Chaps Melo, criador do Mundo Bita, fala do futuro e da importância do projeto em um mundo que ‘adultiza’ crianças

*Por Brunna Condini

Se você convive com alguma criança provavelmente já ouviu falar do Mundo Bita. Criada há 10 anos, a animação brasileira tem mais de 100 clipes autorais, que ultrapassam 14 bilhões de visualizações no Youtube e o canal na plataforma alcançou a marca de 11 milhões de inscritos, com conteúdos leves, coloridos, educativos, inclusivos e solidários. Em contraste com um mundo que não para de tentar ‘adultizar’ as crianças, o projeto aposta nas riquezas de uma infância bem vivida. “Neste mundo de hoje, o Bita diria para as pessoas serem mais relaxadas, se amarem mais, serem menos radicais, abraçarem suas crianças. Está nelas o futuro do planeta e da humanidade”, pontua o cantor e designer recifense Chaps Melo, a voz do Bita – o simpático apresentador de circo, que tem seu próprio universo criativo, o Mundo Bita – ao lado dos sócios-criadores João Henrique Souza, Enio Porto e Felipe Almeida.

“Quando começamos muita gente queria saber quando faríamos filme, série, quando ficaríamos ‘grandes’. E nós gostamos de respeitar o tempo das coisas. Isso eu falo da empresa, mas é interessante observar como esse reflexo de comportamento cresce com as crianças. Estimulamos a criatividade através de brincadeiras, que é também um pouco resistir, frear essa tendência de um crescimento precoce. O mundo real é importante, mas tudo tem seu tempo e o equilíbrio é fundamental. Não é saudável que uma criança cresça única e exclusivamente no mundo real, sem imaginação”, diz Chaps, sobre o projeto que acaba de lançar o álbum Bita e os Animais 3, direto no canal oficial no YouTube. Entre as novidades, destaque para o clipe da nova música ‘Senhor Tubarão‘, que mostra a importância de cuidarmos e preservamos a natureza e os oceanos. A música marca a retomada da parceria do Mundo Bita com o Greenpeace, que começou com ‘Amiga Baleia‘. Com mais de 26 milhões de visualizações, a canção de 2021 incentiva o cuidado com a vida marinha.

Chaps Melo, criado do Mundo Bita, fala sobre o entretenimento educativo que fazem em um mundo que insiste em ‘adultizar’ as crianças (Divulgação)

“O trabalho do Mundo Bita é muito de incentivo através do lúdico. Estimulando a criatividade a criança de torna um ser humano com poder de pensamento mais amplo, melhor. A arte aguça o ser a evoluir através de decisões criativas. A nossa história fala disso: o Bita é um ser alienígena, que vem para a Terra dialogar com as crianças através da inventividade, e a imaginação move as coisas dentro deste universo. Também aproximamos os pais dos filhos, e mostramos para o adulto que é preciso se comunicar de forma lúdica, sem deixar sua criança interior morrer. Sem ,como costumo dizer, deixar ‘se infectar pelo vírus do adulto”.

Respeito à diversidade de existências

Um pouco de carinho e de bondade (De bondade)
Pra ver que a diferença é o que nos une de verdade (De verdade)
E mesmo sendo assim ou sendo assado
O amor se multiplica e se espalha por todo lado”

O músico e compositor Chaps Melo (sentado à direita) e seus sócios, criadores do Mundo Bita (Reprodução/ Instagram)

“Entreter é parte do nosso personagem. Bita é um entertainer, um apresentador de circo. Ele promove a alegria, carregado de educação, de bons valores, diversidade e respeito ao próximo. E vem muitas novidades este ano. Estamos com mais convidado ilustre para Rádio Bita, que é o Gilberto Gil, vamos gravar quatro músicas, já produzimos duas no estúdio dele no Rio de Janeiro. É a realização de um sonho. Conseguimos essa ‘ponte’ através do Caetano Veloso. E o Caetano veio fazer música com a gente através do Bituca (Milton Nascimento), que é nosso padrinho. Um vai trazendo o outro. Vamos ver quem vamos pedir para o Gil trazer agora (risos). E tem também a terceira temporada de ‘Bita e os animais’, com essa parceria com o Greenpeace. Ano passado falamos de ‘Bita e os sentimentos’, essa coisa saúde mental pós pandemia, aprofundamos mais. A necessidade de lidar com a tristeza e a alegria, a saudade. Esse ano, a gente vem mais leve, falando da relação com os animais, do cuidado com a natureza, a preservação ambiental”.

“Entreter é parte do nosso personagem. Bita é um Entertainer , um apresentador de circo. Ele trás a alegria, carregado de educação, de bons valores, diversidade e respeito ao próximo” (Divulgação)

Sonho que se sonha junto

“Eu também desenhei o Bita. Costumo dizer que ele sou eu sem defeitos (risos). Lá atrás, o personagem foi uma das opções que apresentei para os meus sócios para trabalharmos em um projeto. Ele ainda não tinha nome e nós também não sabíamos que história contar. Queríamos um nome fácil, com poucas sílabas. Acabou vindo um nome que estava muito fresco para mim, Bita, que é um jogador de futebol que meu pai gostava muito e todo almoço de domingo era muito mencionado – Sílvio Tasso Lasalvia, mais conhecido como Bita, foi um futebolista brasileiro que atuou como atacante e jogou por clubes como Náutico, Nacional do Uruguai e Santa Cruz, mas fez história e é ídolo da equipe alvirrubra. Meu pai ficava escalando a seleção dele dos sonhos, como muitos brasileiros fazem. E o atacante sempre era o Bita, então ficou na minha cabeça e veio fácil para sugerir. virou também uma homenagem ao meu pai e ao jogador. Hoje vemos que não poderia ter uma escolha melhor. As crianças as vezes falam ‘Bita’ antes de fala ‘mamãe’ e ‘papai'”, recorda.

O Mundo Bita é um fenômeno de público e Chaps Melo, seu criador, diz que ainda há um universo de temas a serem explorados no projeto (divulgação)

Pai de Anabel,12, e de Martina, 9, Chaps destaca que os sócios também são pais e que toda a motivação para o projeto nasceu disso. “O Bita foi desenhado no quarto da Anabel. Elas são meninas muito curiosas e inventivas. E isso se reflete muito no Mundo Bita, porque quando o criamos éramos todos pais de primeira viagem e precisávamos ser criativos. Muitos temas dos vídeos vieram através dos nossos filhos, mas também do público, que se relaciona intensamente com a gente através das redes sociais e dos encontros em shows. Já tivemos muitos relatos de crianças com deficiência ou algum tipo de limitação motora, que conseguiram se desenvolver mais após assistirem o Bita. Somos marcados por essas histórias emocionantes. A música ‘A diferença que nos une’, que fala sobre isso, já rendeu muitos depoimentos de melhora na relação dos pais com seus filhos, por exemplo. Já tivemos também falas de mães que amenizaram a depressão pós parto e se aproximaram mais do filho através da escuta das músicas. Isso é muito maior que tudo para nós. É perceber que através da arte, da poesia, podemos mudar a vida de alguém”.