*Por Jeff Lessa
O cineasta cearense Karim Aïnouz volta às telas em grande estilo com “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, cinco anos depois de “Praia do Futuro”, estrelado por Wagner Moura e Jesuíta Barbosa em 2014. Adaptado livremente do romance homônimo de Martha Batalha, o filme concorre na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes, a mesma em que o diretor estreou seu primeiro longa, o premiado “Madame Satã”, em 2002. Sétimo longa-metragem de Aïnouz, “A Vida Invisível…” fez sua estreia mundial na Croisette nesta segunda-feira, dia 20.
Na trama, as irmãs Guida (Julia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte) sentem enorme afeto uma pela outra e são inseparáveis. A caçula Eurídice é pianista prodígio, enquanto a romântica Guida sonha em se casar e construir uma família. Com 18 anos, Guida foge de casa com o namorado. Seis meses depois, ao retornar grávida e sozinha, o pai, um português conservador, a expulsa de casa. Separadas para sempre, Guida e Eurídice passam suas vidas tentando se reencontrar.
Os papéis principais couberam a duas jovens estreantes no cinema. Carol Duarte, conhecida por seu trabalho na TV aberta, e Julia Stockler, consagrada no teatro, foram escolhidas em um teste com mais de 300 candidatas. O elenco traz ainda Fernanda Montenegro (atriz convidada), Gregorio Duvivier, Bárbara Santos, Flavio Bauraqui e Maria Manoella. O diretor elogia o elenco, que chama de “maravilhoso”, e revela qual foi seu maior desafio: “Eles são todos muito diferentes, de diferentes gerações, diferentes registros de atuação. O desafio foi alcançar o mesmo tom, a mesma vibração”.
Aïnouz define a história como “um melodrama tropical”, porque a abordagem mistura preceitos clássicos do gênero com um olhar que busca se adaptar a uma contemporaneidade brasileira: “Eu sempre quis fazer um melodrama que pudesse ser relevante para os nossos tempos. Como poderia me engajar com o gênero e ainda torná-lo contemporâneo? Como eu poderia criar um filme que fosse emocionante como uma grande ópera, em cores florescentes e saturadas, maior que a vida? Eu me lembrava de Janete Clair e das novelas lá do início. Eu queria fazer um melodrama tropical filmado no Rio de Janeiro, uma cidade entre a urbe e a floresta”.
O produtor Rodrigo Teixeira fez a ponte entre o cineasta e a história de Martha Batalha. “Quando li o livro, pensei muito no Karim, tanto pela narrativa ter relação com a história pessoal de vida dele, especificamente com o momento que ele estava vivendo naquela época, e também porque o universo me remetia muito a dois filmes dele: ‘O Céu de Suely’ e ‘Seams’, o primeiro de sua carreira, ambos projetos que falam de mulheres fortes, que lutam para sobreviver na nossa sociedade”, explica. “Fazia tempo que estávamos buscando uma grande história para voltarmos a trabalhar juntos, então enviei o manuscrito e ele topou na hora”.
Para Aïnouz, a história veio de encontro a um antigo desejo seu: dar voz a mulheres de uma época em que a opressão era a palavra de ordem: “As histórias dessas personagens não foram contadas o suficiente, seja em romances, livros de história ou no cinema”.
Com roteiro assinado por Murilo Hauser em colaboração com Inés Bortagaray e o próprio diretor, o longa foi rodado nos bairros da Tijuca, Santa Teresa, Estácio e São Cristóvão, no Rio de Janeiro. A direção de fotografia é da francesa Hélène Louvart, que assina seu primeiro longa brasileiro e acumula trabalhos importantes na carreira, como os filmes “Pina”, de Wim Wenders; “The Smell of Us”, de Larry Clark; “As Praias de Agnès”, de Agnès Varda; e “Lázaro Feliz”, de Alice Rohwacher, entre outros. A alemã Heike Parplies, responsável pela edição do longa-metragem “Toni Erdmann”, de Maren Ade, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, assina a montagem.
“A Vida Invisível de Eurídice Gusmão” é uma coprodução entre Brasil (Sony Pictures e Canal Brasil) e Alemanha (Pola Pandora). A empresa alemã The Match Factory é responsável pelas vendas internacionais.
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