Abaixo o photoshop! A beleza real de celebridades pelas polaroides do mestre Chuck Close para a Vanity Fair


Resultado do trabalho: os atores sempre endeusados aparecem como você, como eu, como gente normal que eles também são, mesmo que muitos insistam em fazê-los acreditar que não são

* Por Junior de Paula

Beleza mesmo é aquela que não precisa de subterfúgios, que abre mão do espelho e da vontade de parecer ser mais do que realmente é. Chuck Close, um dos artistas plásticos e fotógrafos mais importantes deste século, por exemplo, sabe disso por conta de seu trabalho que tem como matéria-prima a expressão humana, a partir de fotos e pinturas realistas (aquelas que se aproximam às fotografias pela riqueza de detalhes) que lhe deram fama. Partiu dele, portanto, a proposta de desafiar algumas das pessoas que mais povoam o imaginário coletivo quando a beleza é colocada no centro da roda, cujo resultado está nas páginas da Vanity Fair, que celebra os 20 anos da revista.

Chuck convidou e ouviu o sim de 20 personalidades do showbizz para posarem para suas lentes completamente despidos de qualquer vaidade. Sem maquiagem, sem cabelo feito, sem roupas glamourosas e muito menos retoques nas imagens na pós-produção. Brad Pitt, Scarlett Johansson, Julia Roberts, Harrison Ford, Bruce Willis, Kate Winslet foram alguns dos que aceitaram as regras do jogo proposto por Chuck.

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Realidade: Brad Pitt para as lentes de Chuck Close

Que regras erram essas? Os artistas deveriam chegar sozinhos ou com no máximo um amigo. Nada de assessores ou agentes. Deveriam estar disponíveis por três horas, seriam responsáveis por tudo em relação à sua aparência, como cabelo, maquiagem e a escolha do look. Concordariam que no estúdio só teriam sanduíches, saladas, água e café, portanto, nada de mandar lista de exigências. E, por último, cada um deveria chegar por conta própria ao lugar marcado. 

“Eu não sou um fotógrafo de moda ou glamour e me recuso a retocar qualquer imagem. Por isso, quem topasse posar para mim teria de vir despido de qualquer vaidade e com uma dose grande de generosidade e confiança no projeto, já que eles não teriam nenhum controle sobre o resultado final”, contou Chuck. Paraplégico e preso a uma cadeira de rodas desde 1988, quando um coágulo sanguíneo na coluna vertebral o paralisou, Chuck nunca parou, entretanto, de buscar a arte dos pequenos detalhes. Suas pinturas são formadas por pequenas partes que só podem ser identificadas quando olhada de muito perto. O que é uma linda imagem de uma senhora de idade avançada de longe, ao aproximar-se percebe que todo o quadro foi feito a partir de impressões digitais do dedo de Chuck.

Pela importância e sensibilidade do artista, portanto, não foi difícil de convencer a turma a se entregar de corpo, alma e cara lavada. O resultado final, como não poderia deixar de ser, é sempre poesia pura, onde você consegue enxergar todas as perfeitas imperfeições, as rugas, as histórias, as manchas e as olheiras que falam mais do que qualquer entrevista ou qualquer interpretação histórica de cada um. Ali, os atores sempre endeusados aparecem como você, como eu, como gente normal que eles também são, mesmo que todo o resto da gente insista em fazê-los acreditar que não são.

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.