A mostra “Silêncio impuro” leva 16 obras de sete artistas à Anita Schwartz Galeria de Arte para falar da complexidade do silêncio


Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição tem como objetivo mostrar que não apenas o som, mas também o silêncio, é complexo e está em constante mutação

A Anita Schwartz Galeria de Arte abre suas portas nesta quarta-feira para alguns convidados especiais que prestigiarão a estreia da exposição “Silêncio impuro”. A partir do dia seguinte, o público poderá conferir as 16 obras que compõem a mostra de perto. Entre os trabalhos dos artistas Artur Lescher, Cadu, Carla Guagliardi, Nuno Ramos, Otavio Schipper, Tatiana Blass e Waltercio Caldas estão esculturas, instalações, fotografias e vídeos que passaram pela curadoria cuidadosa de Felipe Scovino, que explicou a relação íntima entre a mostra e o silêncio.

Cadu_Hemisferios

“Hemisférios”, de Cadu, mostra as marcas do tempo através do sol que bate no papel (Foto: Divulgação)

“O som é um índice, pois as obras operam com o seu lado negativo no qual ele é silenciado. O que existe, ou melhor, aquilo que se expande pelo espaço é a imagem do som, isto é, as mais distintas suposições que podemos ter sobre qual som poderia ser ouvido se finalmente aquilo que o impede (uma amarra, uma solda, ou ainda o livre entendimento de que a obra possa ser compreendida também como uma partitura) fosse revelado ou reinterpretado”, analisou o curador.

Carla Guagliardi_Partitura

A escultura “Partitura” de Carla Guagliardi, dialoga com a de mesmo nome do artista Artur Lescher (Foto: Divulgação)

E todas as obras dialogam entre si. As fotografias da série “Partitura”, de Artur Lescher se relacionam com o trabalho “Hemisférios”, de Cadu, uma obra composta por pequenos blocos de papel vegetal expostos ao ambiente com uma lupa direcionando a luz do sol para certa área e resultando em marcas de tempo. “A condição de partitura também se faz presente nessa obra”, explicou Felipe Scovino. Aliás, as esculturas “O lugar do ar” e “Partitura”, da artista Carla Guagliardi também dialogam perfeitamente com as outras duas. “Tudo parece ruir ou estar prestes a desabar, mas, por outro lado, as obras evidenciam uma dinâmica que é própria da natureza do som: querem o ar”, disse Felipe. Outras semelhanças são os elementos de “Pagão”, de Nuno Ramos, comuns à “Für Elise”, de Cadu. Enquanto no primeiro diversos objetos musicais são fixados no meio de uma pedra-sabão, em “Für Elise” o relevo aparece sob o papel.

Nuno Ramos_Pagao_baquetas e pedra sabao_Alta

“Pagão”, de Nuno Ramos, traz baquetas e outros elementos em pedras sabão que formam relevos (Foto: Divulgação)

Otavio Schipper contribui com a exposição através de quatro trabalhos em bronze da série “Empty Voices”, que, de acordo com o curador, tem a ver com Guagliardi por pertenceram ao ar. “É nesse lugar que se constrói uma superfície vibrátil, virtual e potente. As obras da exposição revelam uma potência sem igual: um inesperado sussurro que não para de vibrar em suas estruturas”, esclareceu.

Otavio Schipper_Empty voices 07

Empty Voices, de Otavio Schipper, é composta por quatro esculturas em bronze (Foto: Divulgação)

A artista Tatiana Blass expõe seu vídeo “Metade da fala no chão – Piano surdo”, de 2010, no qual o piano é coberto por cera e vaselina que impedem que ele produza seus habituais sons. Já “Lá dentro”, de Waltercio Caldas, é uma instalação de aço inox, granito, vinil e fios de lã que, analisando bem, podem se relacionar com a falta de sons do instrumento de Tatiana. “Como os intervalos de uma partitura, ele constrói silêncios, dita ritmos, auxilia na compreensão da vibração”, disse o curador.

Tatiana Blass_Metade da fala no chao

“Metade da fala no chão”, de Tatiana Blass, mostra um piano impedido de produzir sons (Foto: Divulgação)

No texto que acompanha a exposição, Felipe Scovino destaca que o silêncio pode ter mil formas: “As obras aqui reunidas não afirmam um significado último e derradeiro para o silêncio; ao contrário: mostram sua abertura, complexidade e multiplicidade e apontam finalmente para o fato de que silêncio e som estão em constante mutação e interpenetração”, escreveu. É correr para conferir.

Carla Guagliardi_O lugar do ar

“O lugar do ar”, de Carla Guagliardi (Foto: Divulgação)