Exposição no MAR mostra o universo interiorano de Alberto da Veiga Guignard e seu paralelo com a cultura oriental


“Guignard e o Oriente, entre o Rio e Minas” trava um diálogo entre a arte do friburguense com traços das culturas do Japão e China, ao mesmo tempo em que evidencia influência na arte contemporânea de Adriana Varejão

*Por João Ker

Apesar de ter nascido em Nova Friburgo, grande parte da produção de Alberto da Veiga Guignard retrata as paisagens, o cotidiano e as figuras mineiras. Em seus quadros, cidadezinhas interioranas cercadas por montanhas e com uma igreja se destacando são facilmente encontradas, assim como personagens que carregam no semblante e nas linhas do rosto toda a aura de simplicidade do meio rural. E, a partir de hoje (11/11), cariocas podem entrar nesse universo faceiro e sensível através da exposição “Guignard e o Oriente, entre o Rio e Minas”, que chega ao Museu de Arte do Rio – MAR, na Zona Portuária.

Na galeria armada no segundo andar do prédio, um diálogo entre a vasta obra do brasileiro e a cultura oriental é travado, resultando em 207 peças que contam com a curadoria de Paulo Herkenhoff, Priscila Freire e Marcelo Campos. Apesar de não ter sido uma referência declarada, a arte chinesa das xilogravuras ganhou o mundo durante o século XIX, influenciando nomes como Van Gogh, Toulouse-Lautrec e Monet – numa época em que a curiosidade por um Japão recém-saído feudalismo motivava artistas de todo o mundo. Eventualmente, mexendo até com os brios de Guignard, o qual apresentava traços e pontos semelhantes aos dos orientais em sua retratação do panorama interiorano mineiro e carioca. “O que importa, no entanto, não é como essa técnica surpreendeu Guignard, mas a maneira pela qual, ao retratar a paisagem oriental, ela foge à perspectiva renascentista e cria imagens que ultrapassam a reflexão, o sentimento e a intuição, se unindo umas às outras, sem exceção, na criação da fantasia”, conta Priscila.

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Além da temática, a estética da técnica oriental também aparece no trabalho do brasileiro, como exemplifica Paulo: “Nas paisagens de rolos chineses não há uso do ponto de fuga, como se costuma fazer no Ocidente. A partir de certo momento da carreira, então, Guignard passa a abolir as perspectivas e profundidades, fazendo com que as figuras na tela pareçam suspensas numa atmosfera vaporosa”. O diálogo estabelecido na exposição vai além da arte chinesa e chega ao Brasil contemporâneo: das 207 obras que misturam gravuras, pinturas, desenhos, documentos e objetos, 101 são do artista friburguense, enquanto as outras vem tanto de xilogravuras japonesas dos séculos XVII e XVII, quanto de obras assinadas por Adriana Varejão.

Panorama da Guanabara, Adriana Varejão (foto: Divulgação)

Panorama da Guanabara, Adriana Varejão (foto: Divulgação)

“A compreensão da relação entre Guignard e o Oriente extrapola a simplista análise formal, já que não se pode cerzir a história sem ter que cerzi-la novamente, juntando-se escritos e imagens, documentos e afetos, lugares e crenças. A possibilidade de criar tais aproximações deve levar em conta que, em tudo, Alberto da Veiga Guignard exercera uma discreta resistência”, comenta Marcelo, mostrando a importância de se traçar paralelos culturais e históricos para um maior aprendizado do que acontece no mundo contemporâneo.

Serviço:

MAR – Museu de Arte do Rio:

Ingresso: R$ 8 I R$ 4 (meia-entrada) – pessoas com até 21 anos, estudantes de escolas particulares, universitários, pessoas com deficiência e servidores públicos da cidade do Rio de Janeiro. Pagamento em dinheiro ou cartão (Visa ou Mastercard).

Política de gratuidade: Não pagam entrada – mediante a apresentação de documentação comprovatória – alunos da rede pública (ensinos fundamental e médio), crianças com até cinco anos ou pessoas a partir de 60, professores da rede pública, funcionários de museus, grupos em situação de vulnerabilidade social em visita educativa, vizinhos do MAR e guias de turismo. Às terças-feiras a entrada é gratuita para o público geral. Até dezembro de 2014 também têm gratuidade profissionais do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, da Guarda Municipal (GM/Rio) e da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP).

Horário especial de visitação no verão (a partir de 4 de novembro): Terças e sextas-feiras,  das 10h às 19h. Quartas, quintas, sábados e domingos, das 10h às 17h. Às segundas o museu fecha ao público. Para mais informações, entre em contato pelo telefone (55 21) 3031-2741 ou acesse o site www.museudeartedorio.org.br.

 

Endereço: Praça Mauá, 5 – Centro.