Artistas analisam situação do Rio e apontam qual deve ser prioridade do candidato a prefeito que será eleito domingo


Famosos como Antonio Calloni, Ney Latorraca, Carla Marins, Miguel Falabella, Stênio Garcia, Françoise Forton e Alice Caymmi esperam que o próximo governante da cidade priorize a Educação e a Cultura, que consideram os pilares de um povo. “Somente assim, poderemos ter cidadãos pensantes, com senso crítico para fazer escolhas mais assertivas”, pontua Carla. “O Rio sofreu desmonte, uma falência de uma forma geral, os cofres públicos foram esvaziados, mas ele tem que se recuperar”, frisa Alice

* Por Carlos Lima Costa

No próximo domingo, dia 29, os eleitores vão às ruas escolher entre o atual prefeito, Marcelo Crivella, e Eduardo Paes quem vai governar a cidade do Rio de Janeiro pelos próximos quatro anos. São muitos os desafios que o político eleito vai encontrar pela frente. Críticos, artistas da televisão e da música pontuam as urgentes áreas e problemas que devem merecer atenção especial. Em voz uníssona, todos apontaram a Educação como aquela que deve ser prioritária do novo governo, destacando ainda a importância da Cultura para o povo.

“Em todos os níveis, municipal, estadual e federal, a prioridade absoluta deve ser a educação. No Brasil, ela nunca foi satisfatória, nem mereceu a devida atenção, infelizmente, porque ela e a cultura são os pilares básicos de um povo. Tendo isso, você consegue resolver o problema da segurança, da saúde e da economia”, aponta Antonio Calloni. E ele prossegue: “Politicamente, nunca fui muito entusiasmado, nem muito pessimista. Sempre fui consciente e acho que se a gente não se mexer, as coisas não vão melhorar. É preciso uma aliança entre as forças progressistas para ganhar do que está acontecendo hoje. E, sinceramente, não tenho partido político, não apoio candidato nenhum, mas espero que o novo prefeito seja o Eduardo Paes, porque não existe outra opção”.

Em relação aos programas do horário político, assistiu pouco e não gostou. “Eu achei que aqui no Rio, ele está muito de baixo nível. Agora, estou esperando o debate desta sexta, porque vi um de São Paulo, entre o (Guilherme) Boulos e o (Bruno) Covas, e achei de altíssimo nível”, explica Calloni.

"Educação e Cultura são os pilares básicos de um povo", frisa Antonio Calloni (Foto: Arquivo Pessoal)

“Educação e Cultura são os pilares básicos de um povo”, frisa Antonio Calloni (Foto: Arquivo Pessoal)

A atriz Carla Marins enfatiza também a importância do ensino de qualidade. “Somente assim, poderemos ter cidadãos pensantes, com senso crítico para fazer escolhas mais assertivas”, crê a artista. Este ano, no primeiro turno, ela procurou votar em mulheres. “Não só por serem mulheres, mas que tivessem comprometimento com propostas de políticas públicas para as questões femininas. Somos 50% do eleitorado, então, esse mundo precisa ficar mais parecido com a gente, porque ele é totalmente masculino”, defende ela, que no papel da destemida Adalia, está gravando Gênesis, novela prevista para estrear em 12 de janeiro.

Mas Carla ressalta, que pontualmente, em consequência da pandemia do Covid-19, deve haver um foco emergencial na saúde. “Devido a essa calamidade e a falta de fiscalização é preciso que a população se conscientize, assim precisamos de um líder capaz de enfrentar esse desafio e transmitir para a população, segurança e o que é certo de se fazer. Que seja um líder sensato. Nesse momento, a gente precisa de sensatez independentemente do partido político”, aponta ela.

Carla Marins enfatiza importância de um ensino de qualidade (Foto: Reprodução Instagram)

Carla Marins enfatiza importância de um ensino de qualidade (Foto: Reprodução Instagram)

Como está morando em São Paulo, Miguel Falabella não vai votar neste final de semana, mas sabe o que deve ser ajustado. “Tem tanta coisa que precisa ser feita neste país. Mas realmente é necessário ter um investimento maciço em educação, onde as crianças tenham uma jornada integral na escola como acontece na França para que os pais possam trabalhar e deixar seus filhos em um lugar seguro, aprendendo. É um projeto grande e importante. Veja bem, eu estava pensando, em 40 anos, a descida de ladeira foi tanta… Não existe mais interpretação de texto, vivemos em um país de analfabetos funcionais”, ressalta.

Falabella prossegue em sua análise: “Qualquer um que seja eleito tem que fazer um investimento maciço em educação. Se não tiver isso, não tem civilização, não existe nada, aí não é um país para ser levado a sério. Quando você senta lá fora em altas mesas de negociações, não é um país que tem respeito na comunidade internacional, pois não tem cultura, nada. Passar por esse país é como passar por brancas nuvens. Um dos maiores escritores do mundo, Machado de Assis, é mais lido lá fora do que aqui. Realmente as pessoas escrevem cada vez pior, falam desgraçadamente mal. Então, a vitória no Rio só pode ser do Paes, porque se for Crivella outra vez, acabou de vez, empacota tudo e desiste”, pontua Falabella.

Falabella aponta que as escolas deveriam oferecer aos alunos uma jornada em horário integral (Foto: Reprodução Instagram)

Falabella aponta que as escolas deveriam oferecer aos alunos uma jornada em horário integral (Foto: Reprodução Instagram)

Ney Latorraca relembra da qualidade que havia no ensino público quando ele era criança, em Santos, onde nasceu: “Que o próximo prefeito tome conta da gente e da cidade que está abandonada. Precisamos, claro, de saúde e segurança, mas quando tem educação, tem tudo. Ela é a base principal para um país inteiro. Infelizmente, os professores não são respeitados. Eu fiz escola pública de altíssimo nível. Todo mundo queria estudar em uma, era o máximo. Tinha piscina, aula de francês, inglês, teatro, canto. Havia uma estrutura forte. E na escola pública existe uma democracia dentro da classe tendo o pobre e o filhinho de papai. Então, vamos torcer, vamos esperar agora o domingo”, frisa Ney.

Ney Latorraca lembra que estudou em escola pública e que ela tinha altíssimo nível (Foto: Reprodução Instagram)

Ney Latorraca lembra que estudou em escola pública e que ela tinha altíssimo nível (Foto: Reprodução Instagram)

Para a cantora Alice Caymmi, educação e cultura andam lado a lado. “Não vai ter educação nenhuma se a gente não conseguir aprovar os projetos para escolas públicas, para fazer arte, show. Então, de preferência que o novo prefeito acabe com o desmonte da Cultura e resolva também o da Lei Aldir Blanc. São duas coisas que precisam ser realizadas no Rio de Janeiro, que ninguém consegue aprovar projeto nenhum. Reverter tudo que está acontecendo será importante”, frisa. E não perde a esperança. “O Rio sofreu desmonte, uma falência de uma forma geral, os cofres públicos foram esvaziados, mas ele tem que se recuperar agora. São feridas profundas que levam tempo para cicatrizar. Mas estamos em momento de cura, lenta e gradual”, aposta.

"O Rio sofreu uma falência de uma forma geral. São feridas profundas que levam tempo para cicatrizar", ressalta Alice Caymmi

“O Rio sofreu falência de uma forma geral. São feridas profundas que levam tempo para cicatrizar”, ressalta Alice Caymmi

Para Stênio Garcia, o grande problema é que os políticos nunca têm uma visão administrativa. “Se isso acontecer, as coisas vão melhorar para todo mundo. O Rio é uma cidade que tem todas as condições para aproveitar a questão do turismo, explorar esse aspecto. Tem muita coisa bonita além do Corcovado e do Pão de Açúcar. E se der certo, a educação virá como resultado disso, pois ela é cultural. É muito decepcionante que as coisas não aconteçam”, lamenta.

Stênio Garcia aponta que falta aos políticos uma visão administrativa (Foto: Arquivo Pessoal)

Stênio Garcia aponta que falta aos políticos uma visão administrativa (Foto: Arquivo Pessoal)

Françoise Forton assegura que além da educação, ela tem uma lista grande de problemas para falar. “Temos uma violência enorme no Rio e a questão da saúde também tem me assustado com o noticiário de que houve corrupção durante a pandemia com relação a aparelhos respiratórios. Isso para mim é absolutamente dantesco. Estas são questões que precisam ser arrumadas”, aponta.

Agora, para ela, independentemente da pandemia, a educação tem que ser vista com muito mais rigor e criatividade. “A educação passa por tanta coisa nessa cidade que eu amo. Vendo pessoas se expondo como estão, em festas e sem máscara, eu fico querendo saber qual sentimento move essas pessoas. Hoje, se você tem algum problema na rua, é melhor evitar qualquer atrito, pois não sabe qual vai ser a reação do outro lado”, analisa.

Françoise espera também que as pessoas possam voltar a andar nas ruas com tranquilidade a qualquer hora do dia. “Sei que estamos vivendo momento atípico. Agora, realmente, cultura, educação e arte não podem estar sofrendo o que estão, porque a arte também educa, ensina, salva, cura, fora que ela é o resgate de um povo, de um país. Com a pandemia, fomos o primeiro setor a ser fechado e já vínhamos como foco de um tiro ao alvo, quando não tem motivo para isso. Somos trabalhadores árduos. Se a gente tiver segurança, arte e educação junto de braços dados, as pessoas seriam mais compreensivas. Educação, cultura e arte se somam”, finaliza.

Françoise afirma que a Educação precisa ser vista com mais rigor e criatividade (Foto: Reprodução Instagram)

Françoise afirma que a Educação precisa ser vista com mais rigor e criatividade (Foto: Reprodução Instagram)