Tortura com requinte de chinoiserie: no MAM Rio, expô revela a crueldade made in China!


‘Pintar a China Agora’ utiliza sistema chinês de produção de pinturas para evidenciar crítica ao trabalho escravo praticado em fábricas

Sabe aquela velha máxima “Made in China”, que costuma aparecer nas etiquetas daqueles produtos exportados do país para todos os lugares do mundo? Pois bem, depois que a terra do kabuki se rendeu à manufatura barata para conquistar o mundo, o termo chinoiserie deixou de significar aquele requinte de fabrico artesanal e minucioso, típico do povo de olhos puxadinhos, não é mesmo? Agora, a  expressão também é sinônimo de uma aterradora realidade de exploração e sofrimento para a população chinesa: a comodidade de contar com fábricas de pintura para a reprodução, mano a mano, de tudo que se pode imaginar, reduzindo serem humanos a meras impressoras vivas, como se fossem máquinas de plotagem – e, ainda por cima, com preços imbatíveis. Enquanto o mundo cerra os olhos fechados para estas execráveis condições de trabalho, o PIB chinês cresce na mesma proporção que a perseguição política e a tortura aos dissidentes. Por isso e diante dos elementos dessa realidade, a dupla de artistas tcheco-finlandesa Ondrej Brody e Kristofer Paetau concebeu a instalação Pintar a China Agora’, em cartaz no Foyer do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), a partir de hoje, 7 de dezembro.

Inédita no Brasil, esta mostra de forte conteúdo crítico e político já rodou países como Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha, desde sua concepção, em 2007. “Pintar a China Agora lida com um tema incômodo, mas necessário: a perseguição política e a tortura. A dificuldade é como fazer destas imagens algo mais do que mera denúncia. Não que ela não seja necessária, mas acrescentar-lhe camadas críticas confere a esta estratégia artística complexidade e intensidade importantes”, ressalta Luiz Camillo Osório, curador da esposição.

A manobra crítica de Brody e Paetau pode ser descrita como “homeopática”, já que usa o princípio “semelhante cura semelhante”, uma das máximas deste tipo de tratamento médico. Eles desafiaram 20 empresas chinesas de copistas a fazer 30 quadros com imagens proibidas de tortura, praticada na República Popular da China contra membros do grupo espiritual Falun Dafa. “Escolhemos a empresa que cobrava o menor preço, numa cidade especializada em pinturas, na qual jovens trabalham de graça – ou quase – para aprender o ofício”, conta a dupla de artistas.

Para Osório, a reprodução fiel, mas adocicada, destes copistas sempre foi lugar do consenso: “Eles trocam aqui de lado, assumem o desconforto diante daquilo que não deve ser visto. A saudável dificuldade de todos nós, é claro, é conferir o terrível é elevada à última potência. O kitsch a serviço do dissenso. O incômodo, o intragável, tudo servido com aparência de coisa trivial”, avalia.

 

 

Fotos: Divulgação

Serviço:
‘Pintar a China agora’
Abertura: 7 de dezembro de 2013, às 15h
Exposição: até 16 de fevereiro de 2014
De terça a sexta, das 12h às 18h. Sábado, domingo e feriado das 12h às 19h

Ingresso: R$ 12
Estudantes maiores de 12 anos: R$ 6
Maiores de 60 anos: R$ 6
Amigos do MAM e crianças até 12 anos: entrada gratuita
Quartas-feiras a partir das 15h: entrada gratuita
Domingos ingresso família, para até 5 pessoas: R$12
Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ
Contatos: (21) 3883-5600 e www.mamrio.org.br