*Por João Ker
Depois de passar por Minas Gerais e São Paulo, chega nesta quarta-feira (16/07) ao Rio de Janeiro a Mônica Parade, uma instalação aos moldes da CowParade (ou da Buddy Bear), mas que, ao invés daquelas vacas que chegaram à cidade em 2007, espalhadas pela urbe, espalha versões gigantes da famosa personagem dentuça concentradas na Praça Garota de Ipanema, no Arpoador. Para o lançamento, Maurício de Sousa e as filhas do ilustrador, as versões em carne e osso de Mônica e Magali, estiveram presentes na Confeitaria Colombo, no Forte de Copacabana nesta manhã, onde bateram um papo com HT e comemoraram o sucesso do projeto.
Aos 78 anos, Maurício conserva perspicácia, sabedoria e humildade pertinentes a alguém de seu calibre. Afinal, de acordo com informações divulgadas pelo próprio, seu gibis da Turma da Mônica são o terceiro mais comercializado do gênero no mundo inteiro, perdendo apenas para dois mangás asiáticos que, nas palavras do próprio, “ele ainda vai conseguir superar”. Sua paixão por crianças é visível e, até mesmo depois de duas horas respondendo jornalistas e autografando livros, ele não consegue negar uma foto aos seus fãs mirins, sempre com um sorriso no rosto.
O lançamento das 20 esculturas em tamanho real da Mônica Parade é uma forma de comemorar os recém-completados 50 anos da Turma da Mônica e do gibi que há décadas vem alfabetizando informalmente crianças no Brasil inteiro. Mesmo com tamanho sucesso, o primeiro quadrinista a ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras diz que não sabe exatamente a fórmula que o faz continuar sendo tão relevante por tantas gerações: “Há varias teorias, mas nem eu sei qual é a correta”, explica calmamente. “Eu acho que tudo parte do princípio de pai e mãe e de como eles passam isso para as crianças. Eu também conto com uma grade equipe, que me ajuda a manter a longevidade dos personagens antigos e sempre atualiza as histórias para que elas soem atuais. Eu até costumo pedir aos outros desenhistas da empresa para saírem e viverem experiências que a gente possa incorporar aos quadrinhos depois”, explica em tom bem humorado, referindo-se às mãos extras que o ajudam na Maurício de Sousa Produções, empresa responsável pelas centenas de produtos licenciados da marca, como camisetas, brinquedos e alimentos.
Atualmente, entre aquelas filhas que inspiraram as personagens, Mônica trabalha com o pai e Magali é ocasionalmente uma roteirista colaboradora. Por sinal, as duas apresentam na vida real uma química muito similar à mostrada nos quadrinhos, brincando e se divertindo durante toda a coletiva. Magali, diga-se de passagem, conserva a mesma energia positiva e alto astral da menina de vestido amarelo apaixonada por melancia, mesmo que comemore inacreditáveis 50 anos em 2014. De alguma forma, crescer sendo a fonte do sucesso e inspiração do pai não parece ter afetado as mulheres: “Nós não nos inspiramos nos personagens, nós somos eles”, explica Mônica. “Isso nunca foi algo que subiu à nossa cabeça porque estávamos acostumadas a ver o papai desenhando em casa, era algo natural”. Ela continua: “Eu, por exemplo, não gosto dos quadrinhos pela Mônica, meu personagem preferido é…” “a Magali!”, interrompe a própria, segurando a sua versão de pelúcia em miniatura. Mônica ri e continua: “É o Chico Bento. A Magali que é apaixonada por ela mesma”, brinca. “Mas ela é tão fofinha! Olha só!”, comenta a irmã, brincando com a sua boneca.
Longevidade é algo com que Maurício não precisa se preocupar nem tão cedo. Quando todos menos esperavam, o ilustrador conseguiu fazer uma reviravolta na sua galinha dos ovos de ouro, lançando uma versão adolescente, meio mangá, da Turma da Mônica. A empreitada foi um estouro em todos os sentidos. Primeiro, aconteceu a divisão de fãs: alguns acharam que os personagens haviam perdido a sua identidade, enquanto a grande maioria ficou maravilhada de poder acompanhar esse novo capítulo na vida deles. No final das contas, ver Cebolinha e Cascão de moicano com Mônica e Magali exibindo corpos esculturais de biquíni acabou sendo um tremendo sucesso comercial, atualmente o maior da franquia. Mas Maurício de Sousa explica que houve um certo receio quanto à ideia: “Eu não recebo apenas elogios pelas internet, tem bastante paulada”, comenta o desenhista, que é bastante ativo no Twitter. “Nem todos os fãs concordam com os desvios que eu dou às histórias, mas são sempre reclamações bem gentis, com palavras bem aveludadas, como “Você não podia ter feito isso com o fulano, como assim?!” e coisas do tipo”, ri.
“Eu não tinha dúvidas de que havia um nicho para esse tipo de narrativa. Esse é um mercado emergente e eu precisava acompanhar a garotada de alguma forma. Os personagens também precisavam acompanhar os leitores. Então eu transformei um pouco os traços do desenho e fiz algo mais similar ao mangá, mas que ainda fosse a Turma da Mônica original”, explica. Para que tal mudança pudesse ocorrer, Maurício precisou sair da editora Globo e ir para a Panini. Roberto Bezerra, diretor financeiro da atual distribuidora da Mônica, comenta: “Sempre tivemos o objetivo de conseguir alguém no mercado brasileiro com o peso do Maurício. Ele nos apresentou o plano de criar a versão teen dos quadrinhos e nós apostamos nisso. A editora antiga preferiu não arriscar, mas nós sempre gostamos de desafios e entendemos que tinha um público para essa iniciativa”.
Bom, desafio pela frente é o que não falta. Depois de Maurício ter realizado o sonho de milhares de fãs com o tão aguardado beijo entre Cebolinha e Mônica e de ter surpreendido a todos com “o filho do Chico Bento moço”, ele conta que há planos para expandir ainda mais o horizonte de seu universo. “Bem, a história dos jovens tem certos limites que não podem ser ultrapassado, é preciso achar outro espaço. Eu estou com planos de desenvolver uma história da Mônica adulta, conta o empresário ao HT em primeira mão. Serão quadrinhos, mas parecidos com novela mesmo”.
As conversas para este novíssimo projeto ainda estão nas fases iniciais, com o cartunista pedindo ajuda a atores da teledramaturgia para impulsionar a ideia. Mesmo assim, quando perguntado sobre o assunto, Roberto Bezerra comenta que ainda levaria um ou dois anos daria para o projeto ser lançado, mas não promete nada. De qualquer forma, a simples ideia de uma Turma da Mônica com 30 anos que se envolva em problemas de casamento, paternidade e carreira profissional é algo que soa quase bom demais para ser verdade.
Fotos: Zeca Santos
Artigos relacionados