Bruce de Araújo lança seu primeiro livro, “Leia Antes Que Eu Jogue Fora”, e fala sobre as ocupações estudantis: “É o movimento mais lindo que temos no país”


Dividido em quatro capítulos, o trabalho serviu como uma espécie de reencontro com o passado, segundo o autor: “Eu deixei claro para mim que se não lançasse esse livro eu não escreveria mais. Ele foi a junção das poesias que tinha”

Uma produção efêmera, com poesias românticas e questionamentos de uma sociedade intolerante plural. Esses foram os ingredientes atualíssimos que Bruce de Araújo escolheu para temperar seu primeiro livro “Leia Antes Que Eu Jogue Fora”, pela Editora Cândido. Na obra, o escritor de 30 anos, que em paralelo divide seu tempo com os deuses do teatro, fala de amores ardentes e platônicos, conversa com orixás e pede licença poética a seus alter egos para expressar dor, desencanto e o aprisionamento dos desejos reprimidos. Nem tudo 100% vivido por ele, claro. Afinal, o mundo ao redor também serve de material para o artista em questão. Em entrevista exclusiva ao HT, Bruce disse que a publicação é uma espécie de recorte de seus poemas escritos ao longo dos últimos cinco anos.

Bruce de Araújo lança seu primeiro livro (Foto: Divulgação)

Bruce de Araújo lança seu primeiro livro (Foto: Divulgação)

Dividido em quatro capítulos (“Sorrisos e Feridas” / “Natu Reza” / “Mundo” / “Metáfora”), o trabalho serviu como uma espécie de reencontro com o passado, segundo o autor. “Eu deixei claro para mim que se não lançasse esse livro eu não escreveria mais. Foi um projeto que começou a ser escrito há muito tempo, só que fui adiando em diversos níveis. Agora, com 30 anos, percebi que era o momento de, enfim, formatá-lo. Ele foi a junção das poesias que tinha. Foi interessante ver que na construção dos textos eu já tinha trabalhos consolidados para serem transformados em uma obra. E a partir daí você entende que um livro é exatamente como um quadro. Eu estava tentando achar detalhes em asas de borboletas”, comentou ele, explicando o título da livro. “O nome surgiu dessa urgência. Nós estamos em extrema transformação, evolução e desenvolução. Por isso proponho que o leitor viaje na história antes que ela não faça mais sentido”, destacou.

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Os capítulos do livro são separados por temas de interesses variados, expondo o olhar crítico de Bruce para o amor, para a intolerância religiosa, para os afetos do cotidiano e para os dramas de grupos específicos. “São quatro capítulos que falam de amores – que aconteceram comigo ou não – e desilusões. A segunda parte eu me inclino para a relação da natureza e das divindades. Já o terceiro, eu parto para outros, fujo totalmente das minhas experiências e parto para os eu líricos que estão no mundo. Na verdade é um pequeno registro sobre a passagem da sociedade e o momento social atual do Brasil: falo poeticamente da tragédia de Mariana (quando a barragem da mineradora Samarco rompeu causando o maior acidente natural ambiental do Brasil), falo em pajubá, que é a linguagem das travestis, e a absurda da intolerância religiosa”, adiantou ele, que na última parte do livro brinca com metáforas entre o mundo dos poetas e da própria poesia em si.

O poeta também divide seu tempo como ator de teatro (Foto: Divulgação)

O poeta também divide seu tempo como ator de teatro (Foto: Divulgação)

Apesar da realização de ver o trabalho físico pronto em suas mãos – que terá noite de autógrafos dia primeiro de dezembro, às 19h, na Casa do Rio, em Botafogo, Bruce comentou que a trajetória foi longa até encontrar uma editora que topasse entrar nesta parceria com ele. “Não é fácil lançar um livro. Ainda mais por se tratar de um trabalho independente, que conta com a parceria da Editora Cândido. E não só as dificuldades financeiras. Também existe a questão do momento certo para o autor mostrar a que veio. Esse trabalho me marca como poeta daqui para frente”, avaliou.

Como muita gente sabe, Bruce de Araújo também é bem conhecido dos palcos dos teatro brasileiros. Como ator, ele já participou de musicais como a “Ópera do Malandro” e “Gabriela”, produzidas pelo amigo e diretor João Falcão, que assina a orelha do livro. “A poesia corre solta nas veias de Bruce de Araujo e em seu sangue pulsa apaixonada. Seus versos são repletos de imagem, som e fúria.”, escreveu o artista. Mas, agora, voltando aos trabalhos como ator, o artista segue firme e forte ao escrever seu primeiro monólogo, batizado de “O Estudo Sobre a Maldade”, inspirado livremente na obra “Otelo, o Mouro de Veneza”, peça escrita por volta de 1603, por William Shakespeare.

“Iago foi o primeiro grande vilão da história do teatro. Foi a partir daí que se começou a consciência sobre o lado sombrio das pessoas. Sempre muito escondido ao longo dos anos. Hoje, a gente vive em uma sociedade da intolerância, do ódio e da competição. Na peça, começo contando as minhas maldades até chegar aos maníacos da sociedade e atá da política”, revelou ele.

E, falando em política, o escritor, poeta e ator apoia totalmente o movimento estudantil que tem ocupado às escolas em manifestação contra a PEC 241/55 que visa congelar investimentos na saúde e na educação, por exemplo, ao longo do próximos pelos próximos 20 anos. “É o movimento mais lindo que está acontecendo no país. Já acompanhei protestos secundarista e eles são as pessoas que mais lutam por um Brasil melhor. Pena que são tratados com muita violência tanto pela polícia quanto pelo estado”, completou.