Após críticas da comunidade LGBT, ouvimos a opinião de Rogéria, Jane Di Castro e Carol Marra sobre o clipe no qual Cauã Reymond interpreta uma travesti


Rogéria, que dispensa apresentações, aproveitou para questionar os mais criteriosos: “Qual a travesti de fato que tem o nome e o talento do Cauã? Na idade dele e com o talento dele não há. Eu não vejo ninguém que poderia ter feito melhor”

Como já contamos anteriormente aqui no HT, o ator Cauã Reymond pegou todo mundo de surpresa ao interpretar com primor uma travesti no clipe “Your Armies”, novo single da cantora Barbara Ohana, que tem assinatura na direção de ninguém menos que Allexia Galvão e Daniel Rezende (“Cidade de Deus”). O sucesso foi tanto que, em apenas 24 horas, o vídeo alcançou a impressionante marca de 500 mil visualizações no YouTube e se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Até aí, tudo bem. À medida que a notícia ia correndo o internet, e os elogios à música e à atuação do ator iam ganhando corpo, ao mesmo tempo, alguns integrantes da comunidade LGBT foram se manifestando desconfortáveis com o fato de que um homem, branco, hetero e cisgênero – pessoas cujo gênero é o mesmo que aquele designado a elas no nascimento – estivesse ocupando o espaço de um ator ou uma atriz trans. Encucados com a discussão, fomos atrás de quem mais entende do assunto para acabar de vez com a seguinte questão: a escolha de Cauã foi um erro para a produção musical?

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Cauã Reymond no clipe de Bárbara Ohana

Segundo a transformista, cantora e atriz Jane Di Castro o ator foi impecável em sua interpretação. “O clipe é maravilhoso! Cauã é um grande ator e como estamos acostumados a vê-lo atuando em papéis de homens brutos e viris foi fascinante. Ele se transformou em uma mulher até no seu olhar. Quando o ator é gay fica mais fácil, mas no caso dele, que é hétero, foi surpreendente. Ele representou muito bem a classe. A gente já queria ele vestido de homem, agora, queremos ele de mulher e nu”, avaliou ela aos risos, que ainda alfinetou as artistas das novas gerações.

Jane di Castro (Foto: Divulgação)

Jane di Castro (Foto: Divulgação)

“As pessoas que estão criticando precisam entrar em uma escola de teatro para aprender a representar. É muito difícil achar um transexual na idade e com o talento do Cauã para fazer esse tipo de papel. Ele tem experiência e fez muito bem. A maioria das travestis que vejo por aí está realmente mais interessadas na fama e no status do que na interpretação em si. Hoje elas querem ser famosas. Inclusive, uma vez eu fiz um filme que a personagem trans teve que ser feita por uma atriz mulher, a Michelle Batista, porque não houve uma trans jovem capaz de pegar o papel”, ponderou.

Leia também: Cauã Reymond interpreta travesti em novo clipe – bafônico – de Barbara Ohana, batizado “Your Armies”

Com 50 anos de carreira, Rogéria, que dispensa maiores apresentações, ficou impressionada com a sutileza e seriedade que o ator trouxe para a personagem Clara, que no vídeo é espancada por um homem (Julio Machado) com quem flertou em um show, e promete vingança. “Eu estou passada com esse menino. Porque quando você tem uma maquiadora ou uma cabeleireira de excelência, você pode se transformar em uma mulher, mas não foi o caso. Ele foi além do caricato e me ganhou no olhar. Se vestir de mulher é uma coisa, mas olhar como mulher, sendo um heterossexual é muito difícil. Ele teve muita sensibilidade. Quero parabenizá-lo, porque poucos atores conseguem aquele nível de interpretação. Estou maravilhada. Era o que estava faltando na carreira dele” comentou ela, que ainda questionou os mais críticos: “Qual a travesti de fato que tem o nome e o talento do Cauã? Na idade dele e com o talento dele não há. Eu não vejo ninguém que poderia ter feito melhor. Lógico, que sou a favor da comunidade LGBT, e a integro com o maior orgulho, mas ele foi escolhido porque conseguiu provar que é capaz de interpretar também uma mulher”, comentou.

Rogéria posa com seu prêmio Suzy Capó (Fotos: Divulgação)

Rogéria posa com seu prêmio Suzy Capó (Fotos: Divulgação)

Já a modelo, jornalista, atriz e mulher trans Carol Marra não só aprovou a atuação de Cauã Reymond, como lembrou que é preciso passar por cima de todos os rótulos para que possamos conquistar uma sociedade mias igualitária. “Ao meu ver o Cauã interpreta uma travesti belíssima e não uma transsexual. Como ele é um ator e estava ali para representar de forma digna essa classe eu não vi nenhum problema. Eu fico muito triste de ver que existem os esteriótipos e a obrigação, na cabeça de alguns, de um travesti interpretar um travesti e não lutar para que elas ganhem um espaço mais abrangente. Existem diversos atores homossexuais que fazem papel do galã, hétero e casado com a mocinha. Está na hora de a gente olhar mais para o talento das pessoas. A palavra que falta é: oportunidade”, comentou. “A comunidade LGBT é um saco, toda vez que você que você se segrega e forma um gueto você se exclui de um todo. A busca pela igualdade tem separado cada vez mais as pessoas”, ponderou.

Carol Marra (Foto: Divulgação)

Carol Marra (Foto: Divulgação)

Voltando ao clipe, de peruca loura, maquiagem e muito sex appeal, Cauã impressiona em cenas fortes e com a segurança com a qual encara mais esse desafio em sua carreira. Em entrevista ao Jornal o Globo, ele contou: “Tentei transmitir delicadeza, porque é um assunto muito importante. Espero que a gente realmente consiga passar uma mensagem dessa luta contra a intolerância, porque infelizmente esse clipe está saindo num momento muito oportuno, o que só reforça a mensagem. As pessoas precisam aprender a respeitar as diferenças, independentemente da orientação sexual, religiosa, política. Precisamos respeitar o espaço alheio”, disse. Mais cedo, o ator usou o seu Facebook para pedir mais compaixão. “Mais amor, menos intolerância. Sempre”, postou ele. Procurado, Cauã se manifestou via sua assessoria de imprensa. “Acho que todas as pessoas têm o direito de manifestar suas opiniões”, finalizou.