“A força de quem faz”: Minas Trend 2015 celebra o handmade e agentes da indústria com desfile magnífico inspirado no Japão


Em um simbolismo ou paralelo entre o estado brasileiro e o país asiático que sabe como mesclar a sofisticação e inovação com tradição e história, a passarela de Inverno 2016 é repleta de referências, com direção assinada por Paulo Martinez. Enquanto isso, o evento celebra a cadeia produtiva da moda e reforça um dos principais cartões de visita do Brasil no exterior

Com o tema “A força de quem faz”, a 17ª edição do Minas Trend deu início à maratona de moda brasileira para a temporada de Outono/Inverno 2016, com uma festa e apresentação conjunta de marcas no Expominas, em Belo Horizonte, na noite de ontem. Na ocasião, um desfile dirigido por Paulo Martinez teve a tarefa de levar ao público presente as principais tendências da próxima estação, antes de as apresentações das marcas começarem, entre hoje e amanhã, girando a roda da economia criativa mineira e, consequentemente, nacional.

Além de dar em primeira mão tudo aquilo que estará em voga na próxima temporada, o Minas Trend, projeto promovido pela FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, ainda tem como objetivo representar um das maiores plataformas de negócio em todo o país, com uma feira que contempla atacado, varejo e toda a cadeia de distribuição da indústria fashion. No ano em que o Brasil passa por uma de suas crises financeiras mais graves, o tema escolhido foi uma forma de elevar e prestar uma homenagem a quem arregaça as mangas, independente de ter ou não o holofote em volta.

Em Belo Horizonte, o Exposminas se torna palco para a 17ª edição do Minas Trend Preview, que apresenta as coleções para o Inverno 2016 (Foto: Agência Fotosite)

Em Belo Horizonte, o Expominas se torna palco para a 17ª edição do Minas Trend, que apresenta as coleções para o Inverno 2016 (Foto: Agência Fotosite)

Ao longo dos quatro dias de evento, uma feira de negócios será montada no Expominas, mesmo local escolhido para a realização dos desfiles de um line-up que inclui as grifes Vivaz, Lucas Magalhães, Faven, Fabiana Milazzo, Anne Est Folle, Lino Villaventura, Plural, Llas e Mabel Magalhães.

“Essa ‘força de quem faz’ nos lembrou muito a do Japão, que está constantemente se refazendo. Por isso, o desfile teve tantos tons de brancos, salpicados aqui e ali por um vermelho. Resolvemos unir, na passarela, os contrastes desse país que mescla o tecnológico com o analógico, o passado com futuro, novo com velho etc.”, explicou Paulo Martinez, que trabalhou no projeto com Roberta Marzolla e Pedro Lázaro.

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Para ele, os novos tempos pedem uma reestruturação da maneira como se pensa e como se faz moda, algo que, por sinal, não deveria estar restrito apenas à época de crise. “Precisamos tirar leite de pedra e nos reinventarmos, o tempo todo. Após a Segunda Guerra Mundial, a moda deu uma reviravolta completa, e acho que é nessas horas em que precisamos ter esse tipo de mentalidade. Precisamos mudar sempre, até nas épocas de vacas gordas, porque, caso contrário você cai em uma mesma fórmula e aí acabou”. Sua colaboradora, Roberta Marzolla, acrescentou: “Sempre falamos que não pode haver medo de ousar. De sair do lugar comum, porque é muito fácil fazer tudo certinho com a noção de que todos irão gostar. Às vezes, você pode errar e causar uma impressão falsa, mas pelo menos deu a cara a tapa”.

Na passarela, a ousadia de Paulo e sua equipe transpareceu em looks que começavam com o total white e, aos poucos, iam apresentando toques de um vermelho rebelde, como se uma força inimaginável estivesse prestes a emergir das modelos. Referências à cultura japonesa, de tranças e cabelos lisos a símbolos de sua cultura como o kabuki. Vestidos diáfanos, quase flutuantes por si só, abriam espaço para estruturas sólidas e silhuetas firmes, enquanto o coral Cantos de Minas, de Belo Horizonte, entoava, ao fundo, músicas como “Mad World”, gravada por Gary Jules.

O branco chegou tomando conta da passarela, de forma quase virginal ou angelical, à medida que plumas, ombros estruturados entravam, acompanhados por tecidos sobrepostos e, nos pés, versões repaginadas do geta, o famoso tamanco japonês. O vermelho, referência à bandeira do país, começou a aparecer timidamente, ora em um vestido colado ao corpo e sensual até o último fio, usado com maestria por Daiane Conterato, que soube como manusear a cauda longa, e ora em looks mais românticos, com a cintura bem marcada e a saia ampla.

As inspirações mais claras e literais começaram a pipocar pela passarela, como os rostos pintados fazendo alusão ao kabuki, forma de teatro japonês; ou os fones de ouvido combinados com mochila, que fazem menção à conectividade e apego tecnológico dos japoneses; e até uma saia rodada e padronizada, presa por uma faixa preta, combinada com luvas e rede sobre o rosto da mesma cor, lembrava a sobriedade dos samurais. Tudo isso com uma pegada claramente brasileira, que torna a inspiração na cultura nipônica como uma forma de repensar a nossa aldeia global do mundo de hoje e sua constante troca de informações.

O artesanal da moda mineira não poderia ficar de fora e, claro, não decepcionou, com bordados e aplicações delicadas, que eclodiram no penúltimo look: um vestido feito totalmente de uma renda branca e delicada, com flores aplicadas na gola, zíper à mostra e que revelava por baixo do pano uma hot pant.

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Parte fundamental da composição desse imaginário veio através da beleza precisa assinada por Ricardo dos Anjos, que soube como investir em criatividade e, mais ainda, trazendo as referências japonesas de uma forma leve e única. “Sempre tento pensar junto com o Paulo. Ele comentou que a inspiração era o Japão, então começamos a sugar tudo aquilo que o país tinha para nos oferecer, do comportamento à tecnologia. Cabelo liso, muito comprido, cabeças feita de cabelo, caras pintadas, uma boca vermelha (como referência ao sol da bandeira) e tudo o que dava para gerar brincadeira”, explicou o make-up artist.

Ricardo ainda comentou com HT como é importante dar valor à frase-tema da edição de 2015 do Minas Trend, “A força de quem faz”. “Essa declaração vai muito além da moda, pode estar em qualquer lugar na situação atual do nosso país. Essa é a força de quem se junta para fazer a diferença, contra o sistema atual, contra a forma arcaica de trabalhar. Se você está quebrando a cabeça e tentando vender seu produto, ao mesmo tempo em que é engolido pela indústria, junte-se e faça diferente. O brasileiro tem, culturalmente, o pensamento de  que ‘não vai dar certo’, porque muitos tentam e não conseguem. Mas é preciso pensar mais positivo e sair do achismo”, avaliou.

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Lilian Pacce, com seus muitos anos de carreira jornalística, elogiou a produção mineira e seu diferencial, tão importante na hora de um melhor posicionamento à nível nacional. “Minas Gerais possui um cuidado com a qualidade que faz as marcas daqui se sobressaírem. Desde cedo, elas entenderam culturalmente que é importante prezar pela qualidade. Aqui, ninguém faz um bordado qualquer ou escolhe um tecido qualquer. Para a moda festa, isso se torna algo ainda mais especial, o que reflete de uma forma muito rica no handmade, se transformando em algo importante para a moda do Brasil e do mundo. Aqui, os profissionais já conseguiram transformar o artesanal em algo sofisticado”.

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Quem também fez uma ode à qualidade e à singularidade da moda artesanal mineira foi Gloria Kalil: “Uma das contribuição da moda de Minas Gerais é entrar com essa expertise do artesanato que existe aqui, o que favoreceu muito as roupas de festa com os bordados, malharia e tricô, transformando-se em um polo com um imenso atrativo. Esse é um filão que é necessário”, comentou. E, sobre o tema “A força de quem faz”, Gloria foi categórica e fez voz às queixas de inúmeros varejistas e estilistas. “A moda se tornou muito glamourizada. Todas querem ser estilistas por imaginarem que essa é uma vida de privilégios, mas isso é o que o Brasil menos precisa! Faltam modelistas, costureiras, administradores e toda uma infraestrutura na área, que está cada vez mais precária”, apontou.

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Em uma época onde as máquinas ocupam um papel mais presente do que nunca, o trabalho humano e coletivo imprime valor inestimável para qualquer indústria. Na moda mineira, essa faceta do artesanal e do feito à mão se mostra em sua mais pura forma de excelência, através de uma formação histórica e cultural que foi gerando algumas das melhores costureiras, ourives e joalheiras do país, em ofícios passados de geração a geração. E ai de quem achar que o feito handmade mineiro é exclusivo do high-fashion: no Expominas, as convidadas super produzidas exibiam seus vestidos repletos de bordados e aplicações de pedrarias, enquanto o tema “A força de quem faz” era levado de forma literal aos presentes, através de profissionais que costuravam e aplicavam pedrarias a vestidos ao vivo, em meio às taças de champanhe que passavam entre as mãos dos convidados.