*por Vítor Antunes
“Foi nos bailes da vida e num bar em troca de pão, que muita gente boa pôs o pé na profissão“. Assim Milton Nascimento cantava em uma de suas mais famosas músicas, “Nos Bailes da Vida“. Yris Sampaio, a Elaine de “Terra e Paixão“, viveu algo semelhante. Até conseguir sua personagem fixa na trama de Walcyr Carrasco, a atista cortou um dobrado: “Já vendi docinho em curso, panfletei pelas ruas, lavei banheiro para fazer curso de interpretação sem precisar pagar… Passei por inúmeros desafios. Não é fácil ser artista”, aponta. Além do folhetim das 21h, Yris estará vivendo uma experiência incomum. Poderá estar no ar em dois projetos inéditos e em duas emissoras diferentes. Prevista para ir ao ar até o meado de janeiro de 2024, a trama de Walcyr Carasco talvez coincida com a estreia de “Estranho Amor“, série da HBO/Record, cuja data de estreia ainda não foi fechada, mas cogita-se que aconteça ou em janeiro ou em fevereiro do ano vindouro. Para a artista, sua personagem, Daiane, “é o ponto de luz da série. Uma mulher dona de si, casada com um marido muito ciumento, que desconfia muito dela. Ela é o personagem solar da série, é leve, já que os outros são bem densos”. “Estranho Amor” fala sobre casos reais de feminicídio e os debaterá em seus capítulos. A série é escrita por Ingrid Zavarezzi.
Em se tratando da agenda da defesa da mulher, perguntamos à Yris como ela vê o atual debate sobre feminisimo na sociedade. Se as discussões sobre assédio e violência, por exemplo, são discutidas com profundidade ou obedecem a um modismo. “Está havendo, sim, um debate sobre feminismo, sobre assédio, sobre violência contra mulher, e ele tem acontecido cada vez mais na mídia, e na sociedade mesmo”.
Ainda que esse assunto esteja em pauta, ele é tratado de uma forma muito superficial, sem aprofundamento. Isso é algo que deveria ser levado muito a sério – Yris Sampaio
NOVOS OLHARES
A Elaine de “Terra e Paixão” é o primeiro papel fixo de Yris Sampaio em uma novela da Globo, e, especialmente, às 21h. A sua personagem é uma vendedora da loja de Graça (Agatha Moreira). Via de regra, as mulheres trabalham o dobro dos homens e recebem menos. E sua jornada doméstica costuma ser invisibilizada – tanto que foi este o tema da redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), na última semana. Para Yris, essas diferenças salariais são frutos de “um machismo estrutural muito grande. Isso reflete a vida social como um todo, nos salários inclusive. É um problema cultural de muitos e muitos anos. Não creio que esta mudança vá acontecer do dia pra noite, mas acho que estamos no caminho pra reduzir essas diferenças”.
Ultimamente, nas redes sociais, muito se falou sobre a distinção entre ser feminina e feminista. Peguntamos à atriz se ela estabelece alguma diferença entre esses conceitos e se essas ideias são opostas ou complementares. Para ela “O feminismo e ser feminina – dentro de um estereótipo que tambem vale o questionamento – não são opostos ou complementares. O feminismo traz o poder de escolha da mulher ser o que quiser. Então, ela escolhe se quer ser feminina ou não. Assim, como também traz o poder de escolher qualquer aspecto em sua vida, partindo do ponto que faz ou não sentido pra ela”.
As falas sobre as questões femininas justificam-se também por outra razão. Ainda que “Terra e Paixão” tenha discutido a questão da violência contra a mulher, Yris também estará em “Estranho Amor“, série da HBO/Record que abordará o assunto. “‘Estranho amor‘ fala sobre casos reais de feminicídio no Brasil. São cenas pesadas e muito importantes para alertar a todos nós. Inclsuive, a violência à mulher não se limita somente a agressão física, mas a danos psicológicos, emocionais e financeiros como revelados na novela “Terra e Paixão“. Nas duas situações, esse assunto de extrema importância está sendo abordado no horário nobre”, frisa. No projeto da Record, com previsão de estreia para o início do ano que vem, haverá casos reais de feminicídio no Brasil. Um produto ousado, frente ao que a Record tem apresentado nos últimos anos, nos quais dedicou-se aos produtos segmentados ao público evangélico.
A atriz ressalta uma das queixas que são mais comuns entre os profissionais de arte, que é a incerteza da profissão. “Uma hora se está com trabalho, outra não. Viver nessa dúvida é, inequivocamente, uma questão pra mim”. Curiosamente, “Terra e Paixão” não contaria com a atriz, pois que ela fez teste… para “Fuzuê”. Depois de ver o teste de Yris para a trama das 19h, o produtor de elenco Fábio Zambrone, que é de “Terra e Paixão”, acabou chamando-a para fazer a personagem. “Sou eternamente grata a ele”, diz.
Lidar com a projeção que um folhetim de horário nobre implica, para Yris é “uma realização muito grande. Estou em uma fase muito feliz da minha carreira. O elenco, direção, produção da novela são incrivelmente maravilhosos e somos muito unidos. Estamos dando nosso melhor pra entregar algo legal para o público. Fora isso estou amando contracenar com grandes nomes da teledramaturgia, como Gloria Pires, Tony Ramos, Claudia Raia, que fez uma participação especial… Descobri uma afinidade muito grande com a Tatá Werneck, que acho uma gênia em todos os aspectos”.
Certa da fé que a levou à TV, ela diz que ainda quer chegar mais longe: “Cuido da minha energia e mentalizo sempre onde quero chegar. A gente faz nossa parte e é preciso ter confiança e paciência que as coisas acontecem”. E a quem tem a emoção como ferramenta de trabalho, Yris diz, além da arte, o que mais a emociona. “Estar em momentos com a minha mãe e minha família e poder proporcionar memórias boas e tempo de qualidade. Isso me acarreta sentimentos inacreditáveis. Sou muito grata por viver da arte e poder ter esse contato diário com tantas emoções”, finaliza.
Créditos:
Samantha Szczerb, stylist
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