Artista plástico e cenógrafo Sergio Marimba lança a exposição “Mobiliário do Tempo”: “São peças únicas criadas por mim a partir de objetos inusitados”


Com a técnica de assmblagem, as peças vão desde uma simples luminária cirúrgica adaptada com lâmpadas de LED, até obras que carregam consigo muita história e sincretismo através de relíquias sacras

O retrô e a ressignificação nunca estiveram tão em alta! Pelo menos é com esse pensamento que o cenógrafo e artista plástico Sérgio Marimba inaugurou, no último sábado, em seu charmoso ateliê, no Rio Comprido, o showroom “Mobiliário do Tempo”, que tem como ponto de partida o propósito de transformas objetos antigos em peças raras de design e decoração. E, as assemblagens são, certamente, muito inquietantes. Vão desde uma simples luminária cirúrgica adaptada com lâmpadas de LED, até peças que carregam consigo muita história e sincretismo através de relíquias sacras. Em um entrevista descontraída com o HT, a artista falou um pouco sobre a mostra que, em tempos de crise, tem passado, assim como suas obras, por momentos de transformação.

Sérgio Marimba inaugura showroom 'Mobiliário do Tempo" (Foto: Divulgação)

Sérgio Marimba inaugura showroom ‘Mobiliário do Tempo” (Foto: Divulgação)

“Tem sido cada vez mais difícil viver de arte no Brasil. Essa crise tem atingido as pessoas de uma forma muito abrangente e agressiva. No caso das artes plásticas, estamos criando a todo tempo manobras para que as pessoas possam ter acesso ao nosso produto por um custo muito menor. Eu proponho uma variação de preços muito grande para que se possa ter acesso ao meu trabalho. Porém, algumas obras ficam muito mais complicadas, porque se tratam de peças únicas. Hoje, apenas colecionadores e apaixonados por arte que se interessam em comprar algo. Ultimamente, o que tem salvado a nossa renda são as feiras de arte”, constatou.

Entretanto, o portfólio construído por Sérgio Marimba foi sendo montado ao longo de uma vida. Com um olhar apurado para objetos jogados para escanteio, foi através do garimpo há anos em feiras de antiguidades, antiquários, leilões e com colecionadores, que ele colocou seus itens ao alcance de quem preza por um objeto assinado com a linha da arte, cenografia e design arrojado. Para ele, um antigo basculante de madeira de demolição, por exemplo, se transforma em uma bela mesa de centro, tendo no lugar dos vidros, cachepôs para uso de flores e outros objetos. “Como também sou cenógrafo, trabalho muito com teatro. E, no decorrer dos meus 20 anos, fui comprando peças que vão desde fotografias antigas, luminárias, caixas de metal, até garrafas e cristais. No início tinha duas finalidades: usava-os nos cenários e depois como designer de mobiliário”, comentou ele, falando sobre o que o público pode esperar do resultado de toda essa pesquisa.

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“Separei algumas obras no meu ateliê para esse showroom. São peças únicas criadas por mim a partir de objetos inusitados. Tenho luminárias feitas com vidros dos anos 20 e 30, nas quais a ideia é mostrar bem esse material e a história que ele carrega. A luminária vinda de um centro cirúrgico é um dos meus favoritos. Só que customizei e coloquei luz de LED para ficar bem acessível como uma peça de decoração. Meu trabalho é muito em cima de ferro, motores antigos e até carcaça de lata. No geral, eu penso na forma sem mexer na estrutura. Sem perder a essência e a história que tal objeto carrega”, disse.

No entanto, esta não é a primeira vez que o artista brinca com a ideia de tempo. Em sua exposição “Lembranças Perdidas” (2011), Marimba expôs 11 esculturas cronologicamente montadas. A intenção era que as fotos antigas de pessoas desconhecidas impressas em grandes chapas de aço oxidadas sofressem um rápido desgaste natural para mostrar o efeito dos anos. Já no seu projeto mais recente, Marimba realiza um processo inverso, dando vida nova a objetos que estavam fora de uso. “O item antigo tem uma propriedade muito grande. E se você deteriora a identidade, ele perde a poesia. O maior desafio é você tirar proveito desse mobiliário integralmente, porque a ideia é de resgatar a peça e que ele tenha uma nova função. Eu procuro tirar proveito das linhas, das curvas e até de sua funcionalidade”, ponderou ele.

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Agora, ao contrário de outros artistas, Sergio acredita que a tecnologia também veio para aprimorar ainda mais suas obras. Tanto que isso pode ser visto em sua exposição que fica em cartaz até o dia 23 de dezembro. “As novas tecnologias vieram para somar. Principalmente no meu caso que trabalho com iluminação. Antes uma lâmpada ficava muito limitada. A tecnologia ajuda e tem a identidade dela. Assim como meu trabalho, traz um novo significado”, avaliou ele, destacando as peças que acredita que deram o maior burburinho ao seu evento. “Tenho uma escultura do século XVII, da metade do Corpo de Jesus Cristo, que adquiri durante uma viagem a Ouro Preto (MG). Ficou apenas da cintura pra baixo. Com ele uso um mecanismo de uma caixinha de música acoplado a uma corneta antiga e, com assemblagem, dou um novo significado, meio surrealista”, completou.

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Para conhecer mais, acesse: www.mobiliariodotempo.com