Mônica é uma parada! Comemorações do cinquentenário da ‘filha’ de Maurício de Souza termina em expô nas ruas de Sampa


Personagem criada pelo quadrinista na década de 1960, completa 50 anos e encerra suas comemorações tomando de assalto as ruas da capital paulista

O escritor irlandês Oscar Wilde conhecido por suas citações irônicas, sarcásticas e cínicas, em seu único romance, ‘O Retrato de Dorian Grey’, eternizou a frase “Só os tolos não julgam pela aparência”. Numa sociedade dominada pela jovialidade fazer cinquenta anos e se manter em alta é para poucos. Adoraríamos saber quais os segredos de beleza da Mônica? Sim, estamos falando da baixinha, gordinha e dentuça mais charmosa do Brasil, ‘filha’ do grande ilustrador Maurício de Sousa, que, em 2013, tem seu cinquentenário comemorado de maneira intensa por todo o país.

As velinhas foram apagadas no dia 3 de março de 2013 e, ao longo do ano, a campanha ‘Mônica 50 Anos’ ganhou vários projetos. Comemoramos, portanto o niver, batizado como o ‘Ano da Dentuça’, como exposições, shows, publicações especiais e desenhos animados. Por exemplo: a edição nº 75 do seu gibi, a Revista Mônica que é publicada pela Editora Panini, é toda especial. Com 108 Páginas, reexibe no seu finalzinho, a primeira história publicada na edição nº 1 da Revista Mônica, intitulada ‘Mônica é Daltônica?’.

Uma curiosidade: Gibi foi o título de uma revista brasileira de história em quadrinhos que teve seu lançamento em 1939. Graças a ela, no Brasil o termo gibi tornou-se sinônimo de revista em quadrinhos. Até esta época, Gibi significava moleque, negrinho.

Voltando à Mônica, a personagem, com seu vestidinho vermelho (não por acaso cor eternizada por Valentino) curte moda: seu modelito tem linha A – forma amada por Pierre Cardin .  E não é que a baixinha até foi parar na passarela, por conta da edição verão 2014 do Fashion Rio, em abril passado, em um desfile realizado em parceria com a marca coletiva Apoena, do Instituto Proenza, organização sem fins lucrativos sediada em Brasília. A grife fez uma homenagem aos 50 anos da Turma da Mônica, com Maurício de Souza presente e exalando orgulho de pai. Os calçados do show foram assinados pela grife Jorge Alex e o super designer Walter Rodrigues foi consultor de estilo da apresentação, enquanto os atores Adriana Birolli e Duda Nagle foram as grandes estrelas da coleção, que teve como chefe da turminha a estilista Kátia Ferreira. Ela comenta: “A gente fala que a Mônica seria uma mulher corajosa, sexy e que gosta de transparência, além de segura, que gosta de vermelho até hoje, pois a cor continua sendo a sua favorita. É a mesma Mônica da infância, que está lá, na alma do Maurício”.

Em maio foi a vez do MuBe – Museu Brasileiro de Escultura receber a exposição ‘Mônica 50 Anos’ que retratou de forma lúdica, em 680m², o universo da personagem. Pela metragem da expô, dá para ver que conteúdo não falta quando se trata dessa icônica personagem totalmente made in Brasil. Englobando de sua gestação, na década de 1960, à atualidade, a mostra incluiu pérolas como o original da primeira tira da Mônica e o terceiro coelho de pelúcia pertencente à Mônica Sousa – filha do Maurício de Sousa e musa inspiradora da personagem -, além de as diversas bonecas da Mônica que marcaram época, seus filmes de grande sucesso da década de 1980, games da década de 1990 e outros objetos capazes de deixar fã quase careca que nem o Cebolinha, seu principal companheiro nas tirinhas. “É emocionante ver, em retrospectiva, a presença da Mônica através das décadas, desde a sua criação. Fica notória a importância da personagem para a cultura de cada período e é surpreendente ver como ela sempre foi amada pelos brasileiros, desde os anos sessenta até hoje”, aponta Maurício de Sousa.

Recentemente, no mês das crianças, outubro, Mônica se rendeu ao mundo do consumo e assumiu de vez sua porção fashionista: foi a grande estrela do mês na revista L’Officiel Brasil e, posou para cliques tendo um guarda-roupa criado por nove importantes grifes da moda brasileira – Acquastudio, Adriana Degreas, Alexandre Herchcovitch (que desenhou dois), Animale, Blue Man, Ellus,  Forum, Osklen e Salinas. Além do editorial, essa parceria rendeu a mostra ‘Turma da Mônica no Mundo da Moda’, que foi realizada até o fim de outubro,  na Livraria da Vila, em sua filial do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo.

Encerrando essa quase interminável série de comemorações, foi idealizada a ‘Mônica Parade’, evento no melhor do estilo Cow Parade (aquela mostra urbana em que vacas de fibra de vidro customizadas por artistas e celebridades “invadem” as cidades como Rio e New Jersey). Ao todo são 50 obras espalhadas em 35 bairros da cidade de São Paulo, entre as zonas Sul, Leste, Oeste, Norte e Centro. As esculturas têm 1,60m de altura e também são produzidas em fibra de vidro e dispostas próximas a ícones arquitetônicos, pontos turísticos, bancas de jornais, parques e CEU’s – Centros Educacionais Unificados. “São Paulo precisa e merece mais eventos como este, que trazem arte e cultura para a rua. A Turma da Mônica faz parte da cartilha de alfabetização. Milhões de brasileiros se alfabetizaram com as histórias em quadrinhos dessa turma. É um grande presente para a cidade de São Paulo”, declarou Maurício, emocionado.

Um dos destaques deste time de estrelas que assinam as interferências gráficas sobre os bonecos da Mônica é o paulistano Titi Freak, conhecido mundialmente, mas que iniciou sua carreira aos 13 anos no estúdio do Maurício de Sousa. “Eu tenho uma ligação muito forte com o Maurício. O estúdio dele foi o meu primeiro emprego. Trabalhei por sete anos com quadrinhos, foi uma verdadeira escola. Na minha estátua da Mônica, eu tentei retratar o meu trabalho, uma coisa mais abstrata, e também fazer uma referência à linha que trabalhava na época, a coisa do desenho. E foi por isso que eu não usei spray, fiz tudo com canetinha”, revelou o artista.

De acordo com Maurício de Sousa, após os 30 dias de exposição (fica até 8 de dezembro), as obras participarão de um leilão beneficente. A ideia é que a verba arrecadada seja doada para o Unicef. Por isso, a representante da Toptrends, empresa conhecida pela exposição Cow Parade, pediu cuidado para com as obras: “Eu peço para que todos cuidem das esculturas, que deem muito carinho a elas, para que elas possam ser leiloadas em prol do Unicef”, disse Catherine Duvignau, sócia-diretora da Toptrends.

Segundo o ‘pai da Mônica’, mais do que atrair olhares curiosos, a Mônica Parade utiliza a arte como forma de democratização social, sem qualquer distinção de locais. Além disso, a intervenção ainda faz com que os mais velhos voltem àquele tempo em que conheceram os primeiros traços de Maurício de Sousa, enquanto os jovens viajem pela infância e adolescência e até a um passado anterior à sua existência, se familiarizando com a estética da personagem através dos tempos – ou o contrário: a estética das décadas  contada visualmente por Mônica.

Entretanto, espalhadas nas ruas de São Paulo, algumas estátuas da Mônica Parade já vêm sofrendo danos. Duas das “Mônicas” teriam sido pichadas no último final de semana e uma delas, supostamente, teria sido furtada. A obra “Mônica Pop 50”, colocada na Rua Oscar Freire, zona nobre da cidade, teria desaparecido. A estátua, assinada pelo artista Lobo, sumiu do ponto em que havia sido deixada no primeiro dia da exposição (sexta-feira, 8), mas, no site oficial da Mônica Parade, há a informação de que a obra da Rua Oscar Freire está em manutenção.

Procurada, a Panini disse que o desaparecimento da Mônica está sendo investigado pela Polícia e fez um apelo indireto aos fãs da exposição, ressaltando a importância de estar atento à movimentação das ruas para assegurar a iniciativa artística na cidade. Veja a íntegra do comunicado:

“A intervenção urbana Mônica Parade na cidade de São Paulo já é um sucesso, com grande repercussão na mídia e nas redes sociais. A população paulistana está participando ativamente da ação – interagindo com as obras e fotografando ao lado das 50 esculturas customizadas por vários artistas.

Por estarem expostas nas ruas, infelizmente, houve alguns poucos casos de pichações e o desaparecimento de uma das obras – fato que está sob investigação policial. Esses casos também geraram indignação e uma reação imediata dos fãs nos sentido de ajudar a preservar as esculturas. A população está vigilante e apoia esse tipo de iniciativa de interação do público com a arte nas ruas da cidade.

É importante ressaltar que ao término do período de exposição – dia 8 de dezembro – as esculturas serão leiloadas em prol das crianças atendidas pelo UNICEF”.

* Por Rafael Moura

Fotos: Divulgação