Cleo analisa o que é ter sua vida ‘full time’ sob os holofotes e enfrentar a patrulha ideológica das redes sociais


Conversamos também com a atriz e cantora sobre as polêmicas em torno de sua vida profissional e pessoal nos últimos meses e ela disse: “Não me preocupo com repercussão do que eu digo: se eu falei sobre o assunto é porque achei que devia ser abordado na hora. Seja ele tabu ou não”

*Por Karina Kuperman

Seja por conta das mudanças em seu corpo, das opiniões sempre fortes, dos rótulos que insistem em encaixá-la, de declarações sobre depressão e compulsão ou diversos outro motivo, o fato é: Cleo tem sido presença constante na mídia. Só recentemente, ela esteve no centro de notícias por conta da mudança de nome artístico (Cleo Pires agora assina Cleo), dos 20kg a mais na silhueta e ataques gordofóbicos que sofreu, da conta de Instagram hackeada e tantas outras histórias que pipocam sobre sua vida.

Cleo (Foto: Rodolfo Magalhães)

Agora, a multifacetada atriz e cantora – que tem tanto o que dizer – se dedica ao Cleo on Demand, projeto audiovisual que ela assina como produtora executiva, que tem impactado – desde a estreia, no início do mês – seus 11 milhões de seguidores do Instagram com capítulos da que abordam temáticas sociais (como feminicídio e homofobia, por exemplo) artísticas e culturais, todas disponíveis em seu IGTV. “Esse projeto veio da minha vontade e da minha equipe de fomentar a produção de conteúdos sobre temas que achamos que precisam ser mais discutidos e também da indignação das atuais censuras que estamos passando. Então, eu observei que poderia muito bem utilizar as minhas plataformas para criar esse espaço e deixar que temáticas importantes tenham o seu lugar e valor. Eu acho que é uma lacuna que tinha necessidade de ser incentivada, na verdade”, ressalta a bela.

(Foto: Rodolfo Magalhães)

Cleo falou ao ‘Fantástico’ sobre a patrulha nas redes sociais a respeito de corpo e padrões de beleza. “Você é julgada de forma agressiva por causa da forma que você está, como está o rosto, corpo, roupas”, chegou a dizer ela, que sofreu de bulimia durante a juventude e hoje luta contra uma compulsão alimentar. “Ler certos comentários dói, né? Dói. Eu não estou imune a esse tipo de coisa. Não conheço alguém que não se importa quando tem uma enxurrada de gente dando opinião sobre a sua vida sem nem saber quem você é de verdade. E tudo bem também você ficar mal. Faz parte do processo, faz parte da vida”, disse.”Eu achava que eram 10 kg, mas foram 20 kg a mais. Obviamente você vai mudar. E gente, qual é o problema? Não é normal você ser pressionada e julgada por causa da sua aparência. Eu morria de vergonha, medo de sair, aparecer nos lugares. Parecia que eu estava fazendo algum mal. Aí eu parei pra pensar por que eu estava com tanta vergonha. Por que as pessoas estavam falando de mim desse jeito? Aí você fica mal, mais compulsiva ainda, come mais. Aí entra num rolo compressor de perda de controle mínimo de suas emoções, atitudes. Parece um pesadelo. Não é certo eu me sentir assim. Não vou deixar fazerem isso comigo”, explicou.

(Foto: Rodolfo Magalhães)

Cleo On Demand
“Estou preparada para a repercussão. Ainda mais que são assuntos que de fato considero importantes que sejam falados. Por enquanto, tenho notado que a reação das pessoas está muito boa. Elas entenderam a mensagem que queremos levar – que não tem nada a ver com a minha vida pessoal e sim com uma realidade social dura que está acontecendo nesse exato momento. Não tenho medo de abordar nada. Meu único receio é de que a mensagem errada seja repassada. Quando falo sobre esses assuntos não é para causar polêmica de alguma forma, são temas que precisam ser falados e que a sua discussão precisa ser normatizada para que gere alguma mudança efetiva na sociedade. Eu descobri que tenho que utilizar dos meus privilégios da maneira correta, é dar esse espaço de fala para pessoas que passaram por isso. Não me preocupo com repercussão das coisas que eu digo: se eu falei sobre o assunto, é porque achei que devia ser abordado na hora, seja ele tabu ou não”

(Foto: Rodolfo Magalhães)

Projeto na Internet e a TV aberta
“Eu acho que tudo tem o seu espaço. A TV aberta tem se reinventado constantemente para se adequar a esse novo mercado e isso tem o seu valor também. Quanto mais tivermos lugares para exercer a arte, melhor, não precisa um anular o outro. Eu acho que a rede social consegue ajudar em certos pontos, existem muitas páginas hoje em dia que falam, informam e acolhem. Principalmente quando temos casos em que a pessoa não tem o amparo da família e amigos, ou até quem não conseguiu ainda identificar que o que está sentindo precisa de um tratamento. Acho que temos que olhar por esse lado também, ver como algumas pessoas conseguem utilizar a ferramenta para o bem”.

(Foto: Rodolfo Magalhães)

Feminismo
“Eu não sei dizer quando me descobri feminista, não tive um momento abrupto dessa percepção. A minha desconstrução foi bem gradual, e continua acontecendo. Aos poucos e no meu próprio tempo, até que percebi que era, sim, feminista. Eu fui criada por mulheres fortes. Minha mãe e minhas avós são grandes exemplos na minha vida e, embora não falassem sobre feminismo tão abertamente no passado, hoje entendo que os valores nos quais elas se espelharam para me criara foram, sim, nessa vertente. Sempre incentivaram a minha liberdade”.

(Foto: Rodolfo Magalhães)

Rótulos
“Eu acho que às vezes alguns rótulos são necessários para produtos e a gente acaba sendo produto também. Tem momentos em que precisamos rotular, mas não a nossa existência, temos que ser livres para usar todo rótulo que quiser ou nenhum, se essa for a escolha. Sempre quando tentam me rotular e eu sinto que é necessário sair disso, encontro uma forma de mudar, porque quero exercer a arte de quantas maneiras eu quiser”.