Foca neste nome: Ramille, de ‘Família é Tudo’ e ‘Encantado’s’ exalta origens e celebra o protagonismo negro na TV


Atriz, cantora e dançarina, ela que também está na série ‘Encantado’s’ do Globoplay, nos conta quem é a artista por trás da personagem Andrômedra, uma das protagonistas da trama das sete da Globo. Aos 26 anos, Ramille nascida e criada no Irajá, onde mora até hoje com a família, avalia a importância desta base em seu caminho até aqui, e diz: “Os espaços vem se abrindo para nós até tarde. Mas estamos no caminho de naturalizar isso, afinal somos a maioria da população que precisa se ver na dramaturgia. A gente precisa se olhar, se projetar. O Brasil é plural, o Brasil é preto”

*Por Brunna Condini

Desde que ‘Família é Tudo‘ estreou, o espectador da novela vem se perguntando quem são muitos dos rostos novos do folhetim. Um dele é o de Ramille, a Andrômedra da nova das sete da Globo. A carioca de Irajá, 26 anos, filha de um ex-estivador e uma funcionária de escritório, dá vida a uma personagem que sonha ser uma popstar. “Eu comecei minha carreira na música também achei que seria só cantora”, conta a atriz, que aos 15 foi finalista do ‘Got Talent Brasil‘, na Record. “Sonho alto como a Andrômedra. O que mudou na vida é que as pessoas agora estão me reconhecendo na rua, pedem foto. Ainda fico envergonhada e surpresa das pessoas saberem quem sou (risos), mas estou curtindo bastante”.

Ela também pode ser vista como Melissa, em seu primeiro papel no audiovisual na série ‘Encantado’s’, do Globoplay. “Faço a primeira e a segunda temporadas, e vamos gravar a terceira. Emendo logo depois da novela”, anuncia. E reflete:

O protagonismo negro na TV e os espaços vem se abrindo para nós até tarde. Mas estamos no caminho de naturalizar isso, afinal somos a maioria da população que precisa se ver na dramaturgia. A gente precisa se olhar, se projetar, para enxergar o quanto somos f#d@. O Brasil é plural, o Brasil é preto – Ramille

Para Ramille, tal qual sublinha a trama de Daniel Ortiz, família é realmente tudo. E exalta o fortalecimento vindo de suas origens. “Sou nascida e criada em Irajá, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, moro lá até hoje. Meu pai, Adailton, era estivador, minha mãe, Vânia, trabalhava em um escritório. Hoje os dois são aposentados. Tenho uma irmã, Djamila, que é advogada. Venho de uma família simples, suburbana, que sempre acreditou no meu potencial”, conta.

Em sua estreia em novelas, Ramille exalta raízes, celebra o protagonismo negro no folhetim e se permite sonhar (Foto: divulgação/Globo)

Em sua estreia em novelas, Ramille exalta raízes, celebra o protagonismo negro no folhetim e se permite sonhar (Foto: Divulgação/Globo)

“Se não fosse por eles, eu não estaria aqui, porque as oportunidades não batem à porta todo dia, principalmente para mulheres negras. Desde criança meus pais me incentivaram, me colocaram em cursos, aulas. Porque além de querer seguir essa carreira, é muito importante ter uma família que te apoie. Tenho esse alicerce forte. Somos muito simples, unidos, doidos (risos). A gente vive bem e só quer o que é nosso. Sempre vivemos assim, fui ensinada assim. E isso me fez determinada, batalhadora do que almejo na vida”.

Ramille com os irmãos da ficção em 'Família é Tudo': Vênus (Nathalia Dill), Júpiter (Thiago Martins), Electra (Juliana Paiva) e Plutão (Isacque Lopes) - (Foto: Divulgação/Globo)

Ramille com os irmãos da ficção em ‘Família é Tudo’: Vênus (Nathalia Dill), Júpiter (Thiago Martins), Electra (Juliana Paiva) e Plutão (Isacque Lopes) – (Foto: Divulgação/Globo)

Atriz

“Quis ser artista desde pequena. Em um primeiro momento fui cantora, mas sempre estive envolvida com a arte. Fui passista de escola de samba (Salgueiro), fiz street dance e fui atleta quando era mais nova. Cursei teatro no Tablado, mas fiquei um tempo só por conta da música, cantei em bandas, até que veio a oportunidade de fazer um espetáculo internacional (‘Ginga Tropical’) que contava a história do Brasil através da música e da dança e morei na China por três meses. Quando voltei, a pandemia veio. Foi neste momento que me reconectei com a minha atriz”, recorda Ramille, que também é formada em Publicidade.

“Lembro que antes da pandemia, eu já tinha o desejo de voltar a estudar atuação, retomar. Então, quando voltei ao Brasil fui fazer um curso de verão na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) e senti naquele momento, e em toda a preparação que fui fazendo depois, que eu queria isso para o resto da vida. Aí as oportunidades vieram, os testes e cá estou eu. Feliz, querendo aproveitar tudo e ir em frente”.

Ramille estreou no audiovisual como Melissa em 'Encantado's' (Foto: Divulgação/Globo)

Ramille estreou no audiovisual como Melissa em ‘Encantado’s’ (Foto: Divulgação/Globo)

Minha personagem é um patricinha que sonha ser uma cantora famosa, só que é péssima, canta mal, tadinha…mas é super alto astral. Me inspirei nas personagens do filme ‘As Patricinhas de Beverly Hills’, o que é quase uma utopia aqui no Brasil, já que não vemos muitos negros nessa posição de elite na TV…estou experimentado, curtindo muito – Ramille

Entre as referências da artista na carreira, estão as norte-americanas Zendaya e Viola Davis. “E aqui, a Taís Araújo, que cresci vendo na TV. Quando assistia a Taís, acreditava que era possível para mim estar ali. Aí, são tantas inspirações. Tem a Neusa Borges, que contracena comigo em ‘Encantado’s. Também amo o trabalho da Adriana Esteves, da Leticia Colin e da Sophie Charlotte“.

Andrômeda

Em ‘Família é Tudo’, Andrômeda é uma das netas de Frida (Arlete Salles) e terá que superar a diferença com os irmãos, Vênus (Nathalia Dill), Júpiter (Thiago Martins), Electra (Juliana Paiva) e Plutão (Isacque Lopes) – para ter acesso à herança da avó. “Na verdade, não fiz teste para a protagonista, a Andrômeda veio de presente. Fui testada para fazer a Nicole (Aisha Moura), que seria a namorada de Plutão. De namorada dele, virei irmã e uma das protagonistas. Foi uma surpresa muito feliz. Eu minha família vibramos muito”.

"Me inspirei nas personagens do filme 'As Patricinhas de Beverly Hills', o que é quase uma utopia, já que não vemos muitos negros nessa posição de elite na TV." (Foto: Divulgação/Globo)

“Me inspirei nas personagens do filme ‘As Patricinhas de Beverly Hills’, o que é quase uma utopia, já que não vemos muitos negros nessa posição de elite na TV.” (Foto: Divulgação/Globo)

A novela

Mesmo tendo chegado no horário das sete com a ‘missão’ de elevar os índices do horário, a divulgação de que ‘Família é Tudo’ precisa ser muito mais forte. Tempo há para mudar o jogo, vamos aguardar os desdobramentos, já que a obra é aberta e viva. Será que o folhetim ainda pode conseguir abraçar criativamente e afetivamente o público que anseia por entretenimento nestas bases? Tomara, porque o elenco é de peso, com muitos novos e promissores talentos. Não se fazem mais novelas como antigamente? Não, que bom, porque reinventar-se é preciso, é o fluxo. Só não é prudente esquecer que é principalmente pela emoção que se pega o telespectador. Forma, estética e afins, vem no combo. A gente quer se ver nos folhetins, quer sonhar, se misturar, se desligar. A mágica precisa acontecer. Que aconteça!