*por Luísa Giraldo
A atriz Raissa Chaddad tornou Bia uma das personagens mais emblemáticas do remake de “Chiquititas”, que completa dez anos em 2023. Os episódios atraem a atenção do público a ponto de alçar a novela ao top 10 mais assistidos do Brasil na Netflix. A personagem conquistou o coração dos jovens noveleiros pelos posicionamentos e atitudes controversas, voltadas para uma postura de enfrentamento e irritabilidade. Ao assumir papéis mais complexos, a artista não mede esforços para se colocar como uma atriz mais madura e preparada para outros desafios no audiovisual brasileiro. Ao site, Raissa aproveita a oportunidade para refletir sobre a proeminência da novela, a possibilidade de cancelamento hoje de comportamentos e falas de alguns personagens e a carreira que está projetando como profissional jovem-adulta no cinema nacional. Atualmente, ela está no longa-metragem “União Estável”, no qual interpreta a personagem Bela. O filme atingiu o top 3 mais assistidos da Netflix. Também atua na série “As Seguidoras“, da Amazon Prime Video.
A artista abre o coração sobre uma possível má recepção da novela, produzida pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), por parte da Geração Z se produzida neste ano. “Acredito que muitas cenas seriam canceladas hoje porque, anteriormente, a gente levava muito na brincadeira. Nós éramos crianças e não tínhamos a noção de que as palavras poderiam agredir tanto outras pessoas. Hoje em dia, temos dimensão do poder das palavras. Acho que nós olharíamos com outros olhos, mas sem perder a energia de estarmos brincando”, pontuai.
Acostumada com os feedbacks dos fãs nas redes, Raissa disse adorar os memes e recortes de cenas de humor que se tornam virais sobre a personagem.
Hoje em dia, temos dimensão do poder das palavras. Acho que nós olharíamos com outros olhos, mas sem perder a energia de estarmos brincando — Raissa Chaddad.
“Às vezes, aparecem cenas na minha For You, que eu geralmente não lembro, e eu falo: ‘meu Deus do céu! Não acredito que isso aconteceu’ ou ‘como a minha personagem falou isso em cena?’. Costumo achar icônico porque eu levava as gravações com muita leveza quando era criança. Acho maravilhoso quando esses tipos de cenas aparecem para mim ou para alguém da minha família”, revela.
Reflexiva sobre a condição da personagem no orfanato, a atriz afirma entender as motivações da chiquitita. Afinal, “a Bia se sentia rejeitada e abandonada porque sabia que tinha um pai e um tio” que não quiseram cuidar dela, um dos elementos que poderiam explicar sua “personalidade forte”. Ela levantou ainda a seguinte questão: será que a menina havia sido bem-recebida quando chegou ao Orfanato Raio de Luz? Questionamentos como esse nunca foram solucionados na novela.
“Defendo a Bia e o temperamento dela. Assim como ela, tive uma fase estressada durante a pré-adolescência. Confesso que sou uma pessoa bem estressada com as coisas até hoje. Fico pensando que, apesar dessa personalidade forte, a Bia tinha um ‘coração com buraquinhos’ que ela tenta colocar vários band-aids e passar uma imagem de não ligar para nada, já que foi abandonada”, declara, ao fazer referência a uma das músicas do remake, “Coração Com Buraquinhos“, cantada pela atriz Carol Chamberlain, intérprete de Dani.
Raissa não deixa de lembrar os espectadores que o comportamento da personagem muda aos poucos. Ao longo da novela, Bia rompe com a imagem de “impenetrável” e se coloca como uma menina sensível e passa a se permitir a vivência dos afetos. A atriz aponta o crescimento da personagem em uma das cenas finais, em que a personagem afirma que só sairá do orfanato com a companhia da amiga Ana, interpretada por Giulia Garcia.
Projeção a partir da novela
Atenta à projeção que seu trabalho no meio artístico recebeu após “Chiquititas“, Raíssa relembra que já havia participado de uma série de comerciais e curta-metragens. A experiência de interpretar a chiquitita fez com que a carreira dela “virasse de ponta cabeça”, ao torná-la uma pessoa pública e fazer com que o público tivesse acesso e curiosidade às vidas pessoal e profissional.
“Desde que saí de ‘Chiquititas’ e entrei no mundo digital, as pessoas puderam conhecer mais do que a Bia: o lado da atriz Raissa Chaddad. A minha vida mudou no sentido do público não conhecer e reconhecer apenas a minha personagem, como uma menina bravinha que gosta de mandar em todo mundo e se diverte com as confusões, mas a mim. Conhecendo a Bia mais a fundo, entendemos que ela é meiga, apesar de ser estressada, como todo ser humano”.
Segundo a artista, ainda são constantes os reconhecimentos pela performance na novela por parte do público. Mesmo após uma década da exibição do remake, Raíssa recebe centenas de mensagens dos fãs agradecendo pela possibilidade de identificação com a personagem e elogios saudosos a ela.
A intérprete de Bia admite não estar mais na vibe da personagem.
Conheço famílias que chegam nos meus perfis nas redes sociais ou pessoalmente e falam ‘Raíssa, não aguento mais! Os meus filhos já assistiram cinco, sete vezes à novela’. Quando escuto isso, costumo dizer que também não aguento mais. Sendo sincera, já não sei como as crianças aguentam porque eu assisti uma vez e até tentei assistir uma segunda [mas não consegui]. Acho que reviver é bom, mas relembrar tem limites, né? — Raissa Chaddad.
Por outro lado, Raíssa frisa que não se incomoda com a associação constante da imagem dela à personagem por parte do público mais jovem. Ela ressalta, inclusive, os sentimentos de gratidão e reconhecimento por um projeto que tanto ama. Para a atriz, não há como ela reclamar que ‘não aguenta mais falar sobre a Bia, já que tem momentos em que as pessoas só falam da personagem’, pois a oportunidade de interpretá-la abriu portas no audiovisual.
“O que prevalece é o sentimento de gratidão por ter sido a primeira novela que eu fiz. Hoje, muitas pessoas sabem quem é a Raíssa Chaddad por causa da Bia e de ‘Chiquititas‘. Mais que isso: acho lindo o sentimento das pessoas poderem se reconhecer na Bia porque significa que eu fiz um bom trabalho de convencer o público que eu tinha o mesmo jeito e personalidade dela. Então, podem passar 20, 30 anos e as pessoas sempre vão lembrar da Bia e da novela porque elas marcaram muitas gerações”.
Em contraponto, Raissa entende que a sua personagem é um retrato mais verídico de crianças que foram abandonadas e deixadas em orfanatos.
Não gosto de colocar a minha personagem em um patamar acima, mas acredito que ela retrata muito mais a realidade de pessoas que vivem em lugares como esse. Porque o Orfanato Raio de Luz é sempre maravilhoso e tem funcionários maravilhosos como o Chico, a Ernestina e a tia Carol. A Bia retrata o que acontece nos orfanatos: não é todo mundo 100% feliz, existem brigas e confusões e nem sempre há as brincadeiras e paciência. A Bia foi construída nesse lugar da realidade — Raissa Chaddad
Mudanças da atriz Raissa Chaddad
Durante a entrevista, Raissa compartilhou um duplo desejo na carreira: de migrar para estilos de filmes infantis para jovem-adultos e que o público acompanhe essa jornada de amadurecimento do trabalho dela. O longa-metragem que marca a mudança na carreira da atriz é “União Estável”, em que participou como a personagem Bela. Lançado no final de novembro, o filme atingiu o top 3 mais assistidos da Netflix na semana de estreia.
Em formato de um comédia romântica, a trama se aprofunda na história de amor e nos desafios para a realização da cerimônia de casamento de Eva e Alex, interpretados respectivamente pelos atores Dan Ferreira e Dandara Mariana.
“O meu novo filme, “União Estável”, tem uma temática jovem-adulta. A minha personagem é a Bela, a amiga da noiva que passa por várias aventuras no momento de casar. No filme, acontece um turbilhão de coisas que dificultam o casamento e o papel das amigas Eva é dar todo o suporte para ela e lembrá-la de aproveitar o momento apesar das dificuldades”, explica a atriz de 21 anos.
Influenciadora digital
Ao lado das atrizes Maria Bopp e Gabz, Raissa Chaddad participou da série “As Seguidoras”, lançada no ano passado pelo serviço de streaming Amazon Prime Video. A temática do filme trata de assuntos que a artista domina, como a influência das redes sociais e os influencers. O thriller acompanha a obsessão da influenciadora Liv, interpretada por Maria, por ganhar seguidores até o ponto em que ela se transforma em uma serial killer.
A artista dá vida à jovem Nanda, também influenciadora, que “tem um discurso para o público na internet e, pessoalmente, age de forma totalmente contrária”. Atualmente, Raissa é uma criadora de conteúdo de sucesso nas plataformas digitais e tem cerca de oito milhões de seguidores no Instagram.
Raissa reflete sobre as lições que tirou a partir do papel. “Acredito que a gente tem sempre que dizer a verdade e o que condiz com o nosso ideal como pessoa. Entendo que os influenciadores devem falar sobre coisas que fazem sentido para a vida deles e não apenas para ganhar dinheiro com as publicidades. Quero estar sempre conectada com o meu público e desejo que ele consiga enxergar algo em mim que possa inspirar as pessoas de verdade. Esse pensamento condiz com quem sou de verdade, mas tem várias pessoas que eu vejo e conheço que são exatamente como a minha personagem”.
Artigos relacionados