Fabrício Carpinejar lança livro sobre fidelidade: ‘Hoje parece que se separar é apenas enxaqueca. Basta uma aspirina’


O livro “Minha Esposa Tem a Senha Do Meu Celular” aborda as relações amorosas e como vivemos a época do ‘amor descartável e fluido’

*Com Domênica Soares

Poeta, cronista, jornalista e professor e hoje também colunista do programa Encontro com Fátima Bernardes, Fabrício Carpinejar é puro talento e suas frases sempre foram contundentes. Aos 41 anos, ele já escreveu 26 livros e, seu mais recente lançamento, “Minha esposa tem a senha do meu celular”,  chegou às livrarias. Como temática, a fidelidade e cumplicidade nos relacionamentos amorosos atuais. A inspiração para os seus múltiplos ofícios é muito peculiar. “Sou um escritor portátil”, afirma, acrescentando que pode pega o celular, em qualquer tempo e hora, e interpretar em palavras suas emoções, que levam a reflexão para tantas pessoas. Carpinejar entrega o coração nas histórias que conta, além de trazer à tona suas percepções da sociedade na qual estamos inseridos. É sensibilidade pura, alto astral e reflexão. Sobre o novo livro, ele analisa a cultura de tirar vantagem, mentir e enganar o outro e conclui: “Não há nada mais cafona do que ser infiel”. Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Carpinejar tem frases incríveis que você precisa conferir. Vem!  

Fabrício Carpinejar lança seu novo livro (Foto: divulgação)

HT – Você é colunista, poeta, cronista, jornalista, professor e já escreveu 43 livros. Como é sua rotina diante de tantas produções?

Fabrício Carpinejar – Não tenho solenidade para escrever. Escrevo em trânsito, em qualquer situação. Tenho facilidade de me focar, posso estar no ambiente barulhento que não me estresso. A voz de dentro é que guia os meus ouvidos. Tanto que escrevo os meus livros no celular. Sou um escritor portátil. 

HT – Recentemente você lançou o livro “Minha mulher tem a senha do meu celular” sobre confiança no relacionamentos e aspectos relacionados. Como surgiu essa ideia?

FC – Para combater a cultura da malandragem nos relacionamentos. Parece que há um prazer sádico em tirar vantagem, mentir e enganar o outro na intimidade. Não há nada mais cafona do que ser infiel. 

HT- Como você analisa os relacionamentos hoje em dia?

FC – É muito fácil casar e descasar, tudo depende de um clique. Assim não valorizamos mais o namoro de ideias e de atitudes. No primeiro problema, a tendência é se separar. Estamos numa época do amor descartável. Amor, para mim, é resiliência. Intimidade sem esforço e sem esperança é falsa. No mundo líquido, aprendi a nadar a dois. De mãos dadas. 

HT – Pode fazer uma comparação desses relacionamentos hoje e há 10 anos?

FC – Antes se sofria por uma separação. Havia fossa, dor de cotovelo, luto. Hoje parece que se separar é apenas enxaqueca, basta engolir uma aspirina que passa. Você não quer se incomodar. Assim você também se torna indiferente para as boas lembranças. 

HT – Quais foram os aspectos positivos e negativos?

FC – Vejo um aspecto negativo: a falta da véspera. Não fantasiamos mais um encontro, assim como não aceitamos mais nenhuma recusa. A instantaneidade das relações, essencialmente sexual e casual,  dos aplicativos vem matando o romance, o frio na barriga, o medo de se apaixonar. Tudo é quantidade, o próximo da fila. Não se namora mais. Não se deseja com tempo. Não se espera o momento certo. O agora é insaciável e desumano. 

O cronista comenta que “Hoje parece que se separar é apenas enxaqueca, basta engolir uma aspirina que passa” (Foto: divulgação)

HT – De que forma você percebe que a internet altera a vida das pessoas na sociedade? E nos relacionamentos? Com o advento da tecnologia o que mudou? O que a sociedade pode melhorar?

FC – Estão mais ansiosas. Conversam menos olhando nos olhos. Acreditam que a vida virtual é mais importante. Passam o dia alimentando likes e comentários. A aceitação a todo custo é uma distorção da carência, não uma necessidade da personalidade. 

HT – As pessoas estão se aproximando mais ou se afastando?

FC – Estão se afastando pela crença de que a conversa na web é suficiente. Não é. Nenhum emoji resolve a saudade. Amizade e amor são artesanatos. Não tem como substituir o exercício presencial. 

HT – Na hora de escrever, quais são suas maiores inspirações? 

FC – Minha maior inspiração são os pais. Porque, mesmo com crenças diferentes, aceitaram que eu tivesse a liberdade de descobrir a minha própria verdade. Gosto de desafiar condicionamentos em meus textos, procurar o outro lado, encarnar a empatia: entender o que as pessoas estão vivendo e as suas escolhas. Minha emoção desativa o julgamento da razão. 

HT – Qual seu maior sonho?

FC – Perdoar mais do que fazer inimigos. 

HT – Em uma frase descreva Fabrício Carpinejar

FC – Apaixonado pela verdade. A ponto de não mentir nem em sonho. 

“Minha esposa tem a senha do meu celular” fala sobre relacionamentos amorosos (Foto: divulgação)

HT – Qual a importância da leitura na sociedade? 

FC – A leitura fortalece a solidão, o amor próprio. Quem fica duas horas por dia lendo saberá ficar escutando alguém por duas horas. Ler é higiene mental: organiza os nossos pensamentos na hora de falar, desfaz a megalomania do sofrimento porque descobrimos nos livros que os outros sofrem igual. 

HT – Até que ponto o celular hoje une ou não une um casal?

FC – O celular é apenas um aparelho, de uso comum. Não tem a importância que se dá de cofre da intimidade. Em casa, eu e a minha esposa dividimos as senhas e somos felizes dentro da paz da confiança. 

HT – O que acha dos casais em lugares públicos sem conversar e cada um com o seu celular?

FC – Desde que partilhem os conteúdos e vídeos, para animar a conversa. Pode ser divertido. 

HT – O que achou da experiência do Instagram de não ter mais a exposição pública dos likes?

FC – É um voto da plataforma para a maior espontaneidade e contra a histeria da competição. Fazer algo para agradar os outros é o caminho mais rápido para a rejeição.