* Por Fábio Bibancos
Não há maior saia justa do que avisar alguém sobre o mau hálito. Pode ser aquele seu amigo do peito ou para algum familiar, toques do tipo: “você está com mau hálito!” sempre soa indelicado. O pior é que na maioria dos casos, quem sofre com a halitose, não saberá se não for avisado.
Halitose, termo que os profissionais da saúde usam para denominar o mau hálito, não é uma doença, mas um sinal de que algo no seu organismo está em desequilíbrio. No geral, as pessoas colocam as doenças estomacais como a principal causadora do mau hálito, mas pesquisas* indicam que cerca de 4% da halitose é causada por problemas sistêmicos. Os outros 96% são causados por problemas bucais… e nós, dentistas, sempre soubemos disso!!!!
Falando rapidamente dos 4% sistêmicos; pacientes portadores de diabetes, problemas renais e hepáticos, distúrbios alimentares, bronquites e sinusites são os maiores causadores do mau hálito sistêmico e devem ser tratados por médicos dentro das suas especialidades. Mas para chegarmos nesses 4%, os outros 96 foram eliminados por um Cirurgião-Dentista. Então, se você sentir que o seu hálito está estranho ou se as pessoas te oferecem “balinhas” com uma certa frequência, procure o seu dentista.
Saburra lingual, alterações gengivais, dentes cariados, próteses mal adaptadas, cirurgias recentes, higienização deficiente, infecções na cavidade bucal, diminuição do fluxo salivar; toda e qualquer alteração na sua boca comprometerá o seu hálito. Como a saburra lingual e as doenças periodontais são as mais frequentes, vou falar um pouco mais sobre as duas.
Saburra lingual nada mais é do que placa bacteriana depositada na parte posterior da língua, formando assim uma camada branca ou marrom. A nossa língua possui papilas – como se fosse um tapete – onde acumulam alimentos e restos de células que descamam do epitélio lingual. Esses resíduos funcionam como meio de cultura para as bactérias que, quando fermentam, liberam substâncias ricas em enxofre, gerando a saburra. A diminuição do fluxo salivar colabora para esse processo contínuo de proliferação de bactérias, causando assim o mau hálito. Nesse caso, resolvemos o problema com uma vigorosa higienização bucal, sempre incluindo a língua. Por mais que cause enjoos, a correta higienização da língua é tão importante quanto à escovação dos dentes. Seja com a escova de dente ou com limpadores próprios para a língua, descubra com qual dos métodos você se adapta melhor.
Já nas alterações gengivais, englobamos as doenças como a gengivite e a periodontite em todos os seus estágios. O biofilme (placa bacteriana) e os cálculos (tártaros) são os maiores responsáveis por essas alterações gengivais. Um dentista especialista em periodontia (especialidade que cuida do tratamento das estruturas de suporte (ossos) e proteção (gengiva e mucosa) dos dentes), pode solucionar esse problema com algumas sessões de raspagem (limpeza), eliminando assim o agente causador do mau hálito. Mas de nada adianta o esforço do profissional se não houver a colaboração do paciente com uma correta higienização bucal diária, fazendo o uso do trio fio dental, pasta e escova.
No mais, não existe milagres no combate a halitose. Com a ajuda de um bom profissional e uma correta higienização bucal você ficará livre desse transtorno social, preservando não só a sua saúde, como também amizades e relacionamentos!
E adeus balinhas de hortelã, menta, canela e afins!!!!
Curiosidades:
– Existem em torno de 700 tipos de bactérias na sua boca, grande parte na língua. A quantidade é tamanha que durante um simples beijo podemos trocar algo como 80 milhões delas.
– Cerca do cinquenta por cento das bactérias da boca vivem na superfície da língua.
– Este músculo tem três mil papilas gustativas.
*Estudos de Seemann et al., 2006; Quirynen et al., 2009; Zurcher et al., 2012
*Fábio Bibancos é cirurgião-dentista especialista em Odontopediatria, Ortodontia e Mestre em Saúde Coletiva, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com consultório em São Paulo e no Rio de Janeiro, Fábio é autor de “Um sorriso feliz para seu filho” (CLA Editora), “A Guerra dos Mutans”, “Boca!” e “Sorrisos do Brasil”, além de já ter sido eleito Empreendedor Social 2006 pela Schwab Foundation (ligada ao Fórum Econômico Mundial de Davos) e integrante do Fellow Ashoka (uma rede de empreendedores sociais presente em 65 países). Além de assinar uma coluna semanal neste espaço, está à frente do projeto Turma do Bem, a maior rede de voluntariado especializado do mundo: o dentistas do bem.
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