Com participação de Caetano Veloso e time de artistas, Cazuza será lembrado em show no dia que completaria 60 anos e Lucinha Araújo afirma: “A dor não diminui, mas ajuda”


A apresentação está marcada para a hoje, quarta-feira, 4, no Circo Voador. Para a mãe de Cazuza, manter o legado do filho vivo é um consolo. Mas, mesmo após quase 30 anos, ainda é difícil aceitar a perda. “Eu sei que nunca mais conseguirei ser feliz sem o meu filho aqui comigo. E nem tenho essa pretensão. Hoje eu só quero viver em paz”

Ela é uma mãe que o Brasil abraçou após a perda de um filho que, para a arte, virou uma lenda. Lucinha Araújo é sinônimo de força e resistência para aqueles que acompanham a obra e o legado de Cazuza desde a sua morte. Há quase 30 anos, a mãe do cantor, que hoje tem 81 aos, é a responsável por manter a arte deixada pelo filho viva e sempre presente na cultura nacional. E, hoje, quando Cazuza completaria 60 anos, Lucinha Araújo viverá mais um dia de homenagem. Porém, desta vez, o aniversário terá tempero de surpresa. “Haverá um show no Circo Voador com diversos artistas homenageando meu filho. Quem está organizando é a Paulo Lavigne com ajuda do Rogério Flausino e do Wilson Sideral, que possuem um projeto em homenagem ao Cazuza. Mas eu não sei de muitos detalhes. Eles chegaram com o show pronto e para mim será uma surpresa”, revelou.

Até o momento, o que Lucinha Araújo sabe sobre o show é o que já foi revelado pelo trio idealizador da homenagem. No palco, nomes como Caetano Veloso, Bebel Gilberto, Preta Gil e os irmãos Rogério Flausino e Wilson Sideral estão confirmados para a apresentação que terá a renda da venda dos ingressos revertida para a Sociedade Viva Cazuza, instituição administrada por Lucinha que cuida de crianças e adolescentes com HIV. Para ela, esse show no dia do aniversário de Cazuza é uma prova de que sua arte ainda está viva. “O poeta não morreu. Quando um artista deixa um trabalho como ele deixou, a morte é apenas física. Isso não é nada para uma mãe, mas para o povo é. Meu filho foi um grande artista que ficará por várias gerações. Isso me dá muito orgulho”, disse.

Cazuza e Lucinha Araújo (Foto: Reprodução)

Um exemplo desta contemporaneidade de Cazuza, de acordo com Lucinha Araújo, é o contato que ela recebe de jovens e crianças interessados na obra de seu filho. “É uma coisa de pai para filho. Como que crianças de 13 anos gostam tanto e me escrevem falando que estão lendo livros sobre Cazuza? Isso é muito especial para uma mãe. Nada disso diminui a minha dor, mas me orgulha e mostra que meu filho não passou despercebido por esse mundo. Ele viveu pouco, mas marcou presença”, destacou emocionada Lucinha que afirmou que essa troca acalma seu coração a cada aniversário sem o filho. “A dor não diminui, mas ajuda. Eu perdi meu filho no auge da beleza, do talento e do sucesso dele. Eu quis trocar de lugar com ele, mas não seria possível. Por isso que hoje eu dedico a minha vida a cuidar deste legado para manter a memória do Cazuza viva. O povo não esqueceu e, enquanto eu estiver viva, estarei trabalhando nisso”, garantiu ela que depois espera que o público dele siga com sua missão.

No discurso emocionado de Lucinha Araújo, a dor e o orgulho são sentimentos que costuram boa parte dos assuntos. E não importa qual. Seja sobre o show da próxima semana ou o legado de seu filho, a mãe de Cazuza reforça o amor pela memória e pelas lembranças do artista. “Eu sei que nunca mais conseguirei ser feliz sem o meu filho aqui comigo. E nem tenho essa pretensão. Hoje eu só quero viver em paz”, confessou Lucinha que faz isso com ajuda do legado deixado por ele. “Apesar de não estar aqui entre nós, ele está vivo. E qual mãe não se orgulharia disso? É claro que não compensa, mas me dá razão para continuar vivendo”, disse ela.

“Eu sei que nunca mais conseguirei ser feliz sem o meu filho aqui comigo”, Lucinha Araújo (Foto: Felipe Panfili)

Entre as obras cuidadas por Lucinha Araújo está a Sociedade Viva Cazuza. A instituição com mais de 30 anos é a “tábua de salvação” desta mãe que o Brasil acolheu. “Os direitos autorais que eu recebo pelo trabalho do meu filho me ajudam a sustentar o projeto. E, enquanto eu estiver viva, tenho certeza que essas crianças terão a minha ajuda. Isso é uma coisa que me dá muita segurança e me motiva diariamente. Essas pessoas que ajudamos acham que eu sou a salvação delas, mas ela que são a minha. A Sociedade foi a melhor ideia e atitude que eu já tive”, apontou.

Defendido com tanto amor e vontade, o projeto de Lucinha Araújo sobrevive mesmo em tempos de crise. De acordo com ela, as doações diminuíram, mas ainda assim nada foi alterado. “É claro que sentimos essa crise, mas a gente segue. Além das crianças e adolescentes, ainda ajudamos 200 adultos. Tudo isso me preocupa muito. Não posso parar com a instituição. Hoje a gente vê que Cazuza tinha razão quando dizia para o Brasil mostrar a sua cara. Está aí, agora a sociedade está fazendo isso”, comentou ela que destacou a personalidade vanguardista de seu filho. “Se o Cazuza ainda estivesse vivo, não sei o que ele faria e nem diria, mas certamente seria tudo de vanguarda. O que ele escreveu lá atrás está aí até hoje, é muito moderno. Por isso que durou, era bom demais”, completou.

E assim Lucinha Araújo vai vivendo seus dias. Aos 81 anos, ela disse que divide a sua rotina entre a Sociedade Viva Cazuza e uma de suas paixões, a música. “Eu procuro viver o tempo que ainda me resta. Enquanto Papai do Céu não me chama, eu cuido das crianças e vou ouvindo música. Me dou muito bem com os artistas e com os amigos do meu filho”, contou ela que há quatro anos ficou viúva. “Vamos levando”, lamentou.

Serviço: Rogério Flausino e Wilson Sideral cantam Cazuza

Dia: 04/04 – quarta-feira
Horário: 22h
Local: Circo Voador
Ingressos: a partir de R$ 50 com renda revertida para a Sociedade Viva Cazuza (clique aqui!)
Participações: Caetano Veloso, Bebel Gilberto e Preta Gil