ajudado as pessoas como posso”, conta.

O que te entristece hoje? “Acompanhar o noticiário e perceber que as pessoas não estão respeitando as recomendações da Organização Mundial de Saúde, indo para as ruas sem necessidade. Eu também queria estar na praia aproveitando, mas não faço isso por respeito a mim e ao próximo. E me chateia ver as pessoas não usando máscaras, não acreditando na ciência, propagando esse tipo de informação que só agrava a nossa situação”. E o que aquece o seu coração? “É saber que tem muita gente fazendo o movimento contrário, ajudando. É um movimento lindo de generosidade. Isso enche meu peito de esperança”.

Nanda e Lan Lahn: “O amor, quando é de verdade, só se fortalece. Seja em uma dificuldade, perda, em um momento difícil em que a saúde falha, você ter uma pessoa que te ama, te bota para cima, é um privilégio” (Reprodução Instagram)

Com sensibilidade à flor da pele, a atriz revela que o que mais tem criado neste momento é resistência. “Espero que a gente saia mais forte dessa. Vejo muita gente se cobrando para criar alguma coisa. Se você tiver inspirado e criar, ótimo! Mas acho que é um momento para dar uma freada mesmo. De avaliar a vida que estávamos levando e refletir qual a vida que a gente quer levar depois disso. Tenho respeitado mais o tempo das coisas. Tenho me alimentado mais de coisas que acho ser mais positivas, trabalhar os afetos, por exemplo. Fiz uma live com a Lan, fizemos duas músicas, foi bom, mas não me cobro. Estou deixando acontecer. Não estou me forçando a criar nada. Algo que eu tenho feito bastante é cozinhar e estou gostando. Tenho aprendido receitas. E fico muito feliz de ter uma companheira como a Lan nesse período”, divide Nanda. E afirma que a relação das duas só tem se fortalecido. “O amor, quando é de verdade, só se fortalece. Seja em uma dificuldade, perda, em um momento difícil em que a saúde falha, você ter uma pessoa que te ama, te bota para cima, é um privilégio. Saúde e amor são as coisas mais importantes da vida. A gente se ajuda em tudo, se bota para cima e não tem como ser diferente”.

Pelo olhar ao outro

Embaixadora da Brazil Foundation há alguns anos, Flávia Alessandra acredita que no mundo de hoje, mais do que nunca, as pessoas não deveriam mais viver em suas ”bolhas”, ignorando a dor alheia. “Temo por uma parcela imensa da população em situação de vulnerabilidade. Pessoas que não têm acesso à água e sabão. Pessoas que não podem fazer isolamento social, que precisam se arriscar, porque, caso contrário, não terão o que comer”, destaca. “Existem muitos problemas no mundo, muitas causas nobres e com as quais eu me identifico. Mas, nesse momento de pandemia, temos que voltar nossa energia e força para ajudar essa parcela da população. Tem campanhas doando cestas básicas e quentinhas, porque tem muita gente passando fome. Quentinhas porque tem gente que nem gás têm. É uma situação muito triste”.

“Existem muitos problemas no mundo, muitas causas nobres e com as quais eu me identifico. Mas, nesse momento de pandemia, temos que voltar nossa energia e força para ajudar essa parcela da população” (Divulgação/Globo)

Em quarentena desde que as gravações de “Salve-se quem puder”, em que dava vida à Helena, foram interrompidas em março, ela fala das ações que se envolve. “Quero estar sempre associada a causas e temas que me tocam e, claro, que de alguma forma farão diferença na sociedade. Por ser conhecida, sei que minha voz pode potencializar outras vozes. E isso é muito importante: ter essa consciência e ajudar o próximo. Como embaixadora da Brazil Foundation, estamos sempre criando ações para tentar diminuir a desigualdade que existe no Brasil e em tantos outros lugares. Em setembro, nós temos sempre um leilão principal. Já estamos analisando, avaliando como faremos esse ano para estarmos presentes”, anuncia.

Em casa, com o marido, Otaviano Costa, e as filhas, Giulia Costa e Olívia, Flávia tem tido uma rotina intensa de atividades, e como tantos brasileiros, também tem se desafiado para lidar com o lado emocional durante o isolamento. “É muito ruim viver em um mundo de incertezas. Não sabemos como será o dia seguinte. É um dia de cada vez. Acompanho o noticiário e é difícil não me emocionar ao ver a quantidade de pessoas que estão morrendo. E todas as outras que estão doentes e lutando por suas vidas”, desabafa. “Olha, bate angústia, bate ansiedade, não tem como. Sei que a barra está pesada lá fora. Acordo sempre pensando em como ajudar”.

O que tem te dado algum alento? “Acho que esse senso de coletividade. Ver as pessoas se unindo para fazer o bem. Isso é algo que me inspira e emociona. Como é importante a gente olhar para o próximo, enxergar que nem todos têm a mesma oportunidade. Pensar que vivemos em um país e mundo muito desigual. E que, quando queremos nos unir, fazemos a diferença, potencializamos ações e os resultados. Tenho feito disso um período de reflexão, de autoconhecimento também. Aprendendo a lidar com a saudade das pessoas que amo e não estou vendo. São muitas coisas para pensar e equilibrar. Torço para que esse senso de coletividade permaneça, que não seja apenas algo do momento. Que as pessoas estejam sempre pensando no próximo, em como oferecer ajuda a quem precisa. Isso deixaria o mundo muito melhor”.

Conexão interna e empatia externa

Além dos projetos que Angélica e o marido, Luciano Huck, apoiam, que segundo ela não são poucos, a apresentadora também tem se voltado para difundir práticas de bem-estar como a meditação, da qual é adepta, visando ajudar outros a buscarem aliviar a tensão e trazerem alguma paz para o momento. “O Luciano está fazendo alguns trabalhos, que temos participado para ajudar instituições, o que é gratificante. É uma rotina de olhar para dentro e olhar em volta, o tempo todo. Se reconectar e se conectar com o outro, com a dor do outro. É uma quarentena onde a empatia é o grande nome”, traduz Angélica que está em quarentena com o marido e os três filhos do casal, Joaquim, de 15 anos, Benício, 12, e Eva, 7.

Angélica: É uma rotina de olhar para dentro e olhar em volta, o tempo todo. Se reconectar e se conectar com o outro, com a dor do outro. É uma quarentena onde a empatia é o grande nome” (Divulgação/Globo)

Praticante da meditação transcendental há quatro anos, ela está acostumada a recolher-se. “A meditação está presente na minha vida em todas as minhas ações. Isso ajuda muito. Em tudo que faço fica aquela paz e o discernimento para as emoções mais aflorado”, detalha. “Costumo dizer que meditar ajuda muito na inteligência emocional porque ficamos com as questões mais claras, menos turvas na mente. Aguça muito a intuição, então você fica mais aberto para suas escolhas”.

Angélica começou a meditar pouco tempo depois de um acidente de avião que sofreu com a família em 2015, e fica feliz de se colocar nas redes como porta-voz da prática, em tempos de tantos altos e baixos emocionais. “Outro dia fiz uma live meditando com 4 mil pessoas. No final, os comentários que recebia, as mensagens, eram unânimes: diziam que tinham sentido uma paz que não experimentavam há muito tempo. Mesmo quem não tinha o habito de meditar, só pelo fato de estarmos ali naquele silêncio, intenção. É muito gratificante você fazer parte de um momento de harmonia na vida de alguém, ser facilitadora para trazer paz com o que você está transmitindo”, conclui. “E as pessoas que fazem meditação e vem em um movimento de anos tentando trazer visibilidade para a prática, estão muito felizes em difundir isso, porque sabem que é realmente muito útil na vida, não só em um momento como o que vivemos. Essa pandemia trouxe coisas muito ruins, mas também trouxe algumas consciências, como o fato das pessoas buscarem, experimentarem essas alternativas para ficar mais em paz”.

E completa: “Meu professor sempre falou: medita quem precisa. E acho que todo mundo em nosso mundo hoje precisa. Acho que agora, as pessoas estão sentindo realmente esse “precisar”. Tanto, que a palavra mais procurada no Google ultimamente é meditação. Está todo mundo buscando uma forma de se conectar, reconectar. Já que temos que ficar muito em casa, nos voltarmos para dentro. Se torna uma busca natural voltar para o seu interior. Acho que a meditação fez tanto bem para mim e faz tão bem para todo mundo que eu conheço, que eu quero que todo mundo faça, que todo mundo fique bem”.

“Como família, descobrimos o quanto somos unidos. Na verdade, reafirmamos. Descobrimos coisas ricas sobre nossos filhos, que muitas vezes na correria do dia a dia, as vezes perdemos” (Reprodução)

Em entrevista no início da quarentena ao site, você contou que ainda estavam se adaptando à essa realidade. E agora, mais de 60 dias depois, como está o recolhimento? “Os dias em isolamento têm ficado curtos, apesar de ter conseguido criar uma rotina minha e das crianças de atividades. Fora isso, estamos em reunião de projetos para o ano que vem. Nada para esse ano, porque realmente acho que temos um processo de retomada, que não sabemos como vai ser”, diz. “E como família, descobrimos o quanto somos unidos. Na verdade, reafirmamos. Descobrimos coisas ricas sobre nossos filhos, que muitas vezes na correria do dia a dia, as vezes perdemos. Também percebemos o quanto nossos filhos são calmos, porque eles estão numa boa de ficar em casa, estão entendendo a necessidade. E é uma reafirmação de ver o quanto nós, como família, nos bastamos, juntinhos”.

Ajudar para salvar vidas: hoje e sempre

Outra artista que aderiu voluntariamente à campanha emergencial para arrecadar doações na luta contra a Covid-19 do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Marcella Rica, que está em quarentena ao lado da namorada, Vitória Strada, afirma que usa a energia para fazer algo por muitos que não têm os privilégios de alguns. “É realmente necessário olharmos para as pessoas em maior vulnerabilidade nesse momento pensando em como podemos ajudar, seja da forma que for, isso é de fato a principal urgência. Essa pandemia afeta a todos. Mas, sem dúvida, é preciso olhar mais do que nunca para quem mais precisa de ajuda. Estamos falando de salvar vidas”, alerta. “Empresto minha visibilidade para toda e qualquer causa ou projeto que apoie de forma íntegra e confiável pessoas em estado de vulnerabilidade, mulheres que sofrem violência, abrigos LGBTs, famílias que não possuem condições básicas de saúde, bem-estar e nem o mínimo para a sobrevivência. O coronavírus só aumentou esse abismo social. A situação, que já era crítica, está ainda pior. Dar voz a tudo isso é o mínimo que podemos fazer”, acredita Marcella, reforçando que deseja que isso vire uma prática de todos.

A atriz, que tem trabalhado de forma remota para sua produtora, a Rica Conteúdo, e gravou recentemente a série “As Filhas de Eva”, para o Globoplay, diz que é grata por ter a parceria de Vitória no isolamento. As duas têm criado juntas, feito fotos e vídeos, de forma despretensiosa, mas mostrando total sintonia. Você e Vitória já criaram algo pensando em trabalhar juntas? “Nos apoiamos bastante em nossos projetos paralelos e estamos deixando a criatividade fluir. Já fizemos alguns vídeos, mas estamos deixando as ideias acontecerem sem pressão”.

Vitória Strada e Marcella Rica: é importante ter esperança e manter a fé como guia. Porque apesar do Corona, amanhã há de ser outro dia. Vai passar” (Reprodução Instagram)

Se tivesse que traduzir a intensidade da vida de vocês na quarentena em uma música qual seria? “Seria “Apesar de você”, de Chico Buarque. Acho que independente da intensidade, da ansiedade, das angústias… é importante ter esperança e manter a fé como guia. Porque, apesar do corona, amanhã há de ser outro dia. Vai passar. E eu mal posso esperar por uma água nova brotando e a gente se amando sem parar”, conclui, citando um trecho da canção.