Robert Guimarães comemora 18 anos de Babilônia Feira Hype e conversa com HT sobre expansão para o e-commerce


Conversamos com Robert Guimarães e Fernando Molinari, responsáveis pelo evento, sobre a nova fase da BFH, os desafios atuais, destaques do passado e todo o pioneirismo carioca-cool da marca que descobriu nomes como Farm, Foxton e Reserva

*Por Júnior de Paula e João Ker

E não é que um dos eventos mais descolados e significativos do calendário mensal carioca está chegando à maioridade, com seus 18 anos? HT fala do projeto BABILÔNIA FEIRA HYPE, criação dos incansáveis Robert Guimarães e Fernando Molinari, que revelou (e continua revelando) nomes muito importantes para o mercado de moda brasileiro, como a Farm, Reserva, Santa Ephigenia, Carlos Tufvesson, Capi, Espaço Fashion, Foxton e Via Mia, entre tantos outros. A festa, claro, vai ser em grande estilo, com uma programação distribuída por dois finais de semana seguidos, com edições na Marina da Glória e no Clube Monte Líbano, ambas repletas de dicas divertidas e diferentes para os presentes de Natal. “É muito bacana poder voltar ao espaço de contemplação da Baía de Guanabara, ainda mais considerando que fomos os pioneiros na Marina da Glória, quando ninguém ainda se utilizava do espaço em 1997. O convite agora foi estendido para que ali se torne a base oficial da BFH a partir de 2016”, comemora o “carioca suíngue sangue bom” Robert.

Nestes 18 anos, foram mais de 350 edições, 5 mil marcas lançadas e aproximadamente 3,5 milhões de pessoas que passaram pela BFH, só para se ter uma ideia da grandiosidade da feira. Para comemorar estes resultados, é realizada uma edição especial comemorativa, que ocorre nos dias 29 e 30/11, das 12h às 21h (não coincidentemente, a mesma data na qual o evento nasceu em 1996) na Marina da Glória, local perfeito para curtir a vista da Baia de Guanabara. Outra edição, chamada ‘Plantão de Natal’, ocorrerá no final de semana seguinte, dias 6 e 7 de dezembro, no Clube Monte Líbano, atual palco da feira que já passou por diversos pontos icônicos da cidade, como o Forte de Copacabana e o clássico Jockey Club. E isso sem falar no novo projeto da dupla, a Hype Free Market, que será realizada no Cittá America dia 21 de dezembro e será a primeira feira de brechós do Rio. “hoje consideramos que a moda sustentável é uma bandeira importante a ser levantada”, comenta Robert.

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O site, claro, não ia deixar a data passar em branco e foi bater esperto um papinho com Robert e Fernando sobre passado, presente e futuro da feira!

HT: Muitas vezes, esses eventos mais descolados do Rio são muito efêmeros. A que vocês creditam o sucesso da Babilônia Feira Hype, que conseguiu se manter no gosto dos cariocas durante esses 18 anos?

RG: A Babilônia Feira Hype, em 1996, cunhou o termo “feira hype” misturando novos criadores de Moda-Arte-Design-Gastronomia, e no Rio foi pioneira neste formato, ao renovar o espírito das feiras culturais que existem na Europa e EUA, em contraponto com a “Feira Hippie” (dos anos 1970, com caráter mais voltado para o  artesanato). Conquistou a credibilidade e fidelidade do seu público através da sua periodicidade mensal e conseguiu se manter no gosto dos cariocas pela força de sua marca, diretamente associada à originalidade, à curadoria de conteúdo que valoriza e promove os agentes criativos, sua constante renovação e fortalecimento de seus negócios.

HT: A feira revelou marcas que hoje fazem sucesso por reproduzirem o típico estilo carioca, como a Farm e a Reserva. Como acha que a BFH desenvolveu este potencial para dar o empurrão a novas marcas? Como é este incentivo?

RG: O carioca tem um jeito descontraído de se vestir, e não se submete às imposições de passarelas ou tendências estrangeiras: basta ver como se vestem na rua. A BFH sempre soube detectar marcas que refletem este estilo e por consequência têm excelentes resultados comerciais. As marcas evoluem com a sustentabilidade de seus negócios, e com isso conseguem abrir lojas e, eventualmente, algumas tornam-se redes.

Além disto, o estilo carioca é um dos pilares da Babilônia Feira Hype: as locações escolhidas para o evento ao longo de sua história (Pier Mauá, Jockey Club Brasileiro, Forte de Copacabana, Marina da Glória, entre outros) refletem a descontração e contemplação de ícones da cidade; a espontaneidade dos cariocas ajuda a formar o conceito do evento, pois estamos sempre acompanhando as mudanças de comportamento da cidade, para manter esta convergência. O entendimento deste princípio por parte de alguns participantes da Babilônia Feira Hype é determinante para que possam estender esta mesma receita na formação do DNA de suas marcas e assim tornarem-se cases de sucesso no mercado nacional, uma vez que o Rio é a grande vitrine de comportamento do Brasil.

HT: Como acha que a BFH desenvolveu este potencial para dar o empurrão a novas marcas? Como é este incentivo?

RG: O melhor que a Babilônia Feira Hype pode oferecer aos seus expositores é a oportunidade de criar clientela fixa com um público consumidor que tem como característica principal a sua disponibilidade para o novo. Ajudamos a  formar este perfil de consumidor através da cumplicidade, criando um cenário onde o público fica muito à vontade  para interagir com os expositores de forma espontânea. Aqueles expositores que sabem tirar proveito disso obtêm grandes resultados, considerando que poder saber quem é o seu cliente e conhecer o que ele gosta são informações fundamentais para conseguir sucesso no mercado da moda.  Também, a cada edição,  pelo menos 20% são dos expositores são novos agentes criativos, o que oferece uma grande chance de renovação do mercado.

Em 1996, época do lançamento da Babilônia Feira Hype, nosso maior desafio era mostrar ao carioca que para estar na moda não precisava apenas usar o que as poucas grandes marcas colocavam em suas vitrines. Com a chegada da BFH, ajudamos o carioca a sair da mesmice imposta pela ditadura destas grandes marcas que monopolizavam o mercado – quem não usava a calça jeans da marca tal, ou o vestido daquela outra marca, estava fora da moda. Isso mudou. E esta mudança foi determinante para o reposicionamento da moda carioca e a entrada de uma nova geração de empresários no mercado.

HT: O que esperam mudar com a Feira, agora que ela atingiu a “maioridade”?

RG:  É quase um sentimento de pai vendo a filha chegar aos 18 anos com boas ideias, bons amigos, comportamento legal, cabeça antenada, toda moderna. Mas, ao mesmo,tempo bate aquela aflição porque agora ela já é independente e pode fazer suas coisas sozinhas. A partir de agora começaremos vôos mais ousados, a exemplo do e-commerce. Pretendemos nos transformar em uma grande plataforma market place de grandes multimarcas, nos mantendo sempre no segmento de novos estilistas. Vamos expandir a possibilidade de as pessoas consumirem esses novos designers em todo o Brasil e, ao mesmo tempo, abrir porta para novos profissionais de outras regiões do país.

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HT: De que forma vocês pretendem então comemorar esses 18 anos tão importantes no cenário carioca?

RG: Vamos fazer uma brincadeira com o público, através da campanha “I love Babilônia Feira Hype”, onde eles vão à rádio do evento declarar seu amor pela feira e postar a declaração com a hashtag #BabiloniaFeiraHype18Anos. Quem fizer isso, ganhará um cupom com o nome de uma marca e terá direito a um produto do mostruário. Terá também a ação de um filhote nosso muito querido, a Via Mia, que estará distribuindo cheques de vale-compras pela feira. Teremos nossos já tradicionais food trucks: Delfina, com pratos à base de carne de pato; La Furgoneta, que tem uma ideia similar às dos cafés parisienses; o saudoso Ipanema Market, que agora tem uma carrocinha com sucos e sanduíches naturais; Los Mendozitos, com a cartela de vinhos especiais e muito mais. Neste domingo, às 17h, teremos um bolo de 1,20m de altura para cantar parabéns e comemorar com a participação dos expositores atuais e antigos. Durante a ocasião, estaremos servindo um drink que está sendo um must entre os cariocas, um resgate da sangria com espumante e vinho branco servido em garrafinhas charmosas.

HT: O que você vê de mudanças negativas e positivas em relação à Feira, ao público e aos expositores ao longo desses 18 anos?

RG: De negativo, eu vejo que a primeira geração de expositores tinha um espírito mais coletivo, eles interagiam entre si e até hoje fazem parte de um movimento comum de interesses. Eles tinham uma perseverança maior e um visão mais objetivada para o desenvolvimento de uma carreira. Hoje há uma aflição e afobamento dos novos estilistas, que não deixam dar tempo ao tempo, atropelando etapas de criação e comercialização e achando que é bom participar de tudo, quando na verdade não é, porque você quebra com a exclusividade que esse tipo de público gosta de ter. Se você coloca sua marca em qualquer cantinho, perde um pouco do objetivo. Se elas colocam só na feira, agregam valores assim como fez a Farm, por exemplo. É essa falta de preparo e de entendimento do que é comércio de moda, e não simplesmente vender roupa.

De positivo, vejo que essa mesma turma tem mais acesso à internet e à informação, tirando proveito disso. Assim, conseguimos ter produtos mais unificados com uma tendência de mercado brasileiro e internacional. A Babilonia Fira Hype vê que muitas pessoas que iam com os pais quando crianças, hoje continuaram como frequentadores da feira, e acabam encontrando a mãe ou o pai. Há também muitos expositores que eram adolescentes consumidores e hoje vão para lá com seu próprio negócio.

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HT: A Feira se mantém no topo do gosto carioca há quase duas décadas, sendo pioneira nesse tipo de evento. Como você vê o papel da Babilônia ao abrir caminho para essa nova onda de feiras itinerantes que têm surgido na cidade?

RG: É inquestionável que a Babilônia é o ponto de partida de todas essas feiras. Na maioria das vezes, são ex-expositores da feira, que resolvem fazer uma própria para vender e chamam novos agentes. Outras, são basicamente formadas no oportunismo, tentando pegar carona no rabo do cometa. Eu vejo um lado positivo, na medida em que tudo aquilo que faz sucesso, gera cópias. Só acho negativo o fato de essas serem cópias tão precárias, sem o zelo e cuidado que sempre tivemos e que acaba pesando muito nas nossas costas. Porque como a Babilônia é a protagonista, tudo é sempre muito cobrado da gente e pouco desses eventos, em questões de fiscalização e regulamentação. Nós somos a única feira regulamentada por lei.

HT: Em relação a essa questão, o que você gostaria de enfatizar?

RG: O público não é bobo! As pessoas não podem achar que da noite para o dia vão arranjar uma logomarca e unir amigos em uma casa que vão se tornar o must, porque não é assim que a banda toca. Nós temos cumplicidade, história, organização, segurança… Nosso DNA é híbrido com o lifestyle carioca. Essas outras que surgem por aí eu considero como concorrência desleal, na medida em que nada é cobrado delas por conta das autoridades, e a Babilônia  acaba sendo alvo de uma fiscalização mais rígida – não que eu me importe, os fiscais são sempre bem vindos por lá. Tenho uma pasta com cerca de 30 páginas só de documentos para regulamentação. E isso custa dinheiro! Acho que tanto o público quanto os expositores não caem nessa balela. Concorrência é ótimo, mas de igual para igual.

Há também toda uma questão quanto ao conceitual: cria uma outra cena, não precisa copiar a mesma coisa! Todos esses pseudo-expositores que vão de estande para estande convidando as pessoas, sem ética alguma. Tem até o caso de uma ex-funcionária nossa que foi demitida por não cumprir os procedimentos do escritório e está divulgando que vai lançar uma feira dela agora, entrando em contato com meus expositores e fornecedores. Cadê seu alvará de produtor, sua autorização e seu network?

HT: Esse movimento de cópias do BFH é novo ou já tem história? 

RG: Em 1999, houve uma proliferação de várias feiras, o que gerou uma reação negativa do comércio já formado e estabelecido. Esse fato se tornou desleal à medida em que tira a venda dessas pessoas, ao contrário da nossa que só trabalha com novos criadores, sem produto importado, sem muamba e com controle de qualidade. Há uma relação com o comércio convencional. Daqui a pouco vai acontecer a mesma coisa, porque as pessoas estão fazendo a coisa à la vonté. É o mesmo que comparar o Shopping Leblon com o camelódromo da Uruguaiana. Sem desmerecer nenhum dos dois, mas são propostas completamente diferentes.

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HT: Para você, quais foram os destaques desses 18 anos de Babilônia Feira Hype?

R.G.: A regulamentação da feira foi muito emocionante. Quando fomos indicados ao Prêmio Endeavor americano, que destaca os novos modelos de negócio, também houve aquele friozinho bom no estômago. O prêmio “Faz Diferença”, de O Globo (perdemos para a Havaianas, mas isso nem é perder, né?) é outro fato bacana. Também acho que ver a história de cada marca crescendo aqui dentro é algo que merece destaque. O que mais me emociona e me cativa é ver que, até hoje, mesmo depois de todos esses anos, continuamos unidos com o Rodrigo [Ribeiro] da Foxton, o Rony [Meisler] da Reserva e muito mais gente. Somos uma “Família Hype”. Importante ver que fomos um divisor de águas no cenário da moda carioca, e outro momento significativo foi quando lançamos o livro da Babilônia, ao completarmos 10 anos. E acho importante destacar quando fizemos um trabalho de imersão há três anos, pesquisando por Berlim, por Londres e pela Bienal de Veneza, e vimos como a Babilônia não deixa nada a dever às grandes feiras e cenas do mundo. O me deixa feliz é ver o quanto as pessoas têm a Babilônia Feira Hype como delas. Não é do Robert, nem do Fernando. É da cidade do Rio de Janeiro, desses agentes criativos, de quem gosta de novidade. É do carioca.