O cinema brasileiro tomou conta de Miami Beach durante nove dias. A Lincoln Road, epicentro de ferveção com aquela concentração de lojas e bares, ficou literalmente congestionada na altura do número 1040, onde está localizado o Colony Theatre, uma linda construção art-déco dos anos 30. Filas gigantescas dobravam a esquina com americanos, latinos e brasileiros residentes nos Estados Unidos ávidos por conferir as mais recentes produções audiovisuais made in Brazil que integravam a Mostra Competitiva do 19º Brazilian Film Festival of Miami. Organizado pelas irmãs Adriana e Cláudia Dutra + a sócia, Viviane Spinelli, através da Inffinito Produções, o evento já é uma referência no que diz respeito à divulgação do cinema nacional para o mundo, promovendo o melhor da nossa produção e fomentando a indústria à nível global. Através do voto popular, o grande vencedor foi o longa-metragem “Loucas Pra Casar”, direção de Roberto Santucci.
E quem subiu ao palco para receber o Prêmio Lente de Cristal foi uma emocionada Suzana Pires, uma das protagonistas do filme. O Colony Theatre estava lo-ta-do quando a atriz entrou no palco e disse: “Existe algo que se chama sonho. E os artistas vivem desse conjunto de imagens, pensamentos e fantasias. Cada projeto novo se transforma em sonho na minha mente e isso aconteceu com “Loucas Pra Casar”. Preciso contar que Ingrid Guimarães foi a grande alquimista dessa história e fez com que Tatá Werneck e eu embarcássemos em uma aventura maravilhosa. Vivenciei um encontro incrível com Tatá e Márcio Garcia e toda a produção do filme. Agradeço a Adriana Dutra e Viviane Spinelli fizeram com que meu sonho de estar aqui também pudesse ser realizado e eu espero estar nos sonhos de vocês diariamente nas telas”.
Quando toda aquela plateia ainda sentia a emoção contagiante de presenciar Suzana Pires recebendo a estatueta de cristal em forma de sereia segurando uma lente e entregue por Floriana Martinez, representante da American Airlines – uma das empresas patrocinadoras do festival, ao lado da Prefeitura de Miami, do Miami Visitor and Convention Authority e Riofilme, entre outras -, mais um presente: a exibição de “Que horas elas volta?”, da diretora Anna Muylaert, premiado no Festival de Berlim (Prêmio do Público na Mostra Panorama) e no Sundance Film Festival (Prêmio Especial do Júri, concedido às atrizes Regina Casé e Camila Márdila). O longa foi o escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016. Foi a própria Anna quem apresentou ao público em Miami o seu longa, batizado no exterior como “The second mother”. Só em Miami, a diretora deu cerca de 70 entrevistas para jornais e televisões de todos os Estados Unidos em menos de 48 horas. Contou que o filme foi vendido para mais de 30 países, entre Europa, América, África e Oriente Médio. Só na Itália, onde foi lançado no início de junho, “Que horas ela volta?” esteve nos cinemas de 70 cidades. Na França, o lançamento ocupou 190 salas com cópias em 90 cidades. Um viva à sétima arte! Anna falou aos americanos como foi dirigir Regina Casé em sua volta magistral à sétima arte e garantiu que está pronta e com as mangas arregaçadas para batalhar até a relação final dos indicados ao Oscar ser revelada no dia 14 de janeiro de 2016.
Como já contamos aqui no site, em 2015, o BRAFF contou com a curadoria de Luiz Dolino, artista plástico e ex-diretor do CCBB-RJ; Ricardo Cota, jornalista e vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Estado do Rio de Janeiro; Sérgio Sá Leitão, ex-diretor-presidente da Rio Filmes e ex-secretário municipal de Cultura do Rio; além de Walter Lima Júnior, cineasta premiado e jornalista especializado em cinema, TV e teatro. A abertura teve como cenário o New World Symphony Soundscape, um deslumbrante edifício futurista do arquiteto internacionalmente aclamado Frank Gehry, (autor de projetos como o Museu Guggenheim em Bilbao, Espanha, o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, e a Casa Dançante, em Praga) com a exibição do filme “Trinta”, de Paulo Machline, protagonizado por Matheus Nachtergaele na pele do carnavalesco Joãosinho Trinta, e com a presença em Miami do ator Fabrício Boliveira.
Como parte do Circuito Inffinito de Festivais, o evento integra uma lista de outras mostras que já levaram a excelência audiovisual brasileira para Nova York, Vancouver, Londres, Roma, Barcelona, Madri, Buenos Aires e Montevidéu, recentemente. Como tenho comentado, é importante frisar que o trabalho realizado pelas irmãs Adriana e Cláudia Dutra e por Viviane Spinelli que tanto tem ajudado tanto a promover a cultura brasileira no exterior. O resultado foi que 5 mil pessoas prestigiaram o evento, sendo 40% brasileiros e 60% americanos, latinos e europeus. A Mostra Paralela exibiu, na Miami Beach Cinematheque, documentários ainda inéditos em Miami e que mostram um panorama da dimensão política e cultural do nosso país, como “Democracia em preto e branco”, de Pedro Asbeg, “Samba & Jazz”, de Jefferson Mello, “Dominguinhos”, de Mariana Aydar, Eduardo Nazarian e Joaquim Castro, “Cássia Eller”, de Paulo Henrique Fontenelle, e “Últimas conversas”, obra realizada pelo cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014).
A Mostra Competitiva, no Colony Theater, na síntese feita por Viviane Spinelli, foi uma das mais significantes ao conseguir um mix perfeito de gêneros, que mostra a versatilidade e a qualidade do cinema nacional. Entre os destaques, “Boa sorte”, drama de Carolina Jabor, no qual Deborah Secco interpreta uma soropositiva que encontra o amor no fim de sua vida; a comédia “Loucas pra casar”, sucesso de bilheteria dirigido por Roberto Santucci; “Casa grande”, de Fellipe Barbosa, também representado em Miami por Suzana Pires, integrante do elenco; “A estrada 47”, de Vicente Ferraz, que foi categórico em afirmar que, com a alta estrondosa do dólar, seu filme hoje não seria viabilizado; “Ponte Aérea”, de Júlia Rezende, e “O Gorila”, de José Eduardo Belmonte, representado em Miami Beach pela protagonista do longa, Mariana Ximenes.
Os dias que passei em Miami Beach foram a constatação de que a roda da indústria cinematográfica do país gira em ritmo acelerado, apesar de toda a crise econômica no país. Tem gente lutando (e muito) para levar sua arte a um número sem fim de brasileiros com garra e enfrentando todos os tipos de adversidades com a cabeça erguida e a força de vontade. E viva o cinema brasileiro!
Artigos relacionados