*Por Thaissa Barzellai
A frase ‘nunca é tarde para começar’ faz todo sentido para a atriz Daniela Escobar. Afastada da teledramaturgia global desde 2013, quando atuou em ‘A Flor do Caribe’, a atriz direcionou todo o seu foco para os seus estudos na área de saúde. Aos 53 anos, Daniela teve a experiência de viver novamente o seu primeiro dia de aula na Harvard University, em Massachusetts, onde mora desde 2005. ‘’Estou finalizando dois cursos de medicina preventiva. Em um deles estudo prevenção baseada na medicina ayurveda e o outro na nutrição. Recentemente, comecei mais um curso sobre os efeitos do aquecimento global na nossa saúde. Meus projetos do momento são todos ligados à área da saúde’’, comenta.
Embora não esteja tão atuante nas telinhas brasileiras, o trabalho de Escobar como atriz está longe de ser algo do passado. Mesmo depois de 20 anos, ‘O Clone’, que deu a Daniela um dos maiores papéis da sua carreira, a complexa Maysa, segue sendo um dos maiores sucessos da televisão brasileira, já tendo sido exibido em mais de 100 países. As constantes reprises só reiteram essa afirmação. ‘’As abordagens nunca pararam, desde a primeira exibição. Mesmo aqui nos Estados Unidos, onde a trama foi exibida e reprisada quatro vezes já. Os mexicanos, brasileiros e russos são os que mais se manifestam. Amam a novela e a minha Maysa. As manifestações dos russos são impressionantes. A novela passa na Rússia, sem parar, esses vinte anos!’’, conta a atriz que diariamente recebe comentários e imagens de acervo dos fãs clubes, principalmente os russos, nas redes sociais.
São esses canais criados por fãs que, além de manterem o legado da novela vivo, permitem que a atriz reveja o seu trabalho, reprisado novamente no ‘Vale a Pena Ver De Novo’, e relembre a trajetória da personagem que, na época, deu o que falar por conta das relações conturbadas com a filha Mel e o marido Lucas. Agora, com mais calma, a atriz está tendo a oportunidade não apenas de olhar para o passado como também de descobrir cenas que havia gravado e nem lembrava. Isso porque durante a gravação a atriz precisou conciliar a criação do seu filho, na época com três anos, com a agenda insana de filmagem. ‘’O que tem acontecido bastante é eu me surpreender com certas cenas, por eu absolutamente não lembrar de sequer as ter feito. Foi um volume de trabalho grande e muitas cenas é como se eu as estivesse assistindo pela primeira vez, como espectadora mesmo’’, afirma a atriz que não deixa a autocrítica de lado. ‘’Sempre penso que poderia ter feito de um outro jeito, que poderia ter afinado melhor.’’
Na trama dirigida por Jayme Monjardim, com quem a atriz foi casada entre 1995 e 2003 e teve um filho, André Matarazzo, Daniela Escobar viveu Maysa, uma mulher vaidosa, egocêntrica e refinada. Na pele da socialite, a atriz tem uma turbulenta relação com a filha Mel (Débora Falabella), a ponto de levar a jovem a encontrar refúgio no vício das drogas, e com o marido Lucas (Murilo Benício) por não saber lidar com os conflitos pessoais dele, principalmente a paixão dele por Jade (Giovanna Antonelli). Em um casamento sem amor, Maysa se sente constantemente humilhada pela paixão que o marido nutre por outra mulher, sem qualquer cerimônia, e transforma a sua frustração em luxo, ceifando todo patrimônio do marido em artigos de grife, como jóias e vestidos. ‘’Com o Lucas é uma relação baseada em mentiras do início ao fim. Lucas a engana e ela se permite enganar. Recria e alimenta suas próprias ilusões. Tudo em nome das aparências. Uma perda de tempo e de vida de dar pena’’, completa.
Sem saber lidar com a individualidade da filha, a vilã faz de tudo para dominar a vida dela, impedindo-a, inclusive, de se envolver com o segurança da família, um homem de uma classe social inferior. ‘’Com a filha ela vive uma relação de passar adiante o que se esperava dela como mãe. O educar é de acordo com as expectativas da sociedade e, principalmente, das aparências. Maysa não enxerga a filha de verdade, o que gera, numa menina que já não tinha muita autoestima, os pesados e traumáticos conflitos que são mostrados ao longo da trama’’, relembra. Dentro desse universo que caminha entre a tradição e a modernidade criado pela novela, o tema da dependência química escancarou um problema que não deixa de ser contemporâneo e ainda não tem a devida atenção.
Na época, a campanha contra as drogas criada pela novela foi muito bem repercutida, tendo sido elogiado, inclusive, por nomes da política brasileira, como FHC e Simon. Trabalhos acadêmicos, análises e artigos utilizando a narrativa como objeto de estudo nas áreas de comunicação e cultura são recorrentes. Para incursionar nesse universo soturno, a atriz participou de uma série de encontros com dependentes químicos. ‘’Tivemos um workshop longo com uma série de palestras com dependentes químicos, alguns já estavam livres do vício, e seus familiares nos contando as consequências na relação familiar. O quanto famílias inteiras são destruídas em função da maldita droga’’, relata.
Apesar da realidade austera vivida por Maysa e sua família, Daniela só leva memórias inesquecíveis com ela. Em cena, Escobar teve a oportunidade de trocar com grandes ídolos da nossa teledramaturgia e da infância da atriz. ‘’A minha relação com a maioria do elenco era ótima. Dividir a cena com Juca de Oliveira, Nívea Maria, Reginaldo Faria, Neusa Borges, Vera Fischer, Osmar Prado e Beth Goulart, entre outros, era um prazer enorme para mim. Lembranças boas que carrego para a vida toda’’, diz.
Sem qualquer desejo de deixar as terras americanas, a atriz Daniela Escobar, antes de consolidar a sua mudança, já havia ido para o país estudar teatro e quando retornou de vez decidiu investir nos estudos de cinema e roteiro em Los Angeles. Na indústria americana, a atriz teve a oportunidade de explorar a área da dublagem, onde trabalhou como dubladora de quatro novelas latinas que são transmitidas nos Estados Unidos. Com as lembranças dos trabalhos feitos no Brasil no coração – e nas redes sociais -, Daniela Escobar segue a sua trajetória acadêmica, que, pelo visto, não tem hora para acabar.
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