“The Maze Runner – Correr ou Morrer” é sonho de garota liberal: ficar presa num experimento com escoteiros em ponto de bala!


O sci-fi junta um grupo de pretensos pitboys numa aventura onde é preciso escolher entre ir à luta ou ficar sob as asas protetoras da mamãe, caso contrário o bicho literalmente pega!

Um belo dia, Thomas (Dylan O’Brien) acorda sem memória alguma e subindo em um elevador subterrâneo, a caminho uma clareira cercada por um labirinto gigante que se refaz a cada momento, impossibilitando quem está nesse miolo de sair para o mundo exterior. Na companhia de outros rapazes que chegaram lá primeiro, ele vai tentar desesperadamente sair daquela prisão. Essa é a premissa de “Maze Runner –  Correr ou Morrer” (The Maze Runner, de Wes Ball, 20th Century Fox, 2014), ficção científica de mistério que estreia nesta quinta-feira (18/8) nos cinemas, baseada no livro homônimo de James Dashner.

Naturalmente, trata-se de uma analogia com a vida real esse misterioso experimento em que cerca de trinca e poucos jovens do sexo masculino são atirados à revelia em uma clareira onde, caso se mantiverem por lá, tem casa, comida e roupa lavada (sim, suprimentos sobem inexplicavelmente pelo tal elevador todo mês, e o resto eles mesmos dão cabo de produzir) e, se optarem por se aventurar pelo tal labirinto, podem dar com os burros n’água, já que o mesmo é repleto de violentas criaturas que estraçalham quem se depara com elas, sem que ninguém sobreviva para contar a história. Ganha um doce quem comparar a tal clareira como o porto seguro da adolescência, o tal quarto na casa dos pais com todas as benesses da vida fornecidas pelos genitores, sem que seja preciso amadurecer, mas recebendo tudo de mão beijada. E que o inexpugnável complexo de corredores e saídas representa a vida adulta, com toda a miríade de possibilidades que se tem quando se sai de baixo das asas da mamãe, em existência plena de ameaças, mas munida pelo sabor de poder realizar suas próprias escolhas, acertadas ou não.

É óbvio que um filme desse calibre poderia explorar de forma muito mais complexa essa simbologia, não fosse o objetivo dos produtores se manter na superfície, apenas arranhando o conceito sem nunca ir fundo nele. O objetivo aqui é apenas garantir ao público uma diversão descartável, sem nenhum aprofundamento de ideias, a fim de faturar a bilheteria. Pena, porque o conceito poderia render mais. Assim, outros experimentos pavlovianos ou behavioristas já deram as caras em sci-fis muito mais contundentes, como “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange, de Stanley Kubrick, Warner Bros e outro, 1971). Mas, apesar da falta de nata interpretativa no queijo do elenco, a plateia até fica curiosa em saber do que se trata, ainda que o desenvolvimento arrastado do roteiro não ajude muito.

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Uma profusão de arquétipos é desfiada pelos personagens, essa tropa de galãzinhos que, pela faixa etária em que se encontram, estão em ponto de bala: o destemido que prefere se arriscar na balada do que se acomodar na vidinha segura, o garanhão pitboy que exala testosterona e resolve tudo na pancadaria, aquele que quer liderar a gangue, o mais experiente que prefere esconder suas vivências ao invés de partilhá-las, o inseguro, o introspectivo que tem bom coração, mas é prudente e até o gordinho gente boa que é café-com-leite na hora de participar da brincadeira, além de um punhado de maria-vai-com-as-outras. Nada de novo no front.

Encabeçando o time de jovens atores, o novaiorquino Dylan O’Brien sai da telinha direto para a telona, sendo mais conhecido dos adolescentes pelo seu papel na série do Sony Spin “Teen Wolf, onde interpreta Stiles, braço direito do mocinho (o bonitão Tyler Posey). Em “Maze Runner”, ele tem a oportunidade de mostrar ao grande público que tem tanto physique du rôle e sex appeal suficientes para segurar um blockbuster tanto quanto seu colega da TV, ainda que o longa não lhe proporcione mais possibilidade de atuação do que permitiria a uma nêspera. Ainda assim, ele está à frente de um elenco que traz outros rostinhos conhecidos do público teen que compareceram primeiro nas fichas técnicas quando ainda eram fedelhos, como Thomas Brodie-Sangster (“Nanny McPhee  a Babá Encantada”, “A Última Legião”, “O Garoto de Liverpool”, “Game of Thrones”) e Will Poulter (“As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada”).

A fila anda e Hollywood não brinca em serviço, precisando constantemente renovar a fornada de candidatos a roubar o coração das menininhas, dar pinta nos red carpets patrocinados por grifes internacionais, alimentar fofocas e comparecer nas capas de publicações teen, atualizando a indústria do showbizz e adicionando sangue novo ao espetáculo. Felizmente a sempre boa Patricia Clarkson (“Os Intocáveis”, “A Grande Ilusão”, “Vicky Cristina Barcelona”) empresta sua experiência de quase trinta anos dedicados à Sétima Arte para dar alguma consistência a esse grupo de escoteiros, ainda que na reta final.

Trailer oficial (Divulgação)