O caçador de pipas: em parceria com Rodrigo Almeida, um dos maiores nomes do design, Allex Colontonio cria luminária que celebra o legado de Hércules Barsotti (1914-2010)


Pintor, desenhista, programador visual, o colorista mais notável do movimento neoconcreto é reverenciado pela dupla

*Por André Rodrigues

Se já é bom ler o que alguém tão cerebral em seu segmento tem a dizer, imagine então poder olhar, tocar, e acender. Pois Allex Colontonio, 38 anos, ataca de designer novamente. Uma das cabeças mais pensantes – e queridas – do cenário do décor no país, o jornalista (que foi editor-chefe de Casa Vogue por 10 anos, criador de Wish Casa e que colocou a revista KAZA no radar, entre outros projetos que incluem os livros de Sig Bergamin e José Marton), lança seu segundo acessório home, desta vez em parceria com Rodrigo Almeida, um dos designers brasileiros mais aclamados no exterior – e o único a ter peças no acervo permanente do Centre Georges Pompidou, em Paris. Trata-se de uma luminária inspirada na obra de Hércules Barsotti (1914-2010).

Rodrigo Almeida, um dos maiores nomes do design contemporâneo, e Allex Colontonio criaram luminária que celebra o legado de Hércules Barsotti (1914-2010), colorista mais notável do movimento neoconcreto (Foto: Salvador Cordaro)

Rodrigo Almeida, um dos maiores nomes do design contemporâneo, e Allex Colontonio criaram luminária que celebra o legado de Hércules Barsotti (1914-2010), colorista mais notável do movimento neoconcreto (Foto: Salvador Cordaro)

“Como jornalista, há quase 20 anos, sempre me preocupei com uma narrativa um pouco mais ‘cabeça’ e democrática acerca do design e da casa brasileira. Esse discurso se desdobrou em muitos textos, revistas, livros, palestras e exposições. Mas o ápice mesmo é ter a oportunidade de converter essa filosofia em algo ainda mais tangível, físico, material”, conta Colontonio, que em maio deste ano assinou, em dobradinha com o top arquiteto Guilherme Torres, o móvel-bar Barsotti, também em homenagem ao pintor concretista Hércules Barsotti.

Tanto que a luminária que criou em parceria com Almeida é um desdobramento deste mesmo pensamento. “Quando conversei com o Rodrigo sobre o conceito da peça, queria plasmar alguns inputs que estão na base do meu trabalho. Tenho defendido muito o resgate da arte concreta brasileira, a valorização dos nossos artistas, as matérias-primas tecno-ecológicas, um décor mais colorido e bem humorado, assim como a estética retrô que os minimalistas sempre tentam varrer para debaixo do tapete”, diz sobre a peça que, em princípio, não será comercializada e que foi criada apenas para explicitar um conceito de unidade entre arte e design brasileiros. “São coisas que deveriam caminhar sempre juntas: forma, função e poesia”.

A luminária como uma ode ao artista (Foto: Salvador Cordaro)

A luminária: ode ao artista (Foto: Salvador Cordaro)

O Corian® da DuPont™, a matéria-prima em questão, é um dos maiores recursos sustentáveis da arquitetura na atualidade. De origem 70% mineral e 30% polímera, possibilita toda e qualquer forma por ser um material termoldado de grande efeito plástico e com paleta farta de cores. Antibactericida, de fácil manutenção e superresistente às intempéries, é constantemente usado em bancadas de cozinhas, banheiros e em aplicações industriais e hospitalares. Convertido na escala do mobiliário, se apresenta em peças de alta performance estética e funcional.

“Essas peças passam pela op art, pela arte cinética e pelo neoconcreto”, explica Rodrigo. “Quando parei para pensar em como seria um Barsotti tridimensional, automaticamente me veio o trabalho de Verner Panton, que também é forte referência para o Allex”, completa. Executadas pela Infinita Surfaces, as luminárias apresentam aletas móveis e independentes, com opções de cores dentro de uma ampla cartela, que podem ser dispostas em diferentes configurações para controlar a direção e intensidade da luz, à moda dos brises. “É uma peça surpreendente”, emenda o designer.

Além do conceito “barsotiano”, Allex também responde pelas cores do projeto. “Não temos a pretensão de imitar a lógica pictórica de Hércules Barsotti, que foi o colorista mais notável do movimento neoconcreto, mas sim homenageá-lo e lançar luz sobre seus losangos, hexágonos, pentágonos e circunferências que estão entre o que há de melhor na arte contemporânea. O trabalho dele tem uma força plástica indomável e merece um pouco mais de atenção”, continua o jornalista. “Daí este projeto feito a seis mãos, com a engenhosidade fabulosa do Rodrigo Meinert, diretor da Infinita Surfaces, que viabilizou a mobilidade dos brises imaginados pelo genial Almeida”, finaliza Colontonio.

A Infinita Surfaces concretizou o sonho de dois artistas (Foto: Salvador Cordaro)

A Infinita Surfaces concretizou o sonho de dois artistas (Foto: Salvador Cordaro)