Angélica 50: em entrevista exclusiva, ela fala de recomeços, revela desejo de podcast e de atuar como atriz

*Por Brunna Condini

Há quase 50 anos, em Santo André, cidade do interior de São Paulo nascia Angélica. Filha da dona de casa Angelina Ksyvicks e do metalúrgico Francisco Ksyvicks, desde cedo já se previa que a apresentadora havia nascido para brilhar, tanto que começou a aparecer no meio artístico com apenas quatro anos, no extinto Cassino do Chacrinha, em um concurso para eleger a criança mais bonita do Brasil. Levou, claro. Muita história de lá para cá, muitos aprendizados. E é isso que ela compartilha com o público neste domingo (26), há quatro dias do seu aniversário, em 30 de novembro, quando revisita o caminho que a trouxe até aqui através da série ‘Angélica: 50 e Tanto‘, uma produção Globoplay. “Está muito emocionante”, avisa.

Acho que reflete bem minha personalidade, de sempre optar pela felicidade, mesmo nos momentos mais difíceis. Não é uma positividade tóxica, é um modo de ver a vida. Isso e a ternura me seguram, porque são naturais em mim. Acredito que o amor é o grande lance, é minha arma – Angélica

Nesta entrevista exclusiva, Angélica também revela, em primeira mão, o que podemos esperar da sua versão 5.0 no campo profissional. “Pode vir ano que vem um podcast. Estou muito ligada na necessidade de falar, ouvir, nessa troca. Tenho escutado muita coisa boa e é maravilhoso acompanhar histórias que te nutrem. Quero ampliar essa conversa com as mulheres”, anuncia. “Também gostaria de fazer alguma coisa como atriz, mas precisaria ser um bom roteiro. As pessoas me pedem nesse lugar e gostaria de voltar a experimentar”, completa a apresentadora, que demonstra interesse genuíno na troca, tanto, que só este bate-papo, daria uma edição especial de matérias com ela. Com a palavra, Angélica:

Estou com uma sensação de recomeço, o quê, de que forma, não sei. Mas é essa a busca. É uma fase maravilhosa. Na série, além de trocar experiências com outras mulheres, evidenciamos como nós, mulheres 50+ somos potentes. Tirando essa coisa etarista, limitada. A vida é boa, temos muito pela frente – Angélica

Angélica fala da chegada dos 50, faz balanço do caminho e aponta o futuro (Foto: Alex Santanna)

A loura continua falando da idade que chega, do passado, do presente e apontando o futuro. “Faço 50 me sentindo viva, ativa. As pessoas têm a ideia, muito por conta de um preconceito com a idade, que envelhecer é uma sentença para ir parando, falhando. Estava assistindo umas entrevistas minhas antigas por conta desta série, quando achei uma em que perguntavam como eu me via aos 50. E respondi: “Ah, até lá já devo estar aposentada”. Como eu era muito nova, via a idade muito longe, não tinha noção de como passa rápido. Achei engraçado, porque é o oposto”.

Me sinto cheia de energia, até mais do que quando fiz 40, que estava tudo mais bagunçado. Vejo por mim e por outras mulheres que tenho conversado. Nos 40 estamos naquela fase em que os filhos começam a crescer, começamos a rever o profissional, o casamento começa a dar um ‘croc croc’…é um momento de muitos questionamentos – Angélica

Segundo Angélica, “a menopausa vai chegando, os hormônios, é um período de vulnerabilidade. De 50 em diante, a sensação é de recomeço, de voltar a fazer planos. Já com muito mais segurança, autoconhecimento, e também, claro, com uma noção de finitude. Você vê os pais envelhecerem, isso causa uma angústia, os filhos se formando, então tem consciência que dali por diante vão seguir suas vidas. Vai sentindo essas ‘perdas’ e isso traz a urgência de viver cada momento mais do que nunca. A maturidade dá mais noção da vida, de saboreá-la, sem o atropelo da juventude. Estou achando que os 50 vão ser bem legais”.

E frisa:

Dos 40 aos 50, você vai para baixo. E a sensação que tenho, é que cata isso tudo, para dos 50 em diante, já ter muita coisa resolvida na cabeça, se conhecendo pra caramba. Já viu o ‘fundo do poço’ se tiver que ver, então pisa na mola e vai recomeçar, porque a vida não permite inércia, é movimento – Angélica

No combo reinvenção, teve a saída da Globo após 24 anos. “Na verdade, rompi meu contrato com a emissora em 2019. Não anunciamos na época, então as pessoas só souberam bem depois. Eles não tinham projeto para mim e eu também não me encaixava no que chegava. Daí começamos a fazer por projeto. O ‘Simples Assim‘ já foi neste modelo. Depois continuei na busca do que eu realmente gostaria de dizer, fazer. Esse mergulho em mim não aconteceu porque escolhi, mas porque fiquei doente, comecei a ter as crises de pânico”, lembra.

“A vida não permite inércia, é movimento” (Foto: Reprodução/ Instagram)

“Fazer o ‘Angélica: 50 & Tanto’, foi terapêutico para mim, tive que revisitar muita coisa. Tenho uma história intensa de trabalho ao longo da vida. Não pensava muito sobre nada, só fazia. Até que por conta das crises de pânico que tive depois do acidente (em 2015 Angélica, família e duas funcionárias sobreviveram a um pouso forçado de uma avião de pequeno porte), comecei a não conseguir fazer coisas que antes eram naturais para mim, então tive que encontrar saídas. Sempre fui uma pessoa de muita fé, mas fui buscar o holístico, o mais espiritualizado, a meditação. Veio a pandemia e mergulhei mais em autoconhecimento. E com as minhas questões todas, claro”. Sobre o tema, a apresentadora pontua:

Não é fácil depois de 24 anos na televisão você tomar uma decisão dessas, agora vou sair, fazer outra coisa. É sofrido de qualquer forma, é visceral, você está acostumado à uma rotina e quebra isso. Mas eu estava querendo muito esse momento meu, de saber qual era o meu papel no mundo, essa busca estava me fazendo muito bem, e o contrário, não. Eu estava adoecendo nessa rotina automática – Angélica

“Fazer o ‘Angélica: 50 & Tanto’, foi meio como uma sessão de terapia para mim, tive que revisitar muita coisa” (Foto: Reprodução/ Instagram)

Reforçando que o amadurecimento trouxe tranquilidade e segurança para sua vida, a apresentadora, em plena reinvenção nos últimos anos, diz ter ciência que essa não é a realidade de muitas mulheres. Segundo especialistas, uma pessoa de 50 está no ápice da sua inteligência emocional, sabedoria, capacidades, no entanto é exatamente neste momento que o mercado de trabalho costuma rejeitá-la.

“Sei que essa autonomia profissional que tenho é privilégio. Poder trabalhar, atuar no que faz sentido, faz bem para cabeça. Sei que o tema saúde mental ficou elitizado, mas vivemos uma pandemia nesta área também hoje, as pessoas estão adoecendo. Acho que esse é o grande desafio para a maioria das pessoas, encaixar a saúde mental, de forma prática, na rotina. Como colocar isso para todo mundo? Tentamos propor um pouco isso no Mina Bem-Estar, mas sabemos que é algo profundo, é um país muito desigual. Só que se tornou um propósito na minha vida levar essa mensagem da importância da saúde mental, porque é o caminho para conseguirmos viver melhor”.

“Se tornou um propósito na minha vida, levar essa mensagem da importância da saúde mental, porque é o caminho para viver melhor” (Foto: Reprodução/Instagram)

O outro lado

Angélica trabalha na TV desde os 12 anos e cresceu diante do público. Perseguindo o equilíbrio em tudo, ela avalia o outro lado da moeda da dedicação intensa à profissão ao longo da vida. “Não tenho arrependimentos porque essa é a minha história. Se eu não tivesse começado tão cedo, não estaria agora dando essa entrevista. Mas sim, ter começado tão cedo deixa algumas sequelas, tem que forçar um pouco demais, porque eu era muito jovem para algumas responsabilidades, emocionalmente mesmo. Claro que isso é muito. Por isso sempre fiz análise e estou bem, mas sei que nem todo mundo que tem esse tipo de história fica bem. Faria as mesmas escolhas se pudesse voltar no tempo, mas tenho noção que perdi coisas na infância e adolescência que não voltam. É uma vida muito pública, muito intensa, muito exposta, desde sempre. Não dá pra romantizar tudo, foi pesado muitas vezes. Só que acredito que era pra ser assim. São as dores e as delícias de sermos quem somos”.

Quando falam que você está bem para sua idade, isso vem de um lugar machista, patriarcal. Posso estar bem em qualquer idade. Para o homem a conversa é diferente. Muitas mulheres introjetam esse machismo enraizado, reproduzem isso em seus discursos. É preciso mudar essa mentalidade – Angélica

É uma vida muito pública, muito intensa, muito exposta, desde muito cedo. Não dá pra romantizar tudo. Mas era pra ser assim” (Foto: Reprodução/Instagram)

Homenagens

No último domingo (19), no quadro Linha do Tempo do ‘Domingão com Huck‘, ela foi homenageada pelos filhos Joaquim, 18, Benício,16, e Eva. A filha de 11 anos levou a loura às lágrimas quando se apresentou cantando a música tema da Fada Bela, personagem que Angélica viveu, na extinta novela ‘Caça-Talentos‘ (1996-1998).  “Fiquei muito chocada. Eu nem sabia que ela cantava! (risos). Eva adora dançar, faz jazz, sapateado, desde pequena. Mas fiquei muito impressionada com sua apresentação”. Nasce uma estrela? “Conversamos muito sobre essa coisa artística em casa. Ela sempre teve uma inclinação, mas acho que tem uma influência muito grande minha, do pai (Luciano Huck), então quero que saiba separar o que é a sua verdade, do que o mundo está apresentando de atrativo. Incentivamos as coisas que a Eva quer fazer, mas sempre com um pezinho no freio, para que vá crescendo, se desenvolvendo e encontre seu caminho. A história da Eva é dela, não minha e do pai dela. Ela ama esse universo, mas a vida é muito dinâmica”. E conta: “Eva diz que deseja ser artista da Broadway, quer cantar e dançar. Então no ‘Domingão’, ela deve ter se sentido na Broadway”.

Angélica e Eva: “Fiquei chocada com a homenagem dela” (Foto: Reprodução/Instagram)

Um filme da vida

Os cinco episódios de ‘Angélica: 50 & Tanto’, chegam em 26 de novembro ao Globoplay e, no dia 30, no GNT, com apresentações semanais. Durante cinco domingos, a partir do dia 26, o ‘Fantástico‘ também exibirá uma versão reduzida de cada episódio do programa. Angélica abre as portas de sua casa e recebe personalidades para conversas que recapitulam momentos marcantes da sua vida e carreira. “Está lindo. Um dos  episódios mais emocionantes para mim foi o ‘Vida’, porque toda vez que eu falo do acidente, mexe comigo. E também porque estou com a Preta Gil, a Susana Vieira e a Barbara Paz, e todas elas, como eu, tiveram uma relação vida X morte. Terminamos fazendo uma oração na capela aqui em casa. Foi o primeiro e mais comovente”, conta ela, que a cada episódio mergulha em um tema diferente ligado a uma década da sua história em conversas íntimas também com Xuxa, Anitta, Eliana, Sandy, Ivete Sangalo, Fernanda Souza, Paolla Oliveira, Marina Ruy Barbosa, Maisa, Carolina Dieckmann, Giovanna Ewbank e Paula Lavigne, que também relembram situações em que tiveram vivências similares.   

Angélica e Susana Vieira no primeiro episódio de ‘Angélica: 50 & Tanto’ (Divulgação)

Pós mergulho em sua trajetória, ela faz um balanço: “Venho me preparando para essa maturidade que chega. No futuro quero continuar tendo essa voz ativa com as pessoas que me acompanham, com saúde para isso, física e mental. Estou lendo mais, me dedicando mais ao meu corpo não físico também. Quero o meu lado espiritual fortalecido, para quando estiver mais velha e as dores começarem. É inevitável uma hora a ‘máquina’ começar a dar defeitinhos, então quero estar com a cabeça boa para lidar com isso. Me vejo lá na frente uma velhinha divertida, legal. Uma vez um guru me disse: “Angélica, quando a gente envelhece, ou enlouquece ou adoece”. E faz tempo que já escolhi enlouquecer um pouco (risos). Vou ser uma avó muito maluquinha. E um pouco bruxa. Adoro um retiro, um incenso. Meus filhos olham e dizem: “Mãe, você está ficando meio bruxa”. Nós mulheres, temos um pouco de bruxas, de muita intuição, essa ligação com a natureza, mas soterramos isso pelo sistema. Eu quero deixar esse lado cada vez mais aflorar”.

Marina Ruy Barbosa, Angélica, Paolla Oliveira e Anitta na série ‘Angélica: 50 & Tanto’ (Foto: Alex Santanna)