“Bossa Negra”: projeto de Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda sacode o público em um dos últimos shows de 2014


Com o grande sambista João Nogueira na memória, o espetáculo, no Circo Voador, mistura o choro e o samba em um clima de festa que contagia todos os presentes na tradicional casa de shows carioca

*Por Yuri Hildebrand

O CD “Bossa Negra” foi lançado em agosto deste ano, com show realizado no Vivo Rio. Desde então, os artistas vêm tentando encontrar espaço em suas agendas solo para difundirem o projeto. Com uma pegada de choro, o embalo de Diogo Nogueira é incrementado pelo bandolim de dez cordas executado pelo grande musicista Hamilton de Holanda. Com músicas de autoria dos dois, além da participação do baixista André Vasconcellos e do baterista/percussionista Thiago da Serrinha, o projeto tem uma cara mais acústica; o samba, que normalmente é acompanhado por diversos instrumentos – ou até por uma grande bateria –, aqui é representado de forma simplista e não menos intensa. Com letras  bem diversificadas, Diogo comanda o espetáculo, dando um tom de homenagem ao seu pai, o mestre João Nogueira.

“Bossa Negra”

Acostumado a ver os artistas em shows separados, a ansiedade e expectativa do público para esta noite de sábado, no Circo Voador, eram grandes. Falando a HT, Felipe Menezes, veterinário, exemplificou a ansiedade: “Pela carreira solo e pela qualidade dos músicos, creio que vá ser um showzaço!”. Fã de Hamilton de Holanda, ele foi acompanhado de Gabriela Ferreira, que tem em Diogo Nogueira um ídolo. Ambos já conheciam o projeto, mas ontem ouviram suas músicas pela primeira vez.

Durante o espetáculo, a lotada pista do Circo recebeu muita dança e muita cantoria; os conhecedores da Bossa Negra acompanharam o sambista na voz e curtiram o som do bandolinista com bastante desenvoltura nos pés. O show começou com a música que dá nome ao projeto – destaque para o interessantíssimo riff criado por Hamilton de Holanda, capaz de contagiar qualquer ouvinte –, seguida por um sucesso de Caetano Veloso, regravado pelos dois: Desde que o samba é samba”. Com solos de contrabaixo e percussão, a noite seguiu alternando músicas feitas especificamente para o projeto e outras regravadas, como O que é o amor”, de Arlindo Cruz, e “Risque”, de Ary Barroso. O ponto alto foi representado pela execução de “Salamandra”, música feita por João Nogueira junto de Paulo César Pinheiro. O coro no ambiente foi alto, seguido de muitos e efervescentes aplausos – a música, bem conhecida, marcou a primeira citação da noite a um dos nomes mais importantes do samba carioca.

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Agradecendo aos presentes, os músicos anunciaram o fim do show com estilo: tocaram “Samba de Arerê”, de Beth Carvalho, fazendo aumentar ainda mais o volume vindo do público e exaltando o espírito carioca junto à alegria nos pés dos que se arriscavam na dança – afinal, “você que nunca sambou, se liga que tem que sambar”. O fechamento das cortinas foi só uma encenação típica para o bis; os músicos voltaram ao palco para fazer uma grande homenagem a João Nogueira. Ao som de “Além do Espelho”, do próprio sambista, Diogo Nogueira emocionou a todos – inclusive a si mesmo –, que aplaudiram efusivamente a apresentação. No melhor estilo “um banquinho e um violão” – no caso, um bandolim –, Hamilton de Holanda mostrou toda sua qualidade técnica com o instrumento: além de ser um dos principais expoentes da música brasileira, é um exímio instrumentista com maior foco no bandolim de dez cordas.

O show terminou com um bis da música “Bossa Negra”, fazendo jus ao nome do projeto e reforçando sua ideia. Apesar do gostinho de “quero mais”, o público ovacionou a dupla. A estagiária de administração Luana Rocha Gomes comenta ao site sobre o espetáculo: “Foi excelente! A homenagem ao João Nogueira foi interessantíssima e os dois interagiram bastante com o público. Curti muito!”. Com muita naturalidade, Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda vêm se consagrando na música brasileira. Com a união de seus dons, conseguiram encaixar a desenvoltura do chorinho com a popularidade do samba, recriando algumas músicas e trazendo novas melodias. Pelo sucesso do projeto, ambos prometem bastante para o próximo ano. As agendas solo são cheias, mas o sucesso do CD requer um carinho a mais na lista de shows da dupla. Ao apagar das luzes de 2014, uma chama acesa no samba carioca é representada e difundida.

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