Amanda Palma: cineasta lança projeto de empoderamento feminino e diz: ‘Sofri ameaças machistas na web’


Ela criou o ‘Jornada das Heroínas’, que ajuda empreendedoras e artistas a utilizarem as ferramentas do marketing digital para criarem suas próprias narrativas. Além disso, Amanda prepara um longa-metragem documental sobre o desastre de Brumadinho, fala da vida minimalista que leva desde 2018 e comenta sobre assédio e abuso nas suas andanças: “Não conheço nenhuma mulher que nunca tenha lidado com isso em nenhum momento de sua vida. Assim como muitas outras mulheres já sofri assédio em set de filmagem por parte de colegas homens, e também desvalorização do meu trabalho por ser mulher”

*Por Brunna Condini

De tempos em tempos, epidemias, como a Covid-19, e catástrofes sacodem as certezas humanas. A consciência de que precisamos mudar hábitos e ter ações concretas para melhorar o mundo pode ser decisiva para nossa existência. A força do coletivo nunca foi tão representativa. A cineasta e artista visual Amanda Palma sabe disso e aplica essa noção de fortalecimento geral nos projetos em que se envolve, como o ‘Jornada das Heroínas’, que ajuda empreendedoras e artistas a utilizarem as ferramentas do marketing digital para criarem suas próprias narrativas. É na prática o lema ‘uma sobe e puxa a outra’.

“É um processo de mentoria profissional exclusivo para mulheres, com o intuito de orientá-las a serem autogestoras de seu próprio negócio e sua imagem. Através do autoconhecimento, marketing e empreendedorismo”, detalha sobre o projeto de empoderamento feminino. “Toda mulher é uma heroína em nossa sociedade. São muitas barreiras para se transpor diariamente para chegar aos nossos objetivos. Portanto, toda mulher que almeja seu sucesso é uma heroína por si só”.

“Toda mulher é uma heroína em nossa sociedade. São muitas barreiras para se transpor diariamente para chegar aos nossos objetivos. Portanto toda mulher que almeja seu sucesso é uma heroína por si só” (Divulgação)

“Toda mulher é uma heroína em nossa sociedade. São muitas barreiras para se transpor diariamente para chegar aos nossos objetivos. Portanto toda mulher que almeja seu sucesso é uma heroína por si só” (Divulgação)

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Amanda já rodou o mundo: morou em Portugal, na Bélgica, na França, com passagens pela Holanda e Reino Unido, além de diversas regiões do Brasil. Empreendedora, sempre buscou oportunidades e soube explorar seus talentos. Quando veio a pandemia, muitas mulheres buscavam seus conselhos sobre assuntos como marketing, empreendedorismo e gestão das mídias sociais. Inicialmente, elas a contratavam como cineasta e videomaker para produzir material para seus negócios.

“E acabavam recebendo uma consultoria de negócios, pois o vídeo é uma parte importante, mas é só a ponta do iceberg, um negócio para dar lucro depende de outros fatores, como conhecimento em marketing e um padrão de comportamento empreendedor. O que faço é ajudar mulheres criativas e empreendedoras a serem donas da sua imagem para que possam produzir seu próprio conteúdo”, ensina. “Identifiquei que muitas mulheres se preocupavam em ter várias formações, mas não se preocupavam em aprender sobre o jogo do mercado. Sem falar na autossabotagem e na famosa síndrome da impostora, que faz com que elas não acreditem em seu próprio potencial e se julguem incapazes”, avalia Amanda.

"O que faço é ajudar mulheres criativas e empreendedoras a serem donas da sua imagem para que possam produzir seu próprio conteúdo” (Reprodução)

“O que faço é ajudar mulheres criativas e empreendedoras a serem donas da sua imagem para que possam produzir seu próprio conteúdo” (Reprodução)

Em casa e sem poder trabalhar por conta da pandemia, ela colocou em prática o que idealizou, se dando mais uma ‘versão’ profissional: “Pensei: ‘A hora é agora’. Então, condensei meu conhecimento e minha experiência nesse produto, a mentoria ‘Jornada das Heroínas’. Hoje, já estou no quarto lançamento e através dele já ajudei mais de 50 mulheres”. E acrescenta: “Já tive heroínas que chegaram com uma ideia de negócio e já saíram do processo com seus primeiros clientes e empreendendo. Tive heroínas que abriram sua empresa durante o processo. Outras que mudaram a forma da sua comunicação das redes e outras que simplesmente passaram a cuidar da sua saúde, se empoderaram de sua imagem e passaram a criar seu próprio conteúdo”.

Uma mulher desbravando o mundo

A carioca de 31 anos admite que não poder levar uma vida nômade no momento está sendo desafiador em muitos sentidos. “Sempre fui muito impulsiva e ser privada dessa liberdade de decidir para onde ir ‘amanhã’, é algo novo. O trabalho de documentário envolve criar conexões com as pessoas que estou entrevistando. Tive que aprender a criar essas mesmas conexões online, o que foi um desafio quando tive que adaptar minha performance #taitiria, que era presencial, para as telas do zoom para dois festivais no ano passado, o Fringe Festival Amsterdam e o Festival ECRÃ de experimentação audiovisual. No geral tenho procurado focar mais nos negócios online e nos estudos. Sou hiper realizadora e um pouco viciada em adrenalina e trabalho, então comecei a fazer um mestrado para não enlouquecer em casa, mas agora com tantas coisas estou enlouquecendo mais ainda!”.

“Já viajei muito sozinha e já não é algo que me assusta mais. Eu já vivi tantas coisas boas na estrada que ela já é um lugar de carinho para mim" (Reprodução)

“Já viajei muito sozinha e já não é algo que me assusta mais. Eu já vivi tantas coisas boas na estrada que ela já é um lugar de carinho para mim” (Reprodução)

Como enfrenta seus medos desbravando o mundo sozinha? Afinal, é um mundo em que o machismo e o patriarcado ainda imperam… “Já viajei muito sozinha e já não é algo que me assusta mais. Eu já vivi tantas coisas boas na estrada que ela já é um lugar de carinho para mim. Sinto excitação em entrar em um meio de transporte sabendo que estou de mala e cuia para desbravar um local e sem data para voltar. Essa sensação para mim é sinônimo de vida. Claro que existem medos, mas eu digo que o machismo e o patriarcado estão em todos os lugares: ambiente acadêmico e trabalho”.

Já sofreu algum assédio ou abuso nessas andanças? “Não conheço nenhuma mulher que nunca tenha lidado com isso em nenhum momento de sua vida. Assim como muitas outras mulheres já sofri assédio em set de filmagem por parte de colegas homens, e também desvalorização do meu trabalho por ser mulher. Já sofri um assédio de professor de teatro que me deixou muito mal um tempo. Já sofri abuso psicológico por parte de namorado… já sofri ameaças machistas na internet por causa do meu trabalho. Qualquer mulher que você perguntar vai ter histórias dessas para contar. Primeiro você fica em choque, fragilizada, depois vai passando”.

Amanda em uma de suas viagens pelo Brasil: na cidade de Carolina, no Maranhão, no Portal da Chapada das Mesas (Reprodução)

Amanda em uma de suas viagens pelo Brasil: na cidade de Carolina, no Maranhão, no Portal da Chapada das Mesas (Reprodução)

O que foi mais difícil, desafiador? “Sou extremamente tímida. Já aconteceram momentos, quando mais nova, que eu desmaiei em sala de aula de tanta vergonha de me apresentar em público. O meu maior desafio foi vencer essa timidez, porque eu percebi que eu precisava mudar isso em mim pra realizar tudo que eu almejo. Pra mim era mais fácil viajar para o lugar mais desconhecido e ficar atrás da câmera. Meu maior desafio foi sair desse lugar confortável que era estar lá só filmando e passar a ser parte da cena”.

Viver com o mínimo é o máximo

Adepta de uma vida minimalista desde 2018, Amanda conta como isso funciona. “Me desfiz da grande maioria dos meus pertences, mantendo somente o essencial para minha vida e trabalho. Desde então já vivi em diversos países e muitas regiões do Brasil através do meu trabalho com documentário e artes visuais”, revela. “Este modo de vida me permite ter apenas um armário cápsula, por isso tenho muito amor e carinho por cada peça que vem comigo, todas são muito especiais. Também costumo trazer peças de arte dessas viagens, assim como os produtos e cosméticos naturais que utilizo regularmente na minha vida”.

Não sente falta de nada? “Não. Tenho tudo que preciso. Acredito que a maioria das pessoas em posição de privilégio, se fizer uma reflexão, vai perceber que tem mais do que precisa. Eu não acho que minimalismo seja grande mistério. Apenas estilo de vida voltado para bens não materiais”, afirma.

Com as peças do seu armário 'cápsula': "Tenho tudo que preciso. Acredito que a maioria das pessoas em posição de privilégio, se fizer uma reflexão vai perceber que tem muito mais do que precisa" (Divulgação)

Com as peças do seu armário ‘cápsula’: “Tenho tudo que preciso. Acredito que a maioria das pessoas em posição de privilégio, se fizer uma reflexão vai perceber que tem muito mais do que precisa” (Divulgação)

Dentro desse estilo de vida, você já viveu em diversas regiões do país e países do seu trabalho como documentarista. O que destaca nessa experiência? “Minha busca é sempre pela cura, mesmo em meio ao caos. Pessoas que estão se curando, curando outras pessoas. Por isso estou em busca dessas belezas, o que torna meu trabalho e minha viagem muito leves. Mesmo quando fui pra Brumadinho, em meio à uma tragédia monumental, eu e minha equipe pudemos conhecer pessoas incríveis, como a Jéssica Rezende, que é uma mulher super jovem que dedica sua vida ao estudo e ensino dos saberes das plantas e medicinas ancestrais. Ela estava junto com toda uma equipe realizando um trabalho de cura fortíssimo naquele local”.

"Tenho outro empreendimento, que é o Espaço Toda Natural, que fica na loja AZ Sustentabilidade. Um local onde estão à venda peças do meu armário cápsula que eu garimpo por aí em minhas viagens" (Divulgação)

“Tenho outro empreendimento, que é o Espaço Toda Natural, que fica na loja AZ Sustentabilidade. Um local onde estão à venda peças do meu armário cápsula que eu garimpo por aí em minhas viagens” (Divulgação)

Amanda comenta sobre outros projetos: “Eu tenho outro empreendimento, que é o Espaço Toda Natural, que fica na loja AZ Sustentabilidade. Um local onde estão à venda peças do meu armário cápsula, que eu garimpo por aí em minhas viagens, assim como produtos de autocuidado natural. Tudo com viés ecológico e sustentável. Sobre o cinema, atualmente tenho o curta-metragem “Yaku Chaski” filmado em parceria com o artista Yaku Runa Simi, que está em exibição em dois festivais intencionais. E meu principal projeto que é o longa documental “Terra” sobre o desastre de Brumadinho com a minha co-diretora Daniela Kern Snelzwar que vai ser finalizado assim que a pandemia acabar”.