‘A intimidade da lente com o ator mexe com sentimentos profundos. A câmera entra na alma’, diz a atriz Karin Roepke


Aos 37 anos, ela brilha nos curtas-metragens ‘Europa’ e ’Cinzas’, ao lado do marido, o ator Edson Celulari e conversa com o site HT sobre vida profissional e auto-conhecimento em tempos tão acelerados

(Foto: Vinícius Mochizuki)

*Por Jeff Lessa

A atriz e produtora Karin Roepke vive um momento especial em sua vida e em sua carreira. Casada com o ator e diretor Edson Celulari, desde 2017, a bela forma uma parceria e tanto com o marido, com quem já trabalhou em dois curtas-metragens: “Europa”, com direção de Edson Celulari e roteiro do espanhol Jose Manoel Carrasco, no qual o casal interpreta par romântico; e “Cinzas”, dirigido também por Edson Celulari e vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Dada Saheb Phalke Film Festival, na Índia, e Melhor Direção no City Blue Film Awards, na Espanha. “Estamos rodando o mundo todo com esse curta. E o ‘Europa’ está em fase de finalização, em breve vai estar no circuito de festivais”, conta a atriz.

O momento especial a que nos referimos é sua dedicação apaixonada ao audiovisual. “O lado bacana de fazer curtas-metragens é ser independente e não precisar necessariamente de encontrar um produtor. Podemos produzir nossos filmes. Meu foco agora é esse”, conta, alegre, a atriz e produtora. “Há dois anos, fiz um curso de cinema em Madri. Foi muito mágico. A intimidade da lente com o ator mexe com sentimentos profundos. A câmera entra na sua alma, é fascinante”. Celulari também estudou cinema no exterior, só que na New York Film Academy, em Nova York, onde cursou direção. A atriz diz que quer poder dirigir: além de curtas, ela pretende fazer outros trabalhos nessa área. Ou seja, os sonhos do casal combinam perfeitamente – o que poderia ser melhor?

Karin e Celulari se conheceram em 2009, nos bastidores do musical “Hairspray”, dirigido por Miguel Falabella (Foto: Vinícius Mochizuki)

Karin e Celulari se conheceram em 2009, nos bastidores do musical “Hairspray”. (Foto: Vinícius Mochizuki)

Trabalhar juntos pode ser a resposta correta à pergunta. Afinal, a atriz já declarou que deseja ser dirigida por Celulari em todos os seus filmes. Os dois se conheceram em 2009, nos bastidores do musical “Hairspray”, dirigido por Miguel Falabella. Mas o namoro com Karin só engatou dois anos depois, quando se reencontraram na festa de um amigo em comum. Em 2017 se casaram numa cerimônia discretíssima

Logo em seguida, Karin passou meses no Sul do país gravando a minissérie “Chuteira Preta”, exibida pelo canal por assinatura Prime Box Brasil, enquanto Edson atuava na novela “O Tempo Não Para”, da Globo. “Nós só nos falávamos à noite”, conta Karin. A atriz torce para que a série tenha nova temporada. “Ela aborda o lado B do futebol e mostra os esquemas obscuros do submundo do esporte. Acaba sendo uma caixa de surpresas. As gravações já estavam aprovadas para recomeçarem em agosto. Espero que voltem logo, pois a série é muito boa”, observa. “Antigamente, a Fernanda Montenegro vendia um carro para montar uma peça de teatro e conseguia recuperar o dinheiro investido com o que entrava na bilheteria. Hoje não é mais tão fácil assim”.

Karin Roepke conta que a bailarina Pina Bausch é uma das suas inspirações (Foto: Vinícius Mochizuki)

O momento atual, por sinal, gera alguma inquietação em Karin, que procura não se deixar derrotar. “É preciso se virar para não parar. Produzir arte não significa só trabalho e dinheiro, também é o nosso alimento de alma. É o nosso momento de resistir, de aproveitar a crise para criar. Busco inspiração em grandes artistas, como a Pina Bausch (1940-2009), por exemplo”, relata. “Precisamos todos tentar nos manter lúcidos. Eu acordava mal-humorada, tomava um café e corria para a internet para ver o que tinha acontecido. Isso me fazia muito mal. Agora só pego em telefone depois das 11 horas. Se não fizer assim, deixo de lado a alegria de viver, esqueço das coisas que me motivam”.

Sempre pensando de forma positiva, a atriz leva a paz interior e o autoconhecimento a sério. Por conta disso, chegou a fazer um retiro de silêncio. “Fiz dez dias de retiro Vipassana em Miguel Pereira. São dez dias de silêncio total, em que você fica sem celular, sem falar com ninguém, conectado apenas com você. Através da meditação, você revê a sua vida, percebe o que não vai bem. A minha energia mudou”, conta, tranquila, Karin. “É necessário compartilhar essas experiências. O retiro não é pago, é oferecido por voluntários e, no final, você doa o que pode. E é realizado em todo o mundo, onde você estiver tem um lugar para fazer”. (Em tempo: Vipassana é uma das mais antigas técnicas de meditação da Índia e significa “ver as coisas como realmente são”.)

Karin Ropke acredita que os festivais de cinema são uma grande potência para o mercado (Foto: Vinícius Mochizuki)

Pergunto a Karin o que é mais interessante em participar de tantos festivais de cinema mundo afora, uma vez que, em geral, os curtas-metragens costumam ter suas exibições públicas restritas a esse circuito. “É muito bom ter contato com diretores, diretores e produtores. E com o público dos festivais, também”, afirma. “Mas os filmes curtos não precisam ficar restritos ao circuito de mostras. Hoje, um bom lugar para se assistir a um curta é a internet. Muita gente está buscando esses filmes de dez, 15 minutos na rede. Não é desconfortável como ver um longa, com uma hora e meia de duração. E as pessoas estão se interessando cada vez mais por esses filmes com poucos minutos de duração”. Divertida, Karin acrescenta que não vê vídeos nem ouve áudios com mais de cinco minutos no celular: “Quem manda essas coisas não tem a menor noção”, diz, rindo.

O teatro é paixão também para a atriz, que começou a atuar em Brasília quando tinha 12 anos, na peça “O Juiz de Paz na Roça”, de Martins Penna, e se profissionalizou em 2005, atuando em “O Musical dos Musicais”, com direção de Wolf Maya. “Tenho 15 anos de carreira e muita vontade de fazer teatro de novo. Um amigo diretor espanhol me deu os direitos da peça ‘Cabaret Voltaire’. Para assumir e encarar, tem de estar pronta para o que der e vier. A peça é inspirada no movimento do dadaísmo, trata de feminismo e é bem atual”.

Outro projeto de Karin é retomar a série “Chuteira Preta”, na qual interpreta a ex-mulher do protagonista, um jogador de futebol brilhante vivido por Márcio Kieling, que entra na fase de decadência e se preocupa com o esgotamento de seus recursos financeiros. A personagem forte surpreendeu quem conhece a atriz. “Os amigos que assistem disseram ‘Nossa, eu não sabia que tinha isso tudo dentro de você’. Ora, é isso que o ator faz, não é? A maravilha do ator é ser capaz de construir novas personalidades, dar vida a novas pessoas”, resume.

Karin Roepke pretende retomar a série “Chuteira Preta” contracenando com Márcio Kieling (Foto: Vinícius Mochizuki)

Se depender da atriz, não faltarão novas personagens para interpretar. Até agora, não foram poucas. Só para citarmos algumas, vale lembrar dos espetáculos “A Garota do Biquíni Vermelho”, com direção de Marília Pêra (1943 – 2015); “Revolução na América do Sul”, de Augusto Boal; e “A noite em que Blanche DuBois Chorou sobre a Minha Pobre Alma”, ambos dirigidos por Gilberto Gawronski. Também teve a Alana, da novela “Aquele Beijo”, com texto de Miguel Falabella e direção de Cininha de Paula, e a minissérie “Dois Irmãos”, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, na TV Globo. No cinema, ela participou do longa-metragem “A Superfície da Sombra”, do diretor gaúcho Paulo Nascimento. Em 2017, produziu e atuou na peça “A Caverna”, que contou com supervisão de direção e dramaturgia de Marcos Caruso. Em “Marido Ideal”, de Oscar Wilde, viveu Gertrudes, novamente com direção de Gilberto Gawronski. Que venham muito mais novas pessoas.