Artistas ocupam o edifício Capanema, no Rio, contra o governo Temer e o desmantelamento do Ministério da Cultura


A tarde de protestos teve shows de Arnaldo Antunes e Otto e participação de atores como Julia Lemmertz, Heitor Martinez, Mariana Lima, Igor Angelkorte e Daniela Fontan. Vem saber tudo!

Esta quarta-feira (18) foi mais um dia de ocupação contra o governo de Michel Temer e pela volta do Ministério da Cultura (MinC) no Edifício Gustavo Capanema, sede regional do (agora extinto) MinC e da Fundação Nacional das Artes (Funarte), no centro do Rio. Apesar de ocupado desde segunda-feira pelo grupo, o prédio continua funcionando e só permite a entrada de pessoas identificadas por documentos com foto. Em uma tarde de shows nos pilotis com Arnaldo Antunes, Otto e Chico Chico, artistas como Julia Lemmertz, Heitor Martinez, Mariana Lima, Igor Angelkorte e Daniela Fontan se juntaram às pessoas contrárias às ações do presidente interino e lotaram o prédio, apesar da forte chuva na cidade.

Segundo Felipe Altenfelder, um dos organizadores da ocupação, o principal objetivo do ato, que foi acordado em assembleia com os outros 11 estados que também participam, é pela saída do atual Presidente da República Michel Temer. “Não estamos aqui para lutar pela volta do MinC. Para nós, a extinção dessa pasta gerou um movimento cultural que começou por essas ocupações. Nós não reconhecemos o governo Temer e, por isso, não dialogamos com golpistas”, disse ao HT sobre o protesto que já foi assinado por mais de 100 coletivos. Felipe ainda destacou a diferença desta manifestação para a de artistas que enviaram uma carta ao presidente interino pedindo a volta do Ministério. “Tem uma galera que mandou a solicitação e que se dispôs a conversar. Essa ocupação não dialoga, não reconhece o governo. Nós estamos aqui fazendo pressão para que ele caia. Só isso”, concluiu o organizador.

Manifestação feita pelos ocupantes do edifício Gustavo Capanema, no Rio (Foto: Julia Pimentel)

Manifestação feita pelos ocupantes do edifício Gustavo Capanema, no Rio (Foto: Julia Pimentel)

De passagem pelo Rio de Janeiro, o músico Arnaldo Antunes disse ao público que foi à ocupação para dar força aos manifestantes presentes e apoiar a dinâmica contra o “retrocesso” pelo qual estamos passando. “Não poderia deixar de vir aqui para reivindicar a volta do MinC nesse retrocesso, dentre todos os outros desse governo ilegítimo. Eu acho que o Ministério da Cultura é um direito da sociedade, é uma causa a ser defendida por qualquer cidadão, e não só pelos artistas”, disse o cantor que apresentou duas músicas à capela no edifício Capanema.

Assim como o organizador da ocupação afirmou ao HT, Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL-RJ, ressaltou que a manifestação vai além da cultura. “É uma luta pela democracia. Eu acredito que essas reivindicações sejam pedagógicas e que a gente tenha uma quantidade cada vez maior de pessoas inseridas. Esse governo não tem legitimidade, é fruto de um golpe do que há de pior. É um governo autoritário, carcomido e corrupto que vai ser governado por opressores. As primeiras medidas tomadas já mostram a quem ele obedece e segue. Isso é muito grave”, exaltou o político.

Manifestantes fazendo cartazes com palavras de ordem nesta quarta-feira (Foto: Julia Pimentel)

Manifestantes fazendo cartazes com palavras de ordem nesta quarta-feira (Foto: Julia Pimentel)

Já Otto, o outro cantor da tarde, afirmou que o atual presidente menosprezou a classe artística. “Essa manifestação é para dar importância ao Ministério da Cultura. Não podem acabar com uma pasta que é tão importante para o país. Fora isso, minha luta maior é pela volta da Dilma. Ela foi submetida a um julgamento injusto de pessoas maldosas. Ela é a mulher mais honesta que poderiam escolher para ocupar a presidência. A imagem que eu tenho dela é que ela é uma heroína e que ela ainda vai voltar para o lugar que ela estava”, nos disse o músico.

As palavras e expressões “ilegítimo”, “não reconhecimento”, “golpe” e “diálogo” se misturavam entre os gritos de “Fora Temer” nesta tarde no edifício do centro do Rio. E entre os artistas presentes, os discursos também tinham essas características. O ator Igor Angelkorte destacou ao HT que a mistura de famosos e manifestantes com um mesmo propósito realça que todos temos “uma importância idêntica”. “A gente está tentando colocar aqui que não é sobre a cultura especificamente, é sobre esse governo ilegítimo que vem tomando decisões arbitrárias muito rapidamente. Nós precisamos resistir juntos e nos posicionarmos independente do que fazemos, com o que e para quem estamos trabalhamos. Temos que dar voz ao que a gente acredita nesse momento e não podemos nos omitir”, argumentou o ator.

Temos que dar voz ao que a gente acredita nesse momento e não podemos nos omitir (Foto: Julia Pimentel)

Temos que dar voz ao que a gente acredita nesse momento e não podemos nos omitir (Foto: Julia Pimentel)

O ator Heitor Martinez, que também estava no ato desta tarde, sem muitas palavras, foi categórico ao afirmar que não reconhece o governo e que as atitudes tomadas não fazem diferença por se caracterizarem ilegítimas. “Minha reivindicação é contra o golpe, é a volta do estado democrático. O MinC nunca teria saído se a gente não tivesse tido essa articulação. A minha posição é não negociar com esse governo. Não reconheço nada desse governo. Eu quero a volta do que era e vamos resolver no voto. Não acho que novas eleições sejam uma solução justa e democrática. Para mim, temos que seguir até 2018 com a presidente eleita”, afirmou o ator.

"Não reconheço nada desse governo" (Foto: Julia Pimentel)

“Não reconheço nada desse governo” (Foto: Julia Pimentel)

Outro ponto debatido entre os presentes da manifestação, foi a nomeação de Marcelo Calero à Secretária de Cultura, vinculada ao Ministério da Educação. O carioca, que era secretário de cultura do Rio de Janeiro, não foi bem aceito entre os artistas presentes. A atriz Mariana Lima definiu como “lamentável qualquer pessoa se dispor a ocupar esse cargo e compactuar com o governo interino”. “Mas também não sei se eu esperaria muita coisa dele (Marcelo Calero). Aqui no Rio, eu o acompanhava de longe, mas já tinha visto algumas manifestações de uma personalidade bastante vaidosa”, opinou.

Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro (Foto: Julia Pimentel)

Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro (Foto: Julia Pimentel)

E as redes sociais não podiam ficar de fora de toda essa manifestação político-cultural. Segundo a atriz Daniela Fontan, o que mais a impressionou em relação aos últimos acontecimentos, foi ver que existem pessoas na internet que apoiam “tudo isso que está acontecendo”. “Eu acho assustador qu um movimento tão brusco como esse de tirar um Ministério e desfavorecer uma classe tenha apoio de algumas pessoas na rede. No meu caso, o que mais me chocou foi ler mensagens de apoio ao fim do MinC como a do (Marco) Feliciano, que disse que nós artistas deveríamos recorrer ao Ministério do Trabalho. Isso é muito sério. Era para todos estarem na rua reivindicando. A minha parte eu consigo fazer indo a movimentos e gritando junto. Eu acho que todo mundo tinha que estar aqui lutando, não só a classe artística. Nossa luta tem que ser pela volta da democracia, principalmente”, explicou.

"Eu acho que todo mundo tinha que estar aqui lutando juntos, não só a classe artística" (Foto: Julia Pimentel)

“Eu acho que todo mundo tinha que estar aqui lutando juntos, não só a classe artística” (Foto: Julia Pimentel)

Segundo a organização da manifestação, amanhã, dia 19, o edifício Gustavo Capanema vai receber shows de Frejat, Ivan Lins e Leoni e, na sexta-feira, quem deve comparecer à ocupação é o músico Caetano Veloso.