*Por Brunna Condini
Da jovem apresentadora carismática dos anos 80 e 90, Xuxa Meneghel conserva o mesmo ímpeto e personalidade. Mas, aos 58 anos, a maturidade e a coragem de ser exatamente o que se é tomaram a frente. Quem é essa mulher hoje e o que ela quer da vida? “É uma mulher com pouco colágeno e muitas dores nas costas, seguindo o fluxo normal da minha idade, mas também uma mulher com muitas coisas ainda pra viver profissionalmente e afetivamente. O que eu quero da vida? Saúde, ser amada pelo Ju (o cantor Junno), ver minha filha feliz, aprender diariamente algo novo e fazer trabalhos que me deem muito prazer”.
Eternizada no imaginário infantil através do Xou da Xuxa, vespertino diário exibido na TV Globo de 1986 a 1992, que nesta quarta-feira (30) completa 35 anos, Xuxa fala com exclusividade ao site HT sobre a atração que atraiu fãs de vários países e a consagrou como rainha do entretenimento infantil. A apresentadora também conversa sobre posicionamento político, influência do bem nas redes e sonhos. Sim! Apesar de todo sucesso e reconhecimento, Xuxa ainda deseja com o mesmo entusiasmo o que está por vir.
Até que combinou, mas é verdade: Xuxa tem verdadeiro xodó pelo Xou. E faz questão de exaltar a importância do programa que se se tornou um marco na TV e na sua vida. “Foi um divisor mesmo. Eu tinha acabado de sair da Rede Manchete (onde começou apresentando o Clube da Criança), e fui convidada para entrar na Globo, onde as portas, as janelas, um mundo de pessoas se abriram na minha frente. Comecei brincando com as crianças das 8h às 10h, depois fui até o meio-dia e cheguei a ficar no ar com programas de domingo a domingo. Então, o Xou da Xuxa fez a minha história. Sempre digo que tive a grande oportunidade da Globo acreditar em mim, do meu público me aceitar e de poder fazer com que o ‘Xou’ chegasse a tantos lugares, em diversos idiomas, em espanhol, inglês, francês, japonês. Aproveitei e aprendi muito com essa oportunidade. É tão bom até hoje eu receber esse carinho, curtir e ver os frutos disso, como as pessoas dizendo que cresceram comigo, que esperavam diariamente o meu ‘bom dia’, que acreditam nos sonhos por causa de mim. É emocionante ver que até hoje o Xou da Xuxa é importante para mim e para muita gente”.
A atração foi mesmo um fenômeno, tanto que teve versão na Argentina, o El Show de Xuxa (1991-1993), sendo exibida em mais de 26 países, além de uma versão americana gravada nos estúdios da CBS Television. O formato também foi bastante copiado no Brasil. Desta época, Xuxa leva além da vasta bagagem profissional, gente na sua equipe até hoje como a ex-paquita Tatiana Maranhão, sua assessora de comunicação, e o segurança Magno; e também muitas lembranças, incluindo situações inusitadas. “Recordo sempre as histórias com a nave, todo mundo queria ‘passear’ nela. Lembro que algumas crianças subiam comigo na nave e perguntavam se eu podia deixá-las em casa. Isso era muito fofo (risos). Teve uma menina em especial, que perguntou se eu podia parar em Nova Iguaçu (risos). Isso me marcou muito, era bonitinho demais. Muitos achavam que aquele tampo (o teto do Teatro Fênix, no Jardim Botânico) abria e a nave realmente saia”, relembra a apresentadora. “Teve uma vez também, que uma criança chegou ao sítio onde eu morava e perguntou aonde estava a nave. Eles acreditavam que eu a estacionava em casa, que era ela que me levava para o trabalho (risos). Então, sem dúvida, a nave é uma história à parte no Xou da Xuxa”.
Xuxa cidadã
Ela promete novidades para 2022 e já foi divulgado que decidiu celebrar seu aniversário de 59 anos em um cruzeiro temático, o Navio da Xuxa. Além disso, tem o documentário sobre sua história em parceria com o Globoplay, e também uma série de ficção do Disney+. Na TV ou nas redes, o fato é que Xuxa não se distanciou do seu público e do que acontece no mundo em nenhum momento. Na verdade, a apresentadora está cada vez mais atenta ao que acontece no país.
De uns anos para cá você vem se posicionando sobre assuntos políticos, sociais, temas que muitos ainda têm como tabu. E já declarou, que “se você não se posiciona, concorda com o que está errado”. Como vê a defesa pela neutralidade de muitos artistas até super queridos do público? “Antigamente a gente podia dizer ok, eu te respeito e te entendo, mas no meio desse caos, onde milhões de pessoas sofrem por um desgoverno, não podemos e não devemos nos calar. Temos obrigação de falar e quem é artista deve isso ao seu público. Depois não adianta chorar ou reclamar, é o momento de todos fazerem algo pelo futuro e pelo presente”.
Você também falou recentemente: “Hoje eu falo sobre política, falo sobre polêmicas, ninguém fala para mim o que eu posso ou não posso falar. Eu não respeito mais a pessoa que não dê sua opinião, que não dê sua cara a tapa”. Quais foram os momentos em que você mais se arrependeu de não ter se posicionado? “Eu seguia o que quem trabalhava para mim falava. Simplesmente aceitava, fazia porque acreditava que estava fazendo o que era certo. Me arrependo de não ter sido eu há mais tempo, mas essas pessoas não têm culpa, eu tenho, pois eu aceitava”, contata Xuxa. E também comenta abertamente sobre o apoio à campanha pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro: “Não sou petista, não tenho partido e não concordo com nada que esse presidente homofóbico, machista, preconceituoso fala e faz, simples assim”.
Faria campanha política para algum candidato em que acreditasse para desbancar ou o Bolsonaro ou alguém similar a ele? “Não, pois políticos falam uma coisa hoje e conforme seus interesses mudam amanhã e eu não acho isso legal”. Mas tem alguém hoje que admire no cenário político? “Tem, mas como disse, são pessoas e podem vir a me decepcionar, por isso não quero falar sobre quem eu admiro hoje, pois amanhã é outro dia”.
Xuxa também faz questão de exaltar o mês do orgulho LGBTQIA+, celebrado neste junho que se finda. Você é mais que uma simpatizante da causa, é engajada e já até lançou livro para crianças com o tema. O que as pessoas precisam entender, de uma vez por todas, sobre não julgar as escolhas dos outros? “Este livro fala de amor, nunca imaginei que amor seria classificado. O amor entre duas pessoas é amor e ponto. Não importa gênero. As pessoas precisam se respeitar e utilizar na prática essa palavrinha mágica: respeitar a condição de cada um, suas escolhas, sua vida, seus desejos… Nada nem ninguém têm o direito de julgar em nome de Deus, de desrespeitar e menos ainda de criticar e se meter. R e s p e i t o é bom e necessário”.
As preocupações com o coletivo seguem guiando as ações da apresentadora, que garante que na vida pessoal vai tudo muito bem, obrigada. “Sonho ver minha filha realizada, feliz, sendo amada pelo João (Figueiredo, cantos gospel e marido de Sasha), ver meus netos correndo para me abraçar e viver ainda muitas coisas que não vivi ao lado do meu Ju”, confessa. Ela é bem nova, mas já fala de filhos? Porque você já fala bastante que deseja ser avó…”Ela não fala, quem fala sou eu, pois amo criança e iria amar ter uns netinhos ou netinhas andando atrás da vovó. Sei que tudo tem seu tempo, mas quero deixar claro que o meu tempo é sempre hoje”.
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