Exclusivo! Zanini de Zanine fala sobre sua relação com arte e trabalho, o legado do pai José Zanine Caldas e o documentário “Zanine – A arte de arquitetar”, que está em fase final


O designer está a frente do projeto que homenageará o renomado arquiteto e trabalha na mesma linha: “Aprendi com o meu pai que a gente não tem que seguir muitas tendências e modismos, porque aí deixamos de mostrar a nossa identidade. As diferenças são mais interessantes do que as semelhanças. É forma de se destacar. O legado do meu pai é extremamente genuíno e é o que eu tento fazer”

Zanini de Zanine é filho da arte. Como tal, não poderia ser diferente: trilha os caminhos do pai, o renomado arquiteto José Zanine Caldas (1919-2001), o Mestre da Madeira. Foi no Ateliê Carlos Vergara, em Santa Teresa – onde estivemos para conversar sobre a exposição do artista que será inaugurada amanhã – , ao lado de uma obra assinada em parceria com Carlos Vergara que o designer de 38 anos posou para o site HT e contou que trabalhar é um prazer imenso. “É o famoso ‘não é trabalho, é diversão’”, ressaltou ele, que não sente o peso de seguir a chancela do pai. “Gosto de ver por um lado que me soma. Essa história de ser filho não me pesa, porque eu vejo o trabalho do meu pai de forma tão grandiosa e, ao mesmo tempo, eu sei bem do que sou capaz de fazer perto do que ele fez. Isso é bem dividido para mim. A grande riqueza foi a convivência que eu tive com ele, aprendi muito. Ele era um sábio. Agora, mais recente, é incrível poder usufruir do ciclo de amizades dele. É um tipo de herança”, disse. Não tinha como ser diferente: “O que vi e convivi foi sempre tudo muito forte. Eu fui observador e esse mundo lúdico aflorou naturalmente e me fez levar isso para o universo da criação”, explicou.

Zanini de Zanine comanda seu estúdio com a sabedoria herdada do pai (Foto: Robert Schwenck)

Zanini de Zanine comanda seu estúdio com a sabedoria herdada do pai (Foto: Robert Schwenck)

Hoje, Zanini de Zanine comanda seu próprio estúdio, criado em 2011. Por lá, cria móveis com materiais diversos como madeira de origem controlada, plástico, metacrilato, metais e partes de outros produtos industrializados. “A gente desenvolve muitos tipos de projetos industriais e artesanais e produtos que não são só de mobiliário, mas de utilitários e até mesmo de espaços, ambientes. O bacana é que o trabalho tem uma grande liberdade. A parte de criação tem um leque de possibilidades de linguagem e de uso de material”, disse. E ele faz o que tem vontade. “Essa é base do que eu aprendi com o meu pai. A gente não tem que seguir muitas tendências e modismos, porque aí deixamos de mostrar a nossa identidade. As diferenças são mais interessantes do que as semelhanças. É forma de se destacar. O trabalho do meu pai foi extremamente genuíno e é o que eu tento fazer”, declarou.

Não à toa, um documentário sobre José Zanine Caldas já é realidade. Em fase final, o “Zanine – A arte de arquitetar” tem direção assinada por André Horta e abordará história, pensamentos e conquistas do pai de Zanini de Zanine. “O documentário tem a colaboração de muita gente. Irmãos, amigos, profissionais. Catalogamos material desde 1997 e, agora, culminou de nos associarmos a uma produtora, a Ponto de Fuga. Estamos na reta final pra termos o prazer de dividir com o grande público”, disse. E haja colaboração estrelada. Oscar Niemeyer (1907-2012), Antonio Bernardo, Heloísa Buarque de Hollanda, Antonio Carlos Rodrigues, Florinda Bolkan e Sergio Rodrigues (1927-2014) foram alguns dos nomes que prestaram depoimentos em diferentes épocas sobre Zanine Caldas. “A ideia é tentar mostrar não só a riqueza do lado profissional, mas do ser humano que meu pai foi. Ele teve uma passagem importante em vários capítulos não só do mobiliário brasileiro e da arquitetura, mas também em contatos humanos. Ele tinha um ciclo de amizade riquíssimo, trocava ideias com muitas pessoas importantes que eram verdadeiros pilares da cultura brasileira. O próprio Carlos Vergara, Oscar Niemeyer… A ideia do filme é levar a identidade brasileira que ele aplicava no trabalho, claro, mas também esse lado brasileiro de viver a vida de uma maneira muito rica, mas de uma riqueza que não a material”, endossou.

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Zanini de Zanine posou para HT no Ateliê Carlos Vergara, em Santa Teresa (Foto: Robert Schwenck)

E a produção faz valer uma história tão bonita. “O André Horta é um grande diretor e o mais bacana é que ele teve contato com o meu pai desde muito cedo. Começou gravando ele novo e ter esse reencontro e o ponto de vista de alguém que teve esse contato é incrível. Tem uma parte só de depoimentos, mas a história do meu pai é muito cheia de detalhes, então o corpo do documentário é mesmo um depoimento dele”, disse. Quem tem dúvidas de que será um sucesso?